sexta-feira, 29 de novembro de 2019



Não se sabe, ao certo, quando o Senhor Jesus nasceu. Mas sabemos que não foi em 25 de dezembro. Na Palestina, nessa época do ano, o forte frio seria um obstáculo à iniciativa imperial de realizar um alistamento (Lc 2.1-3). Isso é reforçado pelo fato de os pastores estarem no campo na noite de Natal (v.8).

A data de 25 de dezembro tem origem pagã e é rejeitada por muitos especialistas em história e cronologia bíblicas. Até o século III, o nascimento de Jesus era comemorado no fim de maio, no Egito e na Palestina. Em outros lugares, era celebrado no começo de janeiro ou no fim de março. O imperador Aureliano estabeleceu, em 275, a comemoração obrigatória do Natalis Invicti Solis (Nascimento do Sol Vitorioso) em 25 de dezembro. E, a partir de 336, o romanismo, fazendo uma unificação sincrética de várias festas religiosas, adotou essa data oficialmente para a comemoração do nascimento de Jesus.

Como seguidores de Cristo, não somos deste mundo (Jo 17.16), mas vivemos nele. E, por isso, temos de conviver, a cada ano, com dois Natais: o verdadeiro, pelo qual celebramos o nascimento do Senhor Jesus Cristo (não apenas nessa época do ano, evidentemente); e o secular, capitalista, sincrético, comemorado em uma data pagã, no qual o Aniversariante torna-se um mero coadjuvante. Como devemos nos comportar diante da realidade desses dois Natais?

Penso que devemos aproveitar esse período do ano para apresentar Jesus Cristo ao mundo. E podemos fazer isso por meio de cantatas ao ar livre e nos centros comerciais, cultos e mensagens especiais, evangelísticas, nos templos, publicação de textos alusivos ao nascimento de Cristo, etc. Além disso, devemos aproveitar o lado bom do Natal secular (cf. 1 Ts 5.21). Afinal, que mal existe em as famílias cristãs — que conhecem o verdadeiro sentido do Natal — aproveitarem as coisas boas da festa secular do Natal, como a confraternização, a troca de presentes e a beleza das cidades enfeitadas?

Deve o cristão residente em (ou em viagem a) São Paulo, Rio de Janeiro, Penedo, Natal, Fortaleza, Curitiba, Gramado e Canela, Buenos Aires, Paris, Nova York, por exemplo, ficar em casa ou no hotel, em sinal de protesto ao Natal secular? Não pode ele aproveitar esse período do ano para passear com a família e tirar fotos nos lugares enfeitados? E mais: há algum problema em colocar presentes debaixo de uma árvore colorida e enfeitada, a fim de abri-los à meia-noite do dia 25 de dezembro?

É claro que há celebrações e celebrações. Algumas nós devemos ignorar sumariamente, como o Carnaval. Mas de outras podemos participar, com prudência e vigilância. Citei o Carnaval como exemplo negativo porque essa festa é completamente mundana, bem como está atrelada à imoralidade e, objetivamente, ligada aos cultos afro-brasileiros.

Quanto ao Natal, convém ser extremista e perder uma grande oportunidade de se alegrar com todos os membros da família? Afinal, os dias que antecedem essa celebração, especialmente a véspera, são um período de alegria, expectativa, em que a família se reúne para se confraternizar.

Não ignoramos o paganismo, impregnado na sociedade brasileira. Mas as questões relacionadas com os festejos do Natal passam, obrigatoriamente, por uma análise dos princípios bíblicos. O cristianismo é equilibrado. Está implícito em Eclesiastes 7.16,17 que não nos é vedado o entretenimento. Ademais, a participação eventual, com prudência e vigilância, em festas pagãs é mencionada em 1 Coríntios 10.23-32. Jesus participou de festas em que havia pessoas pecadoras e comia na casa de publicanos.

Que males o Natal secular traz, efetivamente, para a vida e a família cristãs? Alguém responderá: “O Papai Noel usurpa o lugar de Cristo. E a árvore de Natal é idolátrica”. Bem, penso que nenhum crente em Jesus Cristo põe uma árvore de Natal em sua sala em louvor a ídolos. Se priorizarmos a origem pagã de todas as coisas, em detrimento do uso hodierno, teremos de proibir vestido de noiva, bolo de aniversário, ovos de chocolate...

Não somos do mundo, mas estamos no mundo! Conhecemos bem a origem dos elementos da festa secular do Natal. Contudo, lembremos do que a Palavra do Senhor assevera em 1 Coríntios 6.12: “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.

Quanto às crianças, sabemos que elas vivem no mundo da fantasia. E muitas, por influência dos colegas de escola, da mídia, etc., acreditam em Papai Noel. Cabe aos pais cristãos mostrar a elas, com muita sabedoria, o verdadeiro sentido do Natal. Não é preciso se opor ferrenhamente ao Natal secular. A transição do mundo da fantasia para a realidade ocorre de modo natural. Com o tempo, a criança percebe que o Papai Noel é uma figura ficcional, mítica, e que o Senhor Jesus é real.

Tudo nessa época do ano gira em torno de enfeites coloridos, com desenhos de Papai Noel, árvores de Natal, etc. Caso os pais sejam extremistas, terão de proibir as crianças também de frequentar aulas a partir de novembro, de ir ao shopping e de assistir a desenhos animados pela televisão ou pela Internet, etc. Seria mesmo saudável não permitir aos infantes esse contato com o mundo da fantasia, própria desse período da vida?

Sabemos que as únicas pessoas que, de fato, acreditam em Papai Noel são as inocentes e ingênuas crianças. De que adianta os pais proibi-las desse encantamento natural e passageiro? Privá-las dessa alegria é uma maldade sem tamanho, atrelada à hipocrisia farisaica. Lembremo-nos do que disse o Senhor Jesus em Mateus 23.24: “Condutores cegos! Coais um mosquito e engolis um camelo”.

Geralmente, os extremistas que se preocupam com superfluidades são os mesmos que, inconscientemente, louvam ao “deus Papai Noel”. Ao contrário dos magos do Oriente, que tinham uma oferta para o Menino, os tais só querem receber, receber, receber... Coam mosquitos, mas engolem camelos.

