segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Dízimo, doação e o Novo Testamento: uma introdução

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O dízimo é um tópico conflitante, talvez parcialmente porque o que quer que se relacione a dinheiro tem o potencial de se tornar conflitante. Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para rever este tópico junto com o tópico da doação em geral. É o dízimo para os dias de hoje? É o dízimo válido na era do Novo Testamento, na era da graça na qual vivemos, ou ele é obsoleto? O que o Novo Testamento diz sobre a doação? Começando da primeira questão, olhando para o que é ensinado hoje do púlpito da maior parte das igrejas poder-se-ia facilmente concluir que o dízimo é um princípio a ser aplicado hoje. Isto é algo tão estabelecido na ordem eclesiástica e no pensamento que nós não mais ouvimos sobre presentes e doadores, mas sobre dízimos e contribuintes.
Tão bem estabelecido quanto esta visão possa parecer, existe, nas mentes dos muitos crentes comuns, uma discrepância entre o que eles frequentemente ouvem do púlpito e o que eles veem no Novo Testamento. No Novo Testamento não há simplesmente nada mencionado sobre o dízimo, como não há nada mencionado sobre os touros em sacrifício, ou seguindo outras leis e práticas semelhantes do Velho Testamento. Pelo menos nada é mencionado no sentido de manter e continuar com isso. O que o Novo Testamento fala é sobre os doadores, presentes livres e apoio aos santos pobres através destes presentes dados de forma feliz e voluntária. Mas vamos dar uma olhada nestas questões de forma mais detalhada.

Por que o dízimo não é para o crente do Novo Testamento?