Os pais excessivamente preocupados com questiúnculas têm ensinado seus filhos em casa (Dt 6.7) e os conduzido à Escola Bíblica Dominical para aprenderem a Palavra do Senhor? Privar nossa família da alegria desse período de festas é uma atitude cristã exemplar? Proibir uma criança de posar para uma foto ao lado do chamado bom velhinho ou de uma árvore enfeitada, em um shopping, é louvável?

Sinceramente, um pai que, tendo condições, não presenteia o seu filho, nessa época, está agindo de modo extremado, provocando a ira dele (Ef 6.4). Imagine como reage a criança que ouve de um pai: “Não vou lhe dar presente de Natal porque esta festa é pagã e consumista, e eu não quero agradar a Leviatã”. Isso denota zelo e santidade, ou falta de equilíbrio e hipocrisia? Pense nisso.
Como muitas vezes acontece, a Igreja Evangélica Brasileira polemiza sobre assuntos dos mais diversos. Na verdade, têm sido assim no decorrer recente de sua história. Ultimamente, têm-se falado demasiadamente sobre o natal, sua história e implicações. Como era de se esperar, opiniões diferentes surgiram quanto ao assunto. Existem aqueles que não vêem nenhum problema quanto à celebração da data, e outros que radicalizaram abdicando de toda e qualquer celebração relacionada ao tema em questão.
Antes de qualquer coisa , por favor façamos algumas considerações:
o Natal não era considerado entre as primeiras festas da Igreja. Os primeiros indícios da festa provêm do Egito. Os costumes pagãos ocorridos durante as calendas de Janeiro lentamente modificaram-se na festa do Natal”. Foi no século V que a Igreja Católica determinou que o nascimento de Jesus Cristo fosse celebrado no dia da antiga festividade romana em honra ao nascimento do Sol, isto porque não se conhecia ao certo o dia do nascimento de Cristo. Não se pode determinar com precisão até que ponto a data da festividade dependia da brunária pagã (25 de dezembro), que seguia a Saturnália (17-24 de dezembro) celebrando o dia mais curto do ano e o “Novo Sol”. As festividades pagãs, Saturnália e Brumária estavam a demais profundamente arraigadas nos costumes populares para serem abandonadas pela influência cristã. A festividade pagã acompanhada de bebedices e orgias, agradavam tanto que os cristãos viram com benevolência uma desculpa para continuar a celebra-la em grandes alterações no espírito e na forma.
Ontem e Hoje:
A conclusão que chegamos é que o natal surgiu com a finalidade de substituir as práticas idólatras e pagãs que influenciava sociedade da época. Hoje como no passado à humanidade continua fazendo desta festa pretexto pra bebedeiras, danças e orgias. Se não bastasse isso, todos sabemos que milhões de pais em todo o mundo (Muitos destes cristãos) levam seus filhos pequenos a acreditarem em Papai Noel, dizendo-lhes que foi o bochechudo velhinho que lhes trouxe um presente. Ora, a figura do papai Noel tem origem nos países nórdicos, referindo-se a um senhor idoso, denominado Klaus, que saía distribuindo presentes a todos quanto podia. Infelizmente, numa sociedade materialista e consumista, o tal Papai Noel é mais desejado do que Jesus de Nazaré, afinal de contas, ele é o bom velhinho que satisfaz os luxos e desejos de todos quanto lhes escrevem missivas recheadas de vaidades e cobiças. Se não bastasse, junta-se a isso a centralidade em muitos lares cristãos de uma Árvore recheada de bolinhas coloridas.
O espírito consumista e mercantilista do natal, bem como a ênfase na árvore e no papai Noel, se contrapõe a mensagem do evangelho que anuncia que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho pra morrer por nós. Aliás, esta é a grande nova! Deus enviou seu filho em forma de Gente! Sem sombra de dúvidas, sou absolutamente contra, duendes, Papai Noel e outras coisas mais que incentivam este “espírito mercantilista natalino”. No entanto, acredito que antes de qualquer posição, decisão ou dogmatização, quanto ao que fazer “do e no natal” devemos responder sinceramente pelo menos três indagações:
1. Será que existe alguma festividade ou festa no mundo que tenha o poder de convergir tanta gente em torno da família, do lar como o natal?
2. Em virtude do grande poder e influência que o natal exerce na sociedade ocidental será que não deveríamos aproveitar a oportunidade e anunciar a todos quanto pudermos que um “menino nos nasceu e um filho se nos deu”?
3. Seria inteligente de nossa parte desconsiderarmos o natal extinguindo-o definitivamente do “nosso” calendário em virtude do“espírito mercantilista natalino” que impera na nossa sociedade?
Outras considerações:
Apesar de não observarmos textos bíblicos que incentivem a celebração do natal, é absolutamente perceptível em diversas passagens a importância e relevância do nascimento e encarnação do Filho de Deus. As escrituras, narram com efusão o nascimento do Messias. Se não bastasse isso, sem a sua vinda, não nos seria possível experimentarmos da salvação eterna e da vida vindoura. Portanto, comemorar o natal, (ainda que saibamos que o Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro) significa em outras palavras relembrar a toda a humanidade que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, pra que todo aquele que nele cresse não perecesse mais tivesse vida eterna.
Isto nos leva a seguinte conclusão:
1. O natal nos oferece uma excelente oportunidade de evangelização. Em todos os registros históricos percebemos de forma impressionante o quanto os irmãos primitivos eram apaixonados, entusiastas e extremamente corajosos na proclamação do evangelho. Estes homens e mulheres de Deus eram movidos por um desejo incontrolável de pregar as Boas Novas. Eram pessoas provenientes de classes, níveis e posições sociais das mais diversas: artesãos, sacerdotes, empresários, escravos, gente sofisticada bem como pessoas simples e iletradas. Entretanto, ainda que diferentes, todos tinham em comum o sentimento de “urgência” em anunciar a Cristo. Vale a pena ressaltar que Jesus comumente usou as festas judaicas como meio de evangelização. Os 04 evangelhos, nos mostram o Senhor pregando e ensinando coisas concernentes ao reino de Deus a um número considerável de pessoas em situações onde a nação celebrava alguma festividade. Na verdade, ele aproveitava os festejos públicos pra anunciar as boas novas da salvação eterna. Ora, tanto nosso Senhor quanto à igreja do primeiro século tinham como missão prioritária à evangelização. Portanto, acredito que o natal seja uma excelente ocasião pra anunciar a cristo aos nossos familiares e amigos. Isto afirmo, porque geralmente é no natal onde a maioria das famílias se reúnem. O natal nos propicia uma grande oportunidade de proclamarmos com intrepidez a cristo. Junta-se a isso, que o período de fim de ano é um momento de reflexão e avaliação pra muitos. E como é de se esperar, em um mundo onde a sociedade é cada vez mais competitiva e egoísta, a grande maioria, sofre com as dores e marcas deste mundo caído e mau. É comum nesta época o cidadão chegar a conclusão de que o ano não foi tão bom assim. A conseqüência disto é a impressão na psique do individuo de sentimentos tais como frustração, depressão, angústia e ansiedade.E é claro que tais sentimentos contribuem consideravelmente a uma abertura maior a mensagem do evangelho.
Abertura pro Sagrado
Um outro fator preponderante que corrobora pra evangelização é significativa abertura ao sagrado e ao sobrenatural que a geração do século XXI experimenta. No inicio do século XX, acreditava-se que quanto mais o mundo absorvesse ciência menor seria o papel da religião. De lá pra cá a tecnologia moderna se tornou parte essencial do cotidiano da maioria dos habitantes do planeta e permitiu que até os mais pobres tivessem um grau de informação inimaginável 100 anos atrás. Apesar de todas essas mudanças, no inicio do século XXI o mundo continua inesperadamente místico. O fenômeno é global e no Brasil atinge patamares impressionantes.
A Revista Veja encomendou uma pesquisa ao Instituto Vox Populi, perguntando as pessoas se elas acreditavam em Deus. A maioria absoluta ou seja, 99% dos brasileiros responderam que acreditavam. Sem dúvida, o momento é impar na história, até porque, com exceção de alguns períodos da história mundial o mundo nunca esteve tão aberto ao sagrado como agora. Diante disto, será que o natal não representa uma excelente oportunidade de evangelização?
2. O natal nos oferece uma excelente oportunidade de reconciliação e perdão.Você já se deu conta que a ambiência do natal proporciona uma abertura maior à reconciliação e perdão? Repare quantas famílias se recompõem, quantos lares são reconstruídos, quantos pais se convertem aos filhos e quantos filhos se convertem aos pais. Será que a celebração do natal não abre espaço nos corações pra reconciliação e perdão? Ora, O senhor Jesus é aquele que tem o poder de construir pontes de misericórdia bem como de destruir as cercas da indiferença e inimizade.
3. O natal nos oferece uma excelente oportunidade de sermos solidários em uma terra de solitários.Por acaso você já percebeu que no natal as pessoas estão mais abertas a desenvolver laços de fraternidade e compaixão com o seu próximo? Tenho para mim que o natal pode nos auxiliar a lembrarmos que a vida deve ser menos solitária e mais solidária. Isto afirmo porque o natal nos aponta o desprendimento de Deus em dar o seu filho por amor a cada de um nós. O Nosso Deus se doou, se sacrificou e amou pensando exclusivamente no nosso bem estar e salvação eterna. Você já se deu conta que o natal é uma excelente oportunidade pra nos aproximarmos daqueles que ninguém se aproxima além de exercermos solidariedade com aqueles que precisam de amor e compaixão?
Conclusão
Sem qualquer sombra de dúvida devemos repulsar tudo aquilo que seja reflexo deste “espírito mercantilista natalino”. Duendes, Papai Noel, devem estar bem longe da nossa prática cristã. Entretanto, acredito que como portadores da Verdade Eterna, devemos aproveitar toda e qualquer oportunidade pra semear na terra árida dos corações a semente da esperança. Jesus é esta semente! Ele é a vida eterna! O Filho de Deus, que nasceu, morreu e ressuscitou por cada um de nós. A missão de pregar o Evangelho nos foi dada, e com certeza, cada um de nós deve fazer do natal uma estratégia de proclamação e evangelização.
Celebremos irmãos e anunciemos que o Salvador nasceu e vive pelos séculos dos séculos amém.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019



Black Friday é uma expressão em inglês, que significa Sexta Feira Negra. É a sexta feira depois do dia de Ação de Graças, ou Thanksgiving em inglês. Este termo teve origem nos Estados Unidos, e é um dia especial porque as lojas fazem grandes descontos, e por isso muitas pessoas compram presentes para o Natal.
Black Friday ou Black Fraude?
Por influência cultural, a Black Friday desembarcou por aqui e ganhou popularidade. Porém, como não existe um bom motivo para os descontos, ela logo se transformou no que muitos chamam, de forma bem humorada, de Black Fraude.
Isto é, poucos são os lojistas realmente oferecendo bons descontos. A maioria forja descontos, subindo preços dias antes, para abaixar na ocasião e fingir que está praticando desconto. “Tudo pela metade do dobro!” – como dizem.

Por que, muitos se perguntam, a Black Friday funciona tão bem nos EUA e no Brasil não?
Dizer que os comerciantes brasileiros são desonestos é uma visão muito simplificada da questão. Existe um motivo maior: A data gerou expectativa de descontos, mas não existe um porquê desses descontos acontecerem.

As Razões da Diferença
Nos EUA, a Black Friday surgiu porque era uma época em que os grandes lojistas precisavam se livrar do estoque antigo para poder receber as mercadorias de Natal. Para eles, era mais vantajoso vender a preço de banana do que ter que dar algum outro destino para o estoque antigo.
No Brasil, esse tipo de prática faz muito menos sentido. Salvo no caso de alimentos, não temos tantas lojas enormes de varejo assim. E temos nossa própria cultura de épocas nas quais os lojistas trocam estoques.
Não é à toa que na Black Friday brasileira, alguns dos melhores descontos aparecem justamente em alimentos. Porque a indústria alimentícia já está acostumada com trocar estoques nessa data. Supermercados querem mesmo se preparar pro Natal.