Definindo o dízimo, conforme o termo é usado hoje, eu somente estabelecerei aqui o que eu, como um crente normal, tenho percebido ser a visão em 52 anos em que eu sou cristão.
De acordo com esta visão, dízimo é dar 10% de seu rendimento (pré-fixado ou pós-fixado – as opiniões são diferentes) para a organização da igreja a que você seja afiliado (a irmandade da igreja que você provavelmente assiste aos domingos). Este dinheiro então é usado para dar sustentação ao orçamento da igreja (aluguel, contas, salário de pessoal, missões, etc.). Para muitos, não dar o dízimo é considerado um pecado. Muitas vezes você ouvirá as pessoas recitarem Malaquias 3:8-12, que diz:
“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos.”
Muitos usam estes versículos para dizer que não trazer os “dízimos e ofertas” para a causa de Deus (conceito que eles tomam para significar a construção da igreja local) é um pecado e retira o povo de suas “bênçãos”. O problema de usar a passagem acima, assim como outras passagens semelhantes do Velho Testamento, para dar sustentação à aplicação do dízimo é que esta passagem e a lei mosaica em que esta passagem é baseada eram válidas quando isto foi escrito e pertence ao Velho Testamento. O Velho Testamento é maravilhoso e é parte das Escrituras Sagradas inspiradas por Deus. Conforme Paulo diz em Romanos 15:3-4
“Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam. Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança.
O que quer que esteja escrito na Escritura foi escrito para o nosso aprendizado. Nós podemos aprender pela leitura do Deuteronômio. Nós podemos aprender pela leitura de Malaquias ou qualquer outro livro do Velho Testamento. Contudo, embora tudo estivesse escrito para o nosso aprendizado, nem tudo está escrito para a nossa aplicação. O Velho Testamento é endereçado aos judeus que estavam vivendo sob a lei mosaica. Jesus Cristo não havia chegado ainda. O preço pela indenização de nossos pecados ainda não tinha sido pago. O sumo sacerdote ainda não havia chegado. Como Paulo diz em Gálatas 3:23-26:
“Mas antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.”
Houve o tempo antes do sacrifício e ressurreição de nosso Senhor. Este era o tempo da lei. E houve o tempo após o sacrifício e ressurreição do Senhor. Este é o tempo em que nós vivemos agora. Há vastas diferenças entre estes dois períodos, pela simples razão de que o que era válido no primeiro período, a lei, não é mais válido no segundo período. E o que é válido no segundo período – a graça e ser criança de Deus através da fé em Jesus Cristo – não estava disponível no primeiro período. Nós podemos aprender do que foi válido no primeiro período? Definitivamente sim. Isso se aplica a nós? Não necessariamente. Você pode ler os Salmos e os Provérbios e obter guia para sua vida hoje. É a sabedoria eterna de Deus que atravessa o tempo. Por outro lado, você pode ir para as passagens específicas da lei, tais como as passagens sobre o dízimo, ou as passagens sobre o sacrifício de touros, ou a celebração que eles tinham em Israel. Embora você possa aprender destas passagens, elas não se aplicam diretamente a nós. O mesmo é válido para tudo o que se refira à lei mosaica, pela simples razão de que esta lei foi abolida com o sacrifício de Cristo. É como ler os códigos de leis que não têm mais validade. Você pode aprender por eles, mas eles não serão aplicados, porque estão obsoletos. Conforme diz Colossenses 2:13-14:
“E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.
E novamente em Efésios 2:14-15
“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”.
Agora se a lei é abolida, vamos aplicá-la novamente? Nós podemos aprender disto, mas não é mais uma lei que é para nossa aplicação. Ele está abolida! E o dízimo é parte desta lei também. O dízimo é uma palavra que ocorre muito em tais livros da lei, como os Levíticos, Números e Deuteronômio. Aqui estão algumas referências:
Levítico 27:30-34 
“Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são do Senhor. Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisas, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. Não se investigará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se de alguma maneira o trocar, tanto um como o outro será santo; não serão resgatados. Estes são os mandamentos que o Senhor ordenou a Moisés, para os filhos de Israel, no monte Sinai.”
Note no último versículo que dízimo é parte dos mandamentos, parte da lei que Deus deu a Moisés para as crianças de Israel no monte Sinai. Esta era a lei que foi abolida pelo sacrifício de Cristo. E o dízimo, sendo parte desta lei, foi dado não para a aplicação geral, mas para as crianças de Israel, até seu cancelamento pelo sacrifício e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Aqui estão mais algumas passagens sobre o dízimo:
Número 18:20-32 
“Disse também o senhor a Arão: na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles, nenhuma parte terás; eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos filhos de Israel. E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação. E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniquidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão, Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. Então o Senhor falou a Moisés, dizendo: também falarás aos levitas, e dir-lhes-ás: quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma oferta alçada ao Senhor, os dízimos dos dízimos. E contar-se-vos-á a vossa oferta alçada, como grão da eira, e com plenitude do lagar. Assim também oferecereis ao Senhor uma oferta alçada de todos os vossos dízimos, que receberdes dos filhos de Israel, e deles dareis a oferta alçada do Senhor a Arão, o sacerdote. De todas as vossas dádivas oferecereis toda a oferta alçada do Senhor; de tudo o melhor deles, a sua santa parte. Dir-lhes-ás pois: quando oferecerdes o melhor deles, como novidade da eira, e como novidade do lagar, se contará aos levitas. E o comereis em todo lugar, vós e as vossas famílias, porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação. Assim, não levareis sobre vós o pecado, quando deles oferecerdes o melhor; e não profanareis as coisas santas dos filhos de Israel, para que não morrais.”
A passagem de Levítico nós lemos anteriormente aliada com o mandamento às crianças de Israel para o dízimo. Onde se supõe que estes dízimos iriam e para que eles seriam usados? Isto é respondido pela passagem acima de Números: Conforme o versículo 21 nos diz:
Número 18:21
E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação.”
O dízimo seria para as crianças de Levi, os levitas, que estavam formando a tribo sacerdotal de Israel, 1/12 dela. Isto deveria ser sua recompensa pelo serviço do tabernáculo e depois do templo. Números 18:31 diz isso claramente: “porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação”. Isto seria contado por eles conforme “como novidade da eira, e como novidade do lagar” (Números 18:30). De fato os levitas tinham que dar seu próprio dízimo deste. Isto foi dado a Arão e era para ser a oferta alçada do Senhor. Muitos pegam a passagem acima e erradamente tentam aplicá-la à era do Novo Testamento, em nossa era, dizendo que nós devemos continuar a dar o dízimo para pagar os salários dos Pastores e todo o clero em geral. Mas esta visão não pode ser correta como no Novo Testamento não há simplesmente nenhuma classe de cleros e padres. Como Pedro e João nos dizem, falando para nós, os crentes no Senhor Jesus Cristo:
I Pedro 2:5 
“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.”
I Pedro 2:9 
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido”
Revelação 1:5-6 
“Aquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém.”
Também conforme o Senhor disse aos discípulos:
Mateus 23:8-12 
“Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém chamais vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado."
Estas passagens não se referem a alguma classe especial de pessoas, mas a todos os crentes. Todos os crentes são feitos Pastores pelo Senhor Jesus Cristo para Seu Deus e Pai. Isto significa agora que nós não devemos sustentar financeiramente os crentes que se movem por exemplo de cidade a cidade estabelecendo igrejas e servindo o Senhor como missionários? Não significa isto e nós veremos isso mais tarde neste estudo. O que quer dizer é que sustentar e dar presentes no Novo Testamento não são mais regulamentados pela lei do dízimo. Em vez disso, não há outros princípios no local para os presentes do Novo Testamento e a doação e nós veremos estes conforme formos nos aprofundando neste estudo. Esta parte do estudo dá ênfase no que a Bíblia NÃO diz para nós em relação à doação - ainda que as pessoas possam dizer isso. Conforme vamos continuando, daremos enfoque ao que a Bíblia diz por nós.
De volta ao dízimo; era o acima – o dízimo para os levitas – o único dízimo? Parece que não é, como em Deuteronômio 14:22-29 nós vemos novamente o dízimo mencionado, mas em outro contexto e para o que parece ser outro propósito. Conforme lemos nesta passagem, todo ano os israelitas deviam comer “os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas”(Deuteronômio 14:23) e ir ao local que Deus definiria e lá: “Come-o ali perante o Senhor teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa” (Deuteronômio 14:26). Se eles estivessem distantes era permitido que eles vendessem os vários itens, conseguissem dinheiro e “darás por tudo o que deseja a tua alma: por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma”(Deuteronômio 14:26). Isto parece ser um dízimo festivo. As pessoas teriam este dízimo e usar-no-iam para comer e beber diante do Senhor no lugar em que ele definiria. Note que este dízimo é usado pelas pessoas mesmas. É diferente do que nós lemos em Levítico e em Números anteriormente, onde o dízimo estava destinado aos levitas. Isso é, portanto, um dízimo diferente. De fato, todo terceiro ano este dízimo era para ser usado de forma diferente: no final daquele ano este dízimo devia ser coletado “então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão ” (Deuteronômio 14:29). Além do mais a cada sete anos deveria ter o Sabbath, no qual nada era semeado nem colhido pelo proprietário da terra (Levítico 25:1-5), mas todas as pessoas eram chamadas para comer o que a terra trouxesse de si mesma (Levítico 25:6-7), assim como do grande excedente do sexto ano que Deus havia prometido dar (Levítico 25: 20-22).