O que podemos aprender com isso?
Mas, o que isso tem a ver com a sua vida espiritual?
Repare como surge a mentira na Black Friday: Não é apenas desonestidade. É porque os lojistas estão tentando ser uma coisa que não são. Isto é, enquanto houver expectativa de descontos, sem que haja um motivo real para eles acontecerem, a tendência é haver fraude.
Em outras palavras, as circunstâncias favorecem o pecado. E isso também acontece conosco. Claro, isso não exime o pecador de suas escolhas, mas deve acender uma luz amarela.
As Escrituras dizem: “Pode alguém guardar fogo no peito sem queimar a roupa? Pode alguém andar sobre brasas sem queimar os pés?” (Pv. 6:27-28)
Muita gente se frustra na sua luta contra o pecado porque fica tentando não pecar, num ambiente que estimula o pecado. É como sair na chuva e tentar não se molhar: Uma luta inglória, que só vai resultar em frustração.
Mas, então, qual a solução? Há apenas duas: mudar o ambiente, ou mudar de ambiente.
No caso da Black Friday, há duas possibilidades. Ou os varejistas mudam toda a forma de lidar com seus estoques e datas, ou muda-se a data dos descontos. Na verdade, o Brasil já tem algo parecido com a Black Friday: O mês de janeiro, logo depois do Natal, quando os lojistas querem se livrar do excesso de estoque de fim de ano. Nessa época, há mais descontos verdadeiros.

Lidando com o Pecado
Trazendo esse paralelo para sua vida espiritual: Ou você muda de ambiente, parando de tentar insistir viver uma coisa que sempre te levará à tentação de pecar, ou tenta modificar o ambiente para que você possa deixar de ser tentado.
Reflita: Vale à pena trabalhar com coisas que te levam a pecar? E sair para almoçar com colegas fofoqueiros, se você tem dificuldade de resistir a participar da fofoca? É bom manter amizades que só te levam pro caminho negativo? É positivo tentar ser o que não se é?
E depois pense: O que é mais prático, adaptar a circunstância ou deixá-la para trás? Se você conseguir encontrar uma forma de fazer uma dessas duas coisas, ficará muito mais fácil de combater o pecado.
Lembre-se: “Meu filho, se os maus tentarem seduzi-lo, não ceda!” (Pv. 1:10)

sábado, 23 de novembro de 2019

Façamos o homem, Gênesis 1:26 – A Santíssima Trindade

Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” Gênesis 1:26. A forma verbal, plural colocada no início deste verso, é usada por muitos Teólogos que ensinam um modelo de Trindade, onde o Criador seria formado por uma pluralidade de pessoas.
Segundo essa doutrina, Deus seria constituído de três pessoas:
  1. O Deus pai;
  2. O Deus filho; e
  3. O Deus Espírito Santo.
E a proposta deste estudo, é examinar o texto de Gênesis 1:26 no seu original, em Hebraico Bíblico, de acordo com a gramática Hebraica, para ver se esta doutrina é consistente com a Bíblia.

FAÇAMOS

A primeira palavra desse verso é realmente intrigante. Porque o verbo é apresentado no plural? Muita gente entende que por causa desse verbo, Deus tem que ser uma pluralidade. Mas não seria isso uma falha de entendimento? Ou no mínimo, uma falta de conhecimento do idioma original da Bíblia?

GÊNESIS 1:26 EM HEBRAICO

Tendo já apresentado um resumo da Doutrina da Trindade, na sua forma mais amplamente conhecida, seguindo a temática
O significado de “Façamos” está intimamente entrelaçado com as “formas”, ou a “forma” que o Hebraico Bíblico possui para expressar o que chamamos de  “Volitivo” – quando o orador expressa a sua vontade ou intenção.
“Façamos” aqui é o verbo נַֽעֲשֶׂ֥ה naaseh que está em uma forma verbal chamada de EXORTATÓRIA.
O Exortatório é um “modo” verbal em que o falante do  Hebraico Bíblico usava para mostrar a sua vontade, com as devidas ressalvas, podemos comparar ao IMPERATIVO, talvez “um tipo de ordem para si mesmo”.
Veja comigo como isso ocorre no Hebraico da Bíblia:
O Hebraico Bíblico possui sete Binyanim, ou Construções Verbais, que podem, veja, PODEM equivaler aos tempos verbais do Português. Temos a Construção Qal (simples), a Construção Nifal, as Construções Intensivas com o Daguesh na primeira letra da raiz do verbo (Modo Intensivo do Verbo) – Piel, Pual e Hitpael; e ainda temos os Binyanim Hifil e Hufal.
E dentro dessas Construções Verbais, temos ainda o caso VOLITIVO, que destacamos acima. A expressão da vontade de um orador, geralmente é dada pelo imperativo. Mas como o Hebraico faz para mostrar esse desejo do orador, em relação a si mesmo? É então que entra o “modo” Exortatório.
O Exortatório, o Imperativo e o Jussivo.
Assim o verbo asah, “fazer” (melhor traduzido como “ele fez”), está conjugado no Exortatório de primeira pessoa do plural – nós. O prefixo “Na” tem a ideia de “nós”, e se liga a raiz formando “naaseh” (lê-se na-assê).
Bom, isso demonstra que “Façamos” é uma INTENÇÃO Divina, uma desejo, uma vontade que o Criador está a expressar neste verso.
Sim, mas… mas… …porque está no PLURAL?

A TRINDADE DE AGOSTINHO

Esse tipo de plural foi, e vem sendo interpretado como no mínimo, um remanescente de uma pluralidade de pessoas na divindade, conforme sugeriu o “Pai da Igreja” Agostinho, e mesmo no século XX,
De facto, Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; mas logo a seguir está dito: E Deus fez o homem à imagem de Deus.
Seguramente não se diria nossaque é plural, se o homem fosse feito à imagem de uma única Pessoa, fosse a do Pai, fosse a do Filho, fosse a do Espírito Santo, mas, porque era feito à imagem da Trindade, por isso mesmo foi dito: à nossa imagem. De Trinitate, Livros IX – XIII –  Santo Agostinho.
Entretanto, para entendermos a ideia de pluralidade que este verso, no modo Exortatório traz, é preciso que nos movamos para além do “mundo” e dos parâmetros do Gênesis 1.
Há outros textos Bíblicos que nos fornecem detalhes do “mundo” simbólico que há por detrás desses PLURALeS estranhos.

A CORTE CELESTIAL

Voltando à idade média, encontramos um comentário rabínico sobre Gênesis, que nos liga à tradução para o Aramaico, chamada de Targum Pseudo-Jonatan.
Ao fazermos uma leitura intertextual dos plurais relacionados com o verso 1:26, veremos que o contexto nos
revelará a revelação do Eterno, de suas intenções, à sua Corte Celestial, também chamada de Conselho Angelical.
Antes que você, meu querido leitor, pense naquela palavrinha… “heresia…”, permita-me explicar, e dar mais detalhes! Vai ser rapidinho…
Será que o Eterno “andava” desacompanhado? O Rei dos Reis, o Rei dos universos físicos e espirituais? Como era a descrição das visões dos Profetas, quando Deus se revelava a eles?
A revelação da Sala do Trono de Deus, em muitos trechos da Bíblia, está intimamente associada com seres angelicais, que são mensageiros e também desenvolvem a função de conselheiros reais, ajudando na administração do Reino de Deus.
Não acredita? Continue conosco, vamos mostrar os versos Bíblicos já já!
Na Bíblia Hebraica (o Antigo Testamento), há referências a esta Côrte Celestial, em textos antigos e novos, bem como em textos poéticos, proféticos e históricos. Veja alguns exemplos:
E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Jó 1:6
Então ele disse: Ouve, pois, a palavra do Senhor: Vi ao Senhor assentado sobre o seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua mão direita e à sua esquerda. 1 Reis 22:19
E disse o Senhor: Quem induzirá Acabe, para que suba, e caia em Ramote de Gileade? E um dizia desta maneira e outro de outra. 1 Reis 22:20
Então saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o induzirei. E o Senhor lhe disse: Com quê?
E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim.
1 Reis 22:21,22
O Profeta Micaías, filho de Inlá, em Primeira Reis 22:20, tem uma revelação clara do EternoCONSULTANDO a Sua Corte Angelical, “E disse o Senhor: Quem induzirá Acabe, para que suba, e caia em Ramote de Gileade?”
Vários desses Conselheiros Angelicais dão opiniões, “E um dizia desta maneira e outro de outra.
Até que um RUACH (lê-se rruarrr), um Espírito ou Anjo, se apresentou diante de YeHoVaH, diante do Eterno, e fez uma sugestão que foi prontamente aceita, “Eu o induzirei. E o Senhor lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim.
Essa é uma prova de que Deus tem uma Corte Celestial de Anjos mensageiros e Conselheiros, e que Se utiliza desses Conselheiros e os consulta. Isso é absolutamente FANTÁSTICO, porque o Eterno não precisa de conselhos!
Mas é um Deus de humildade! Mas isso é tema para outro estudo. Vamos prosseguir!
Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela, e um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa, como de cor de âmbar, que saía do meio do fogo.
E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem.
E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.
Ezequiel 1:4-6
E por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia algo semelhante a um trono que parecia de pedra de safira; e sobre esta espécie de trono havia uma figura semelhante a de um homem, na parte de cima, sobre ele.
Ezequiel 1:26
Nestes versos acima, o Profeta Ezequiel descreve sua visão do Trono do Eterno, precedido da visão dos Quatro Seres Viventes, que são seres Angelicais que acompanham o Trono do Eterno, “E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás.” Apocalipse 4:6
Ou seja, há uma Corte Celestial que acompanha o Eterno, onde quer que o Seu Trono, ou seja, a Sua Presença está.
E o Eterno consulta não somente os anjos, mas também os homens. É, sim, Deus não precisa de conselhos, mas Ele revela a Sua vontade aos seus Profetas, e consulta, pede a opinião de homens justos, como no caso de Abraão – o amigo de Deus, e de Isaías.
No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.
Isaías 6:1,2
Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.
Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Isaías 6:8,9
Veja que em Isaías 6, os seres celestiais são os serafins, que participam ativamente da visão, são eles que falam com Daniel:
Porém um dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; 7 E com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e expiado o teu pecado.