Conclusão

Vamos resumir o que aprendemos até agora. Como vimos, o dízimo era parte da lei do Velho Testamento, parte das ordenanças que Deus deu às crianças de Israel através de Moisés. Conforme parece para mim, havia dois dízimos. O primeiro dízimo seria para os levitas, enquanto o segundo era usada pelo povo mesmo, em regozijo, diante do Senhor ou no terceiro ano era colhido para os pobres e (novamente) para os levitas. O dízimo é parte da lei e como tal ele pertence à mesma categoria como sacrifícios animais e as muitas e várias regulamentações que esta lei ditou. Nós também vimos que o Novo Testamento dá ênfase clara que a lei com suas ordenanças foi abolida pelo sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo. Por causa disto nós não estamos mais sacrificando animais hoje. Se alguém pergunta por que nós não fazemos isto, nós corretamente dizemos “porque isto é parte da lei mosaica e esta lei não tem mais valor. Jesus Cristo, através de Seu sacrifício na cruz, aboliu em sua carne a inimizade, a lei dos mandamentos contidos nas ordenanças. Nós não mais estamos sob a lei”. A mesma razão que nós usamos para não sacrificar animais é também verdadeira para o dízimo. O dízimo era, juntamente com o sacrifício animal, assim como outras ordenanças, parte da lei mosaica. O que quer que seja válido para um é válido também para o outro. A lei mosaica tornou-se obsoleta a aproximadamente 2.000 anos atrás, com o sacrifício de Cristo. Junto a isto, os sacrifícios de animais, o dízimo e as outras ordenanças da lei também se tornaram obsoletas! Nós podemos aprender delas, mas isso não significa que elas sejam para nossa aplicação direta. É portanto o dízimo bíblico? Sim, é. Ele é bíblico como ele está na Bíblia. No entanto, o dízimo é relevante e válido para o cristão? Aqui a resposta é não! O que é para nossa aplicação direta em relação à doação é que nós vemos escrito no Novo Testamento. E o que nós vimos lá não é dízimo e contribuintes, mas doação alegre de coração, de acordo com a capacidade de cada um. Agora vamos atentar para isto.

Novo Testamento sobre a doação 2 Coríntios 8

Conforme nós dissemos no artigo: “Por que o dízimo não é para o crente do Novo Testamento”, o dízimo é um termo quase desconhecido no Novo Testamento. Eu preciso esclarecer aqui que quando estou falando de Novo Testamento quero dizer a Nova Aliança, a aliança que foi instituída com o sacrifício do Senhor Jesus Cristo. O Velho Testamento, a Velha Aliança, tem de fato muito a dizer sobre o dízimo (esta palavra é usada lá 36 vezes), mas não o Novo. Em contraste, o Novo Testamento diz muito sobre se dar. Para ver o que a Palavra de Deus nos diz – quem vive sob a Nova Aliança, sob esta presente administração de graça - nós começaremos por 2 Coríntios 8. Isto, junto com 2 Coríntios 9 (que nós estudamos em um artigo separado), trabalha diretamente com a questão da doação e contém muita riqueza de informação. Nós exploraremos esta informação conforme se segue: Nós iremos ler blocos da Escritura de 2 Coríntios 8 e então nós exploraremos o que elas estão nos dizendo sobre a doação.

2 Coríntios 8:1-4: O que foi dado, como e para quais propósitos?

Assim, começando de 2 Coríntios 8:1-4 nós lemos:
“Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia; como em muita prova de tribulação houve abundância de seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico), deram voluntariamente. Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia com os santos.”
Esta passagem de 2 Coríntios fala sobre os crentes, o povo que fez as igrejas da Macedônia. Paulo descreve aqui como eles se deram, e, embora haja mais a ser descoberto nesta passagem, eu notei o seguinte:
1. O que eles deram era uma GRAÇA. Em outras palavras, uma tradução mais acurada aqui seria: “que nós tivéssemos recebido a graça e o companheirismo do ministério para os santos”. O que foi administrado aos santos na era da graça não é chamado de “dízimo”, mas de “graça”. A doação do dízimo (dar o dízimo) pertence à era da lei. Na era da graça o que você tem não é mais o dízimo, mas a “graça de doar”.
2. “[Eles] deram voluntariamente” (2 Coríntios 8:3). Novamente é valioso ir até o texto grego aqui. Nesse momento, a palavra usada é “authairetos”. Como diz o dicionário de Vine sobre esta palavra:
“authairetos vem de autos, próprio, e haireoamai, escolher, auto-escolhido, voluntário, de próprio acordo de alguém, ocorre em 2 Coríntios 8:3 e 17, das igrejas da Macedônia como para seus presentes para os pobres santos e de Tito em seu desejo de ir e exortar a igreja em Corinto em relação a este assunto”. (Dicionário de exposição de Vine das palavras do Novo Testamento, Mac Donald Publishing company, p. 25. A ênfase foi acrescentada.)
Os crentes na Macedônia NÃO foram forçados a se doar. O que eles deram foi de forma voluntária. Novamente há uma enorme diferença do dízimo. O dízimo era obrigatório no Velho Testamento. Contudo, o que nós temos aqui não é obrigatório. O que nós temos aqui não é dízimo, mas algo completamente diferente. São as contribuições voluntárias para os santos, dadas de forma livre e com a concordância das próprias pessoas. Em contraste a isto, hoje muitas vezes nós ouviremos as pessoas pregando sobre o dízimo, que as pessoas devem isso a Deus e à igreja e se elas não o dão elas trapaceiam Deus. Desta forma, as pessoas são forçadas, baseadas em culpa, a fazer o que o falante diz. Isto obviamente não tem nada a ver com o livre desejo, as contribuições voluntárias sobre as quais Paulo está falando aqui.
3. “ministério para com os santos” (2 Coríntios 8:4). Agora para que era esta graça? Era para a comunicação com os santos. Paulo nos diz mais sobre esta “comunicação” em Romanos 15:25-26:
“Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos. Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém.”
Esta foi a última visita de Paulo a Jerusalém. Lá ele foi preso. Conforme ele disse sobre o propósito desta viagem em Atos 24.17: “Ora, muitos anos depois, vim trazer à minha nação esmolas e ofertas". Conforme vemos acima, o ministério para os santos, a graça que os crentes na Macedônia e Acaia (Corinto) contribuíram livremente, as contribuições voluntárias, foram contribuição "para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” (Romanos 15:26). O dinheiro estava indo para os irmãos e irmãs. Os membros pobres da igreja eram o objetivo da doação. Administrar para os santos pobres chama muita atenção nas Escrituras. Tiago, João e Pedro disseram a Paulo:
Gálatas 2:9-10 
“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência.”
Tiago, Pedro e João disseram uma coisa a Paulo: “lembre-se dos pobres”! E Paulo executou isto. As pessoas hoje doam o seu dízimo para a igreja aonde elas vão aos domingos, muito disso vai para as despesas de administração, com uma pequena parte (se houver) deixada para os pobres. Na igreja do Novo Testamento, contudo, era de outra maneira: as pessoas não estavam doando involuntariamente – por culpa – mas voluntariamente, e embora houvesse outros propósitos de doação (como nós veremos mais tarde), dar para os santos pobres era provavelmente a coisa mais importante.

2 Coríntios 8:5-8: Exortação à doação: como Paulo fez isso?

Em 2 Coríntios 8:5-8 Paulo exorta os crentes a doar-se. Vejamos como ele fez isso:
2 Coríntios 8:5-8 
“ E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus. De maneira que exortamos a Tito que, assim como antes tinha começado, assim também acabasse esta graça entre vós. “Portanto, assim como em tudo abundais em fé, e em palavra, e em ciência, e em toda a diligência, e em vosso amor para conosco, assim também abundeis nesta graçaNão digo isto como quem manda, mas para provar, pela diligência dos outros, a sinceridade de vosso amor.”
Paulo exorta os crentes a doar-se abundantemente. “Assim também abundeis nesta graça” (2 Coríntios 8:7), ele nos diz. Mas veja o quão gentil ele é. Veja o que ele diz na próxima sentença: “não digo isto como quem manda”. Você não encontrará em nenhum outro lugar no Novo Testamento a coerção e o linguajar que você encontrará em algumas das igrejas de hoje quando se fala de doar-se ou de “dar o dízimo”. Você não encontrará Cristo, Paulo, Pedro, João ou qualquer outra pessoa coercitiva, recitando Malaquias ou outras passagens do Velho Testamento, para dar seus “dízimos” ou qualquer coisa mais ou elas serão ...amaldiçoadas (isso é o que está implícito por alguns dos modernos sermões sobre dízimo). Paulo nada sabe disto. Ele gentilmente exorta os coríntios a abundarem nesta graça tornando claro que ele não fala com quem manda. Ele não os ordena a fazer tal coisa, mas ele os exorta a fazer isso. Ele não tinha um orçamento para satisfazer os pobres santos. Ele não conseguiu um número menor nas sedes e então estava pressionando ou incitando as pessoas a fim de corresponderem a isso. O que ele estava fazendo era estabelecer a verdade. Conforme ele disse: “eu estou provando a sinceridade de seu amor pela diligência dos outros” (2 Coríntios 8:8). Não eram palavras vazias, mas suporte verdadeiro.