Embora na Criação do Homem, não há uma visão explícita de seres angelicais, ainda assim, a presença deles á aludida pelo uso do modo Exortatório do Hebraico, no plural, “naaseh”, “façamos”.
Veja, se eu sugerir algo para mim mesmo, falando com um grupo de pessoas, tal qual, “vamos ver“, não significa que há uma pluralidade de pessoas em mim.
Por isso, em Isaías 6:8, há uma similaridade com Gênesis, no que concerne ao plural que Deus utiliza para si mesmo e para os Serafins, “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”
A resposta do Profeta Isaías mostra a similaridade, e o compartilhamento das missões dos anjos e dos homens, “Eis-me aqui, envia-me a mim”. Na verdade, são muito parecidos. E essa semelhança entre anjos e homens não é casual.
E essa semelhança encontra o ápice de sua clareza no Salmo 8:
Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste.
Salmos 8:5
Este Salmo evoca um evento, na criação do homem, como um evento real, envolvendo realeza e coroação, aludindo à Presença do Trono de Deus naquele dia, o que implica dizer, que o Seu Conselho Celestial se fazia presente, no dia em que o Adão foi criado.
Na frase “pouco menor…do que os anjos”, o termo para “anjos” é a palavra, מֵאֱלֹהִ֑ים “meELOHIM”, o plural majestático que foi usado para Deus.
Essa é uma conotação de realeza que atesta, que antes do pecado, o homem era um ser quase que divino, perfeito em seus caminhos.
O termo ELOHIM é um termo ambíguo, usado não somente como um título para Deus, mas para descrever falsos deuses, e também hostes de anjos.
Isto é o porque da Septuaginta, a versão grega da Bíblia, traduz este termo ELOHIM, no Salmo 8, como ANGELOUS, e a versão em Português conservou o “pouco menor…do que os anjos”.
Essa ambiguidade revelada pelo Salmo 8, mostra que a imagem de ELOHIM, pode se referir a ambas, as imagens do Eterno e a dos Anjos, também.
Fantástica essa revelação!
Desde que os anjos foram feitos também à imagem de Deus, e nós compartilhamos com eles da imagem do Eterno. Tem dúvida disso? Veja o que Yeshua, Jesus Cristo, falou em relação a esse fato:
כִּי גַּם אֵינָם יְכוֹלִים לָמוּת שׁוּב, כִּי כְּמַלְאָכִים הֵם; וּבְנֵי אֱלֹהִים הֵם, מִשּׁוּם שֶׁהָיוּ לִבְנֵי הַתְּקוּמָה.
E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento;
Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento;
Porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição. Lucas 20:34-36
Ora, é a volta ao estado original, quando o homem não morria! Semelhante aos anjos!
Todo esse contexto está implícito no verbo “façamos”, que não indica que haja uma pluralidade de pessoas na divindade, mas de uma forma muito complexa, usa da gramática hebraica e da presença de seres angelicais, no dia da coroação da criação.
“Façamos” é uma sugestão, o modo Exortatório, na primeira pessoa do plural, “nós”, para indicar que “fez Deus”, no singular, uma pessoa só, mas que houve planejamento e humildade, e que envolveu muito mais do que imaginamos.
Deus é uma só pessoa, que se manisfesta de diversas formas, como Pai, como Filho e como Espírito. Estas são manifestações ou revelações de Deus, e não três pessoas da trindade, como quis afirmar Agostinho.
Mas isso é tema para vários outros estudos bíblicos.
E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus.
Lucas 12:8

quarta-feira, 20 de novembro de 2019



Paulo e Silas na Prisão


O relato sobre Paulo e Silas na prisão é um dos textos mais conhecidos do Novo Testamento, e está registrado no livro de Atos dos Apóstolos capítulo 16. Certamente o que mais chama a atenção das pessoas nesse texto é a informação sobre um terremoto que abalou os alicerces do cárcere onde esses dois homens de Deus estavam.
Esse capítulo também é utilizado frequentemente em sermões, mas infelizmente muitas vezes é interpretado de forma completamente equivocada. Neste texto nós meditaremos em alguns pontos principais sobre a prisão de Paulo e Silas.

Conhecendo o contexto histórico da prisão de Paulo e Silas

apóstolo Paulo estava em sua segunda viagem missionária. Na primeira viagem seu principal companheiro havia sido Barnabé, porém devido a algumas discordâncias com relação ao comportamento de João Marcos, primo de Barnabé, ambos se dividiram.
Paulo, então, escolheu Silas para acompanhá-lo nesse novo empreendimento missionário. Paulo e Silas passaram por muitas cidades, porém foi na estadia deles em Filipos que ocorreu tal prisão.
Paulo e Silas não estavam sozinhos, estavam também com eles Timóteo e Lucas. Essa equipe de missionários partiu para a cidade de Filipos, uma importante colônia romana. Essa Filipos é a mesma que em aproximadamente 42 a.C. foi palco da famosa batalha em que Marco Antônio e Otaviano derrotaram Brutus e Cássius, os assassinos de Júlio César.
No primeiro século Filipos era uma cidade de destaque na região da Macedônia, pois possuía uma economia próspera, principalmente devido à mineração de ouro, e também era referência na educação, com uma conhecida escola de medicina.

Paulo e Silas em Filipos

A equipe de missionários liderada por Paulo ficou em Filipos durante vários dias. Lucas relata que no primeiro sábado em que estavam ali, eles foram para o Rio Gangites, e encontraram várias mulheres que se reuniram no local para a oração sabatina.
O apóstolo, acompanhado de sua equipe, começou a pregar o Evangelho àquelas mulheres. Entre essas mulheres estava Lídia, uma mulher que o Senhor lhe abriu o coração para que ela se convertesse ao Evangelho de Jesus.
Lídia e os membros de sua casa foram batizados no Rio Gangites, e após o batismo ela ofereceu hospedagem à equipe missionária. Com os missionários hospedados na casa dessa mulher, o Evangelho continuou sendo pregado na cidade e a Igreja começou a ser ampliada.

O exorcismo de uma jovem antes da prisão

No versículo 16 do mesmo capítulo 16 de Atos, somos informados sobre uma jovem escrava que tinha um espírito de adivinhações. Sua prática de adivinhação trazia muitos lucros aos seus donos.
Em grego, Lucas escreve que ela tinha um espírito chamado “Píton”, que em nossas traduções aparece apenas como “adivinhação”. Na mitologia grega Píton era uma lendária serpente que guardava o Oráculo Délfio, e que acabou morta por Apolo. Assim, tal termo era utilizado para se referir ao espírito de adivinhação característico dos médiuns da época.
Com tudo isso, Lucas está enfatizando que a jovem era usada por demônios. Por muitos dias a jovem clamou que aqueles homens eram “servos do Deus Altíssimo”, e que estavam proclamando o caminho da salvação.
Não devemos entender essa declaração como um reconhecimento genuíno do evangelismo que estava ocorrendo ali. Lembre-se que ela estava sendo usada por demônios, e tal declaração era uma artimanha de Satanás. Paulo entendeu dessa forma, e, em nome do Senhor Jesus, expulsou o espírito que atormentava aquela mulher (At 16:18).