2 Coríntios 8:10-15: Doar além de nosso desejo e de acordo com o que se tem

2 Coríntios 8:10-11 
“pois isto convém a vós que, desde o ano passado, começaste; e não foi só praticar, mas também querer. Agora, porém, completai também o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes.”
Esta passagem trabalha com o desejo da doação e a realização destes desejos. A primeira parte da passagem mostra o quão importante é não somente doar, mas também DESEJAR. É o desejo mais a realização deste desejo que Deus quer de Seu povo. Nenhum destes dois funciona sozinho. Deus não quer que você deseje doar e nunca aja de acordo com isso! Dizer sempre: “quão grande seria dar este presente pelo ministério daqueles santos”, mas nunca realizá-lo, embora você tenha os meios. Isto é hipocrisia. E vice-versa, Ele não quer que você dê sem desejar do íntimo de seu coração, como se fosse um comando, da coerção de alguém. Mantenha sempre isto em mente. Ao doar tanto o desejo quanto a ação deste desejo são importantes! A motivação para dar é o desejo em seu coração. E como Filipenses 2:13 nos dizem:
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua vontade”.
Deus está a trabalho em nós para termos vontade, desejar, querer e assim fazer o que é de Sua vontade. Novamente, conforme observamos, a forma que Deus trabalha é colocando totalmente um desejo em nosso coração. Esta é a forma primária que Ele usa para nos motivar. A coerção e a culpa são motivadores errados e inválidos.
Agora falando sobre desejo, e conforme nós também veremos extensamente em nosso estudo de 2 Coríntios 9, um cristão verdadeiro que tem o amor de Deus nele de fato tem um desejo de ajudar seus irmãos pobres. João torna claro que se alguém vê um irmão em necessidades e tem como ajudá-lo, mas escolhe “lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?” (1 João 3:16-18).
Continuando em 2 Coríntios 8:
2 Coríntios 8:10-15 
“completai o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendesPorque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem. Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; Como está escrito: o que muito colheu e não teve de mais; e o que pouco, não deve de menos.”
Há tantas verdades nesta passagem que poderia ser pregado muito, muito mais do que o dízimo do Velho Testamento. Paulo, falando para os Coríntios sobre doação, nos diz que eles deveriam dar “segundo o que eles tivessem”! Agora, se o dízimo fosse válido no Novo Testamento –o que não é – eu retiraria Paulo para fazer um comentário geral: “você doa 10% de seu lucro. Ponto.” Ele está dizendo alguma coisa desta forma? Você pode ter ouvido isso sendo pregado (explícita ou implicitamente) de um púlpito, mas não ouvirá isso da Palavra de Deus! E adivinhe quais palavras contam no final?! “segundo o que tendes” significa “de acordo com o que você possua” e dessa forma não há mal entendidos, Paulo torna isso claro: “não segundo o que não tem”(2 Coríntios 8:12)! Hoje algumas igrejas pressionam (gentilmente ou de outra forma) seus membros a dar seu dízimo (i.e., 10% de seu lucro) para os fundos da igreja. Fora o fato de que tal chamado é errado, não há também qualificação alguma adicionada a isso. Espera-se da família pobre que pode mal corresponder às suas expectativas que tire 10% de seu pagamento e o doe à igreja. Diz-se que Deus os abençoará muito mais se eles fizerem isso. A questão é que a Nova Aliança não conhece sobre tal doação. De acordo com a Palavra, o que é que seja doado deve ser segundo o que se tem. Você não pode tirar das necessidades de sua família para cobrir as necessidades de outra família, para não dizer as necessidades da organização da igreja (contas, salário de pessoal, etc.). Isto é o que a Palavra de Deus diz. Você somente dá o que você tem. Você não tem, você não pode dar! Conforme Paulo disse a Timóteo:
I Timóteo 5:7-8 
“Manda, pois, estas coisas, para que elas sejam irrepreensíveis. Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e especialmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.”
Primeiro espera-se que você forneça à sua própria família e a seu povo i.e., àqueles que são dependentes de você. Quem quer que não faça isso, diz a Palavra de Deus, é pior do que um descrente. Depois que estas necessidades estiverem cobertas você pode pensar nas necessidades que estão fora de sua própria casa. Isso é fora do que você tenha, após as necessidades de sua família terem sido supridas. Conforme Paulo torna claro na passagem acima de 2 Coríntios 8:13-14:
“Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade”.
Paulo não tinha intenção alguma de ajudar o pobre em Jerusalém tornando os Coríntios pobres! Ele não tinha pensamento algum de oprimir alguém para aliviar outros! Eles ajudariam dentro de suas abundâncias. Esta abundância que supriria a falta dos santos pobres em Jerusalém neste momento, de forma que a abundância destes, agora pobres, santos, poderia suprir a ausência dos Coríntios em outro momento.
Seguindo adiante, nós mencionamos isso tendo diante do fato de que o presente em si não seja suficiente. Tem que haver um desejo para isso. Não pode ser por comando! E em 2 Coríntios 8:12 Paulo repete novamente: “Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem". Prontidão, um coração desejoso é um pré-requisito para um presente. Se (primeiro) esta prontidão estiver lá, então (em segundo) o presente é aceito "segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem" (2 Coríntios 8:12).
Para resumir o que nós vemos em 2 Coríntios 8:10-15 nos dizendo: para um presente ser aceitável, um coração desejoso é um pré-requisito. Deve haver prontidão, vontade, um desejo de doar. E deve-se doar segundo este desejo. Deve-se doar não segundo o que não se tem, mas segundo o que se tem. A igualdade não é feita doando-se dentro de nossa falta, mas doando-se dentro de nossa abundância, dentro de nosso excedente para cobrir a falta de alguém. Seu excedente será reduzido e pode ser eliminado, mas sua falta será reduzida e poderá ser eliminada também! Essa é a doação do Novo Testamento. Essa é a graça da doação!

2 Coríntios 8:16-21: Transparência na administração do presente

Continuando em 2 Coríntios 8 e seguindo adiante nos versículos 16-21:
“Mas graças a Deus, que pôs a mesma solicitude por vós no coração de Tito; pois aceitou a exortação, e muito diligente partiu voluntariamente para vós. E com ele enviamos aquele irmão cujo louvor no evangelho está espalhado em todas as igrejas. E não só isto, mas foi também escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem, nesta graça que por nós e ministrada para glória do mesmo Senhor, e prontidão do vosso ânimo; evitando isto: que alguém nos vitupere por esta abundância, que por nós é administrada; pois zelamos do que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens.
Eu quero focar na parte da passagem acima que eu enfatizei. Paulo não estava somente coletando contribuições para os santos pobres, mas ele também se preocupava para que ninguém passasse vergonha diante dele e sua equipe “por esta abundância, que por eles era administrada” (2 Coríntios 8:20). Por que eles vituperariam isso? Por terem usado a graça de forma inapropriada. Por usarem-na para si próprios. Por dizerem uma coisa mas fazerem outra. Para evitar qualquer uma destas situações, Paulo tinha consigo um irmão que fora escolhido pelas igrejas para viajar com eles com esta graça. Se você estiver administrando as graças do povo de Deus, faça o que Paulo fez: tome medidas de forma que ninguém possa vituperá-lo na administração destas graças. Seja transparente! Tão transparente quanto possível! Dê dados frequentes do que você vez com a graça. O que foi recebido, onde foi gasto, o que sobrou? Consiga testemunhas pelo povo. Nada deve ser escondido. Devemos estar abertos e transparentes com as graças. Paulo cuidou de fornecer coisas honoráveis não somente aos olhos de Deus, mas também aos olhos dos homens. Nós também devemos fazer assim.

2 Coríntios 8: Conclusão

2 Coríntios 8 e 9 são dois capítulos com riqueza de informação sobre o doar e como isso se aplica na era do Novo Testamento. Neste artigo nós trabalhamos com 2 Coríntios 8; nós também lidaremos com 2 Coríntios 9 no próximo artigo. Resumindo o que aprendemos de 2 Coríntios 8:
i) 2 Coríntios 8 fala sobre os presentes, os presentes das graças. Não fala sobre dízimos e contribuintes, mas sobre graças e doadores.
ii) O propósito da graça era dar suporte aos santos pobres em Jerusalém (2 Coríntios 8:4). Dar suporte aos santos pobres não é o único propósito para o qual as graças podem ser dadas. Nós veremos mais propósitos. No entanto, doar-se para o pobre é um dos mais importantes Eu acredito, baseado na Escritura, que dar apoio aos santos pobres deveria ser de prioridade muito alta na doação das pessoas, assim como nas doações congressionais.
iii) As pessoas deveriam doar livremente e não serem forçadas a doar (2 Coríntios 8:5-8).
iv) Por outro lado: o desejo é um pré-requisito para se doar. É o motivador primeiro. Não há lugar algum em 2 Coríntios 8 para as graças dadas pela culpa, ou porque “é obrigatório” (2 Coríntios 8:10-15).
v) As pessoas deveriam doar segundo o que elas tivessem, e não segundo o que elas não tivessem. Não havia percentagem fixa alguma de quanto uma pessoa deveria dar. Tudo era uma combinação de a) um desejo e b) capacidade, i.e., “de acordo com o que elas tinham” (2 Coríntios 8:12).
vi) Finalmente, Paulo estava tomando medidas não para permitir qualquer oportunidade para alguém de forma a vituperá-lo em relação à administração desta doação. Ele foi totalmente transparente em relação a este presente e seu uso (2 Coríntios 8:20).

Novo Testamento sobre a doação - 2 Coríntios 9

Este estudo é uma continuação do estudo respectivo de 2 Coríntios 8. A riqueza de informação dada em 2 Coríntios 8 relacionada à doação continua em 2 Coríntios 9 também.

2. Coríntios 9:1-5: o presente como uma benção e não como cobiça

2 Coríntios 9:1-5
“Quanto à administração que se faz a favor dos santos, não necessito escrever-vos; porque bem sei a prontidão do vosso ânimo, da qual me glorio de vós com os macedônios; que a Acaia está pronta desde o ano passado; e o vosso zelo tem estimulado muitos. Mas enviei estes irmãos, para que a nossa glória, acerca de vós, não seja vã nesta parte; para que (como já disse) possais estar prontos, a fim de, se acaso os macedônios vierem comigo, e vos acharem desapercebidos, não nos envergonhemos nós (para não dizermos vós) deste firme fundamento de glória. Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa bênção, já antes anunciada, para que esteja pronta como bênção, e não como avareza.”
A palavra “benção” na última sentença da passagem acima vem da palavra grega “eulogia”, que tem o mesmo significado de “benção”. Também o que está traduzido como "avareza” é a palavra grega "pleonexia", que significa "cobiça".
Paulo chama o presente de “benção”. Não é um dízimo, não é nem uma doação forçada. É uma benção! Assim é como nós devemos também pensar de nossos presentes para os pobres santos: como bênçãos! Paulo estava excitado que os Coríntios quisessem dar tanto, mas ele não os estava pressionando sobre isso. O presente era “ser feliz como uma benção [grego: eulogia]: e não como cobiça [grego: pleonexia]”. Aqui está o que um comentarista diz sobre isto (Barnes: Notas sobre a Bíblia, de Albert Barnes):
“A palavra usada aqui (pleonexia) significa normalmente cobiça, ganância por ganho, que conduz uma pessoa a defraudar as outras. A ideia aqui é que Paulo teria isto como um ato de generosidade, ou de liberalidade da parte deles, e não como um ato de cobiça de sua parte, não conforme exortado por ele vindo deles"(ênfase acrescida)
Paulo queria o presente dos Coríntios como uma benção, e não algo que fosse tirado de alguém, por cobiça. É uma pena que haja pessoas hoje que façam o que Paulo faria: usar de manipulação e incitação para exortar presentes das pessoas. As pessoas hoje não se preocupam com os meios tão longo como seus objetivos são obtidos. Isso não seria desta forma. Isto não é de forma alguma o que Deus quer. O que ele quer é que seu presente seja uma benção, um ato de liberalidade, algo que você deseja e você pode dar, e não é, de forma alguma, algo que seja tirado de você por culpa, incitação, ou qualquer outra das técnicas que são muitas vezes usadas hoje. De volta a Paulo, ele não teria ganancioso em relação ao presente. Ele queria que os Coríntios doassem, mas ele era muito cuidadoso, muito gentil. Ele estava cuidado em 2 Coríntios 8 e está cuidadoso aqui também. Conforme Barnes diz corretamente, ele queria o presente fosse um ato de bondade, de liberalidade, por sua parte e não por um ato de cobiça de sua parte. O quão libertadora é a Palavra de Deus e como tanta distorção existe na forma que muitos demandam dinheiro.