Paulo e Silas são presos

Os donos daquela escrava, quando perceberam que tinham perdido uma fonte de lucro, ficaram revoltados e violentamente prenderam Paulo e Silas. O texto diz que eles foram agarrados e arrastados até as autoridades (At 16:19).
Note que apenas Paulo e Silas foram presos. Isso ocorreu porque as denúncias que aqueles acusadores fizeram foram fundamentadas na nacionalidade dos m issionários. Perceba que antes de qualquer acusação eles deixam claro que “estes homens são judeus”.
Com isto, possivelmente eles estavam querendo estabelecer, de alguma forma, uma ligação entre Paulo e Silas e os judeus que tinham sido expulsos de Roma pelo imperador Cláudio, acusados de criar perturbação religiosa em aproximadamente 49 d.C. (At 18:2).
Perceba que no versículo 20 Paulo e Silas são acusados justamente de criar confusão e perturbação na cidade. Como Lucas era gentio, e Timóteo apenas um meio-judeu, então as acusações caberiam perfeitamente apenas contra Paulo e Silas.
Também é importante perceber que em nenhum momento a jovem foi mencionada na acusação. Toda denúncia partiu do confronto entre os interesses romanos e os interesses judeus.
Na época a religião judaica era permitida dentro do império, porém os judeus não poderiam tentar converter os cidadãos romanos, e naquele momento ainda não havia ficado clara para os romanos a distinção entre Cristianismo e Judaísmo.
Com todo o tumulto que se aglomerou na praça da cidade, os magistrados ignoraram qualquer procedimento legal e deram ordem para que Paulo e Silas fossem despidos e açoitados. Por serem cidadãos romanos, Paulo e Silas não poderiam, de forma alguma, ter passado por essa seção de tortura.

Paulo e Silas no cárcere

Paulo e Silas foram lançados na prisão. Ao carcereiro foi ordenado que ele guardasse os dois prisioneiros com segurança, ou seja, com total rigidez. O carcereiro então colocou Paulo e Silas no “cárcere interno e prendeu seus pés no tronco” (At 16:24).
As cadeias da época eram divididas em duas partes: o cárcere externo e o cárcere interno. Na parte externa os presos desfrutavam de mais liberdade, podendo andar e receber visitas. Já na parte interna o aprisionamento era bem mais rígido, e geralmente reservado aos prisioneiros mais perigosos. A prova disto é que o carcereiro colocou as pernas de Paulo e Silas no tronco, para que se tornasse impossível qualquer possibilidade de fuga.
Aqui também devemos considerar que após uma seção de açoites os presos ficavam completamente debilitados, o que provavelmente era, na ocasião, a condição física de Paulo e Silas.
O próprio uso do tronco nas pernas também era um tipo de tortura, pois o preso perdia praticamente toda mobilidade, além de que em muitas vezes os buracos de cada perna eram bem afastados, causando grande incomodo.

Paulo e Silas oram e adoram na prisão

Com seus corpos totalmente doloridos, e submetidos a condições sub-humanas, Paulo e Silas resolveram orar a Deus e cantar louvores a Ele. Naquele momento eles estavam com dor, fome e sede, mas seus corações estavam voltados a Deus.
O texto nos informa que os outros presos também ouvem as orações e os cânticos de Paulo e Silas. Com toda certeza esse foi um testemunho genuíno de dois seguidores de Cristo. Se seu Mestre sofreu calado no Calvário, naturalmente seus discípulos entendiam que não tinham qualquer direito de reclamar.

Um terremoto acontece

A Bíblia diz que de repente houve um violento terremoto, de maneira que os alicerces da prisão foram sacudidos. Com isso, todas as portas foram abertas e todas as correntes dos prisioneiros se soltaram.
É verdade que na Macedônia havia incidência de terremotos, porém claramente esse terremoto específico foi providência de Deus, ou seja, Deus usa até mesmo de meios naturais para prover milagres inexplicáveis. Aquele terremoto tinha um papel decisivo nos propósitos de Deus.
Apesar de todos os prisioneiros estarem livres, nenhum deles escapou. É possível que todos ficaram perplexos ao redor de Paulo e Silas admirando o poder do Deus sobre o qual os missionários cantavam.
Quando o carcereiro acordou e viu que todas as portas da prisão estavam abertas, ele planejou se matar. Na verdade ele sabia que se um único prisioneiro escapasse sua própria vida seria dada em troca pela vida do fugitivo, sendo assim morto (At 12:19; 27:42). Entretanto, antes que ele se suicidasse, Paulo o avisa que ninguém havia fugido (At 16:28).
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O propósito da prisão de Paulo e Silas e do terremoto no cárcere