2 Coríntios 9:6-7: a lei da semeadura e colheita e (novamente) como doar

2 Coríntios 9:6-7
“E digo isto: que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria."
Se nós tivéssemos ouvido algo, e isto muitas vezes, de 2 Coríntios 9 é o versículo 6 (“quem o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará”). Mas Paulo não usa o versículo 6 para manipular os crentes a darem. Ele já falou por quase um capítulo e meio sobre como se dar, antes que ele chegasse neste versículo. O que Paulo faz em 2 Coríntios 9:6 é estabelecer a simples verdade: se você semear pouco, você colherá pouco, e se você semear com abundância, você também colherá abundantemente. De acordo com o que você semeia você também colherá. Haverá um retorno para seu presente, e este retorno está de acordo com quanto você dá. NO ENTANTO, a doação tem de ser voluntária, do coração. Nenhum presente é bem vindo se ele for dado relutantemente, com pena, sem ser feliz com isso, ou se é dado de forma compulsória ou "por necessidade" (2 Coríntios 9:7). "Por necessidade" significa porque você tem de fazer isso. Você não quer dar, mas você, de alguma forma, é forçado a dar. E isto é o que acontece muitas vezes com o dízimo. Os pregadores surgem, começam a recitar Malaquias e o Velho Testamento, em passagens sobre o dízimo e terminam dizendo ou implorando que, se você não dá o dízimo para a igreja você está contrariando Deus (ou está próximo a contrariá-lo) e você o despreza. Então você segue em frente e coloca dinheiro no cesto de dinheiro em resposta a isto. Na verdade você não deu de forma voluntária, mas você deu porque você não queria importunar Deus e contrariar – como o pregador lhe disse. Você preferiria alimentar os pobres, comprar alguns sacos de arroz para as crianças no Haiti e dar apoio a aquele evangelista que espalha a mensagem gospel na Índia. Mas agora você foi forçado pelo pregador a dar alguma coisa mais que você na verdade não queria dar. Então você dá com culpa, por causa da condenação. Agora, se não for dar com tristeza e dentro de suas condições eu me pergunto o que seja . Caro irmão, você não tem que se sucumbir a tais chamados! O que você disse não é simplesmente a voz da Palavra de Deus, mas a voz da tradição e da religião que distorce a Palavra de Deus. Você não deve doar porque alguém força você a doar-se, mas porque você na verdade queria dar de coração. Se você der por culpa, se você tiver que sofrer por isso, o presente não será de maneira alguma bem vindo por Deus. Também, para aqueles que usam a condenação e a culpa como técnicas para forçar as pessoas de Deus a dar por seus propósitos, eu gostaria de apontar que: Paulo disse que ele não queria os presentes para serem como dados, exortados deles. Deus não queria realmente tais presentes, porque as pessoas não os davam voluntariamente, mas eles eram, de fato, furtados se você preferir! Não por força de poder, mas por força das palavras!
Tendo dito o acima, vamos dar uma olhada em 1 João 3:16-18:
1 João 3:16-18
“Conhecemos o amor nisto: que Ele deu sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?” “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”
A Palavra de Deus diz em 2 Coríntios 9:7 não para se dar forçadamente, ou acima de suas necessidades, porque alguém disse a você para dar. Em vez disso nós devemos doar de coração e ser generosos nisso. Deus ama aquele que dá com alegria. Ele não aceita o presente que é dado com tristeza. Em terreno igual é pecado ter qualquer amor pelo dinheiro. Conforme disse Paulo “o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males” (1 Timóteo 6:10). Ele também diz que a genuinidade de nosso amor é testada pelo quanto nós nos preocupamos com os outros (2 Coríntios 8:8). E o que João descreve aqui é uma situação real: você tem dois irmãos. Um tem seus produtos do mundo. Ele tem camas vazias extras em casa. Tem muito dinheiro no banco. Tem muita comida no celeiro. Agora este homem encontra um irmão que está em necessidade. Uma necessidade que o primeiro pode satisfazer. O que deveria fazer o primeiro irmão? Deveria ele orar por seu irmão em necessidade? Sim, ele deveria fazer isto também, mas ele não deveria permanecer lá! Ele deveria doar–lhe e ajudá-lo. Ele não deveria fechar seu coração como João diz e somente resmungar uma oração ou dizer “Deus o abençoe, meu irmão” e seguir seu caminho. O teste de preocupação para com os outros prova a sinceridade de nosso amor e se o amor de Deus está em nós ou não. E isto é verdadeiramente uma questão muito séria.
Agora, voltando para o sistema de dízimo, há a outra distorção criada por ele: as pessoas são forçadas a dar seu dízimo para o cesto de uma igreja local e assim quando eles veem um irmão em necessidade, eles pensam: “eu já dei meu dízimo à igreja”.
Assim nós damos além da necessidade para propósitos que dão pouca ajuda aos pobres (muito do que é dado a um cesto de igreja local na verdade não termina ajudando o pobre - isto é triste, mas é verdadeiro e uma olhada no orçamento de uma igreja média, especialmente no mundo ocidental, é suficiente para verificar isso) e então quando o pobre aparece nós não queremos ou não podemos ajudá-lo. Isto é verdadeiro, triste e uma situação incomum.
Retornando a 2 Coríntios 9:6, as pessoas muito frequentemente costumam usar isso para contar as outros que se você der muito Deus retornará a graça a você de forma multiplicada. De fato, em acréscimo a 2 Coríntios 9:6, eles novamente usam Malaquias para isto:
Malaquias 3:10-12
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos.”
Alguns pregadores e ministros erradamente usam as passagens acima incitando sua audiência a dar com a promessa de muitas bênçãos financeiras. Assim as pessoas doam. Mas por quê? Qual é o motivo delas? Nenhum dos motivos de 2 Coríntios ou a palavra remanescente de Deus. Não é um ato de generosidade do coração, mas, em vez disso, ou um ato de culpa (eles doam de forma que eles não ... trapaceiem Deus, como o pregador lhes disse) ou um ato de ganância (eles dão de forma que possam receber muito mais). Deus é apresentado desta forma como uma máquina de dinheiro, como um banco. “Dê o seu dízimo e você terá de volta multiplicado”. Ter dinheiro como motivo está errado! Embora Deus retorne com bondade a aqueles que dão com bondade, seria fora do propósito e da característica para Paulo usar 2 Coríntios 9:6 para incitar os coríntios a dar sob as promessas de colheitas grandes e maiores! O que eu acredito que Paulo queria fazer era estabelecer os fatos. Há de fato uma colheita para os doadores. Há de fato uma recompensa. Eu não sei o que é, mas por que deveria ser necessariamente uma colheita financeira ou uma colheita que se refira somente à vida terrena presente? A principal coisa é que há uma colheita! E aquele que semeia pouco colherá pouco, e aquele que semeia abundantemente também colherá com abundância. Isto é um fato! A palavra não fala de colheitas financeiras, ela fala de colheitas e que pode haver muitos tipos diferentes delas, incluindo as financeiras. Você quer chamá-las de “bênçãos”, aqui e no céu? Chame-as de bênçãos. Eu gosto mais da palavra colheita! Você quer colher muito? Então semeie muito!