Aqui precisamos fazer algumas considerações, pois é justamente nesse ponto onde várias interpretações erradas são tomadas.
Algumas pessoas utilizam essa passagem para tentar ensinar que a oração da madrugada é mais poderosa, tão poderosa que até mesmo um terremoto ocorreu quando Paulo e Silas oraram à meia-noite.
No entanto esse ensino é completamente estranho, não só a esse texto, mas a toda Escritura. O terremoto aqui não serviu para mostrar a eficácia da oração feita num determinado horário da noite. Saiba mais sobre o que a Bíblia diz acerca da oração da madrugada.
Outras pessoas também usam esse relato sobre Paulo e Silas na prisão para pregar um tipo de “determinismo”, onde Deus faz qualquer coisa para resolver o seu problema. Logo, é comum ver cristãos reivindicando um tipo de terremoto figurado para que seus problemas sejam resolvidos.
Em primeiro lugar, não há qualquer evidência no texto de que Paulo e Silas tenham orado para que fossem libertos da prisão, muito menos que tenham solicitado o terremoto que ocorreu. O texto claramente parece indicar que os dois missionários estavam simplesmente rendendo graças ao Senhor.
É claro que Deus tem um zelo especial pelos seus escolhidos. Através da profecia do profeta Isaías, somos informados que ainda que uma mãe se esqueça do próprio filho, Deus jamais se esquece do seu povo (Is 49:15,16). No entanto, isso não significa ausência de problemas e dificuldades.
Devemos nos lembrar de que o próprio Paulo foi preso outras vezes, sendo que de sua última prisão em Roma ele não conseguiu sair vivo. Também em nenhuma dessas outras vezes o terremoto se repetiu.
O que houve ali foi a perfeita execução de um plano do Senhor. O terremoto foi um instrumento usado por Deus para que seus propósitos soberanos fossem cumpridos.
Obviamente a libertação de Paulo e Silas estava implícita no plano, mas não era o ponto principal e exclusivo dele. Se Deus quisesse apenas libertá-los, ele poderia tê-lo feito como fez com o apóstolo Pedro, enviando um anjo e o libertando silenciosamente (At 12:7), aliás, isso já havia ocorrido outra vez (At 5:19).
O terremoto não apenas quebrou as correntes que prendiam Paulo e Silas e abalou os alicerces do cárcere, foi muito mais além do que isto, o terremoto quebrou as correntes da incredulidade e abalou os alicerces do coração do carcereiro e também de toda sua família.
Aquele terremoto revelou o poder e a majestade do Senhor, bem como a soberania de seus propósitos eternos. O grande objetivo do terremoto pode ser notado nas palavras do carcereiro: “Senhores, o que devo fazer para ser salvo?” (At 16:30).
Os missionários lhe responderam: “Creia no Senhor Jesus” (At 16:31). A salvação havia alcançado não só o carcereiro, mas toda sua casa (incluindo seus servos). Paulo e Silas ensinaram àquela família a Palavra do Senhor, e imediatamente todos foram batizados.
Naquele momento o carcereiro já não era mais o mesmo, ele havia nascido de novo. Sua atitude já demonstra o caráter de alguém regenerado. Se poucas horas antes ele havia lançado no cárcere dois homens debilitados, sem ao menos se importar com as necessidades deles, agora ele estava cuidando das feridas dos missionários (At 16:32). Somente o Espírito Santo pode promover uma transformação tão radical.
O carcereiro também conduziu os missionários até sua casa, e ali os alimentou. Para ele, Paulo e Silas não eram mais prisioneiros, mas agora eram irmãos em Cristo.
O texto bíblico nos informa sobre a grande alegria do carcereiro por não só ele, mas toda sua família, agora crerem em Deus. A expressão grega desse texto revela uma confiança permanente, ou seja, a fé daqueles irmãos não era nominal, mas verdadeira.
Depois, Paulo e Silas voltaram voluntariamente para a prisão. Eles não tentaram se aproveitar da situação para fugir. No outro dia, pela manhã, as autoridades ordenaram que os dois fossem soltos.
É possível que a notícia do que ocorreu na prisão tenha percorrido a cidade, e aqueles homens tenham relacionado a presença dos dois missionários com o terremoto que havia abalado aquele lugar, e isso pode ter deixado os magistrados estarrecidos. Seja como for, eles queriam que Paulo e Silas fossem embora.
Entretanto, Paulo se recusou a ir, e também expôs a injustiça que tinha sido cometida com dois cidadãos romanos, e exigiu uma retratação pública. A revelação de que Paulo e Silas tinham cidadania romana perturbou os magistrados, que foram até a prisão e pediram desculpas aos missionários, implorando também que eles deixassem a cidade.
Após saírem a prisão, Paulo e Silas foram para a casa de Lídia, onde se reuniram com os irmãos e, depois de encorajá-los, partiram de Filipos.
Esse episódio também tem algumas similaridades com o naufrágio que Paulo sofreu quando estava sendo transportado como prisioneiro para Roma. O propósito do naufrágio não era para libertá-lo, mas para fazer com que o poder de Deus fosse revelado na Ilha de Malta (At 28).
Da mesma forma ocorreu no episódio da prisão de Paulo e Silas em Filipos, com o consequente terremoto que atingiu aquele lugar. Tudo serviu para contribuir com a pregação do Evangelho ali. O propósito de Deus com aqueles acontecimentos era estabelecer e fortalecer sua Igreja naquela cidade.
Depois, quando olhamos para a igreja de Filipos na epístola escrita pelo próprio Paulo àqueles irmãos, podemos entender o quão importante foi aquela comunidade cristã para o ministério do apóstolo. Na verdade, havia uma profunda comunhão entre os crentes filipenses e o apóstolo, os quais por várias vezes socorreram Paulo em suas necessidades (Fp 4:14-18).
Quando Paulo escreveu sua Carta aos Filipenses, ele se referiu também aos bispos e diáconos (Fp 1:1). Isso significa que a Igreja ali havia prosperado, o Evangelho estava sendo pregado, e o reino de Deus avançando.
Todavia, tudo isto tinha começado com a conversão de uma mulher chamada Lídia, com a expulsão de um espírito de adivinhação de uma jovem escrava, com uma prisão violenta, com um terremoto milagroso, e com a conversão do carcereiro e sua família.
Essa é a história da fundação da igreja de Filipos. Nessa história podemos ver como nosso Deus é Soberano e seus planos infalíveis. Ele poupou a vida de Paulo e Silas na ocasião do tumulto, tortura e prisão, porém não os poupou do sofrimento. Apesar disso, os dois missionários entendiam que Deus estava no controle de tudo, e ao invés de questionarem o Senhor, eles O adoraram.
Ao contrário do que algumas pessoas pensam, essa passagem não nos ensina a reivindicar um terremoto divino para que nossos problemas sejam solucionados, mas nos ensina a adorar ao Senhor em meios às adversidades.
O episódio da prisão de Paulo e Silas nos fornece uma grande lição sobre qual deve ser o nosso comportamento diante do sofrimento. Como escreveu o apóstolo Pedro, quando suportamos o sofrimento por estarmos fazendo a vontade do Deus, Ele nos aprova (1Pe 2:20; 3:14; 4:13-16).
Paulo e Silas sabiam que os seguidores de Cristo são submetidos constantemente ao sofrimento, e é por isso que são eles que encorajam os crentes na casa de Lídia após terem saído da prisão, e não o oposto.
A lição aqui é muito clara: em Cristo somos mais que vencedores, mesmo em meio ao sofrimento. O cristão verdadeiro diante da tristeza está sempre alegre, mesmo na pobreza está enriquecendo a muitos, mesmo nada tendo possui tudo. Ele capaz de enfrentar qualquer coisa, pois seus olhos estão fixos em Jesus (2Co 6:4-10).