2 Coríntios 9:8-15: “em tudo, toda a suficiência” garantida por Deus

2 Coríntios 9:8-9
“E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre.”
Deus, através de Paulo não deixa sombra alguma de dúvida: ninguém entrará em necessidades por doar deliberadamente. Conforme ele deixa claro, Deus assegura que eles terão em tudo toda a suficiência, e que seja sempre! Eles terão uma abundância por todo bom trabalho! Deus mesmo garante isto! Então Paulo questiona os Salmos 112:9: Ele espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça permanece para sempre.” Agora esta passagem não se refere a Deus. Ela não diz: “Deus espalhou, deu aos pobres; a justiça de Deus permanece para sempre.” Em vez disso, este Salmo se refere ao homem que teme ao Senhor. Vamos lê-lo em sua totalidade, porque ele contém muitas promessas:
Salmos 112:1-10
"Louvai ao SENHOR! Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor, que em seus mandamentos tem grande prazer. A sua semente será poderosa na terra; a geração dos retos será abençoada. Prosperidade e riquezas haverá na sua casa, e a sua justiça permanece para sempre. Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso, misericordioso e justo. O homem bom se compadece, e empresta; disporá as suas coisas com juízo; Porque nunca será abalado; o justo estará em memória eterna. Não temerá maus rumores; o seu coração está firme, confiando no Senhor. O seu coração está bem confirmado, ele não temerá, até que veja o seu desejo sobre os seus inimigos. Ele espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça permanece para sempre; e a sua força se exaltará em glória. O ímpio o verá, e se entristecerá; rangerá os dentes, e se consumirá; o desejo dos ímpios perecerá.”
Nós temos extensamente escrito em outro estudo sobre o temor do Senhor. O homem que teme o Senhor será abençoado! E alguma das coisas que o homem que teme o Senhor faz é doar-se aos pobres. Ele é liberal em sua doação. Ele se dispersou. Ele não é avaro, mas generoso, porque Deus é sua abundância. E como 2 Coríntios 9:8-9 nos disse, Deus próprio garante que quando você doa deliberadamente para os pobres você não irá perder sua semente. E continua:
2 Coríntios 9:9-15
“Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos; e pela sua oração por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há. Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável.”
Deus que fornece a semente ao semeador e o pão para alimento fornecerão e multiplicarão a semente que nós semeamos de forma que nós possamos semear ainda mais. E Paulo explica que este presente, o presente para os pobres, abundará em muitas ações de graças a Deus. No exemplo de Coríntios os recipientes glorificariam Deus pelo compartilhamento liberal, a generosidade de seus irmãos e irmãos coríntios.

2 Coríntios 9: Conclusão

Neste artigo nós consideramos o que 2 Coríntios 9 nos diz sobre a doação. O que nós vimos aqui tem que ser acrescido ao que nós vimos no artigo respectivo de 2 Coríntios 8. Aqui estão os pontos adicionais que nós vimos neste estudo:
i) Paulo queria que o presente fosse um ato de generosidade pelo lado dos coríntios, não um ato de cobiça ou avareza de seu lado, onde ele de alguma forma exortaria o presente deles através da culpa ou de outra forma manipuladora (2 Coríntios 9:1-5). Em contraste com muitos hoje, Paulo não usou da culpa para conseguir a bênção. A benção não é a única coisa que é importante. É igualmente importante saber como a doação é dada. Usar a culpa para motivar as pessoas a doarem está errado. O único motivador válido que eu vi é o desejo de coração para doar.
ii) Então nós vimos que a graça não deveria ser dada de forma relutante ou antes das necessidades (2 Coríntios 9:7). Em vez disso, deve-se doar com alegria. Novamente nós vemos o mesmo conforme dito em i) acima. O presente em si não é suficiente. É igualmente importante como o presente é dado e qual é o motivador que fez alguém doar.
iii) Quem quer que semeie pouco também colherá pouco, e quem quer que semeie abundantemente também colherá abundantemente (2 Coríntios 9:6). Se você quiser uma lei, esta é uma lei, um princípio que nunca será violado. Doar-se é como semear sementes. Você semeia muito, você colhe muito. Isso não significa necessariamente uma colheita financeira, ou somente uma colheita financeira. Significa colheita, e esta colheita pode ter várias coisas, incluindo as colheitas “financeiras”. Paulo não estabelece isto para incitar as pessoas de forma que elas doem por cobiça. Nada há de bom na cobiça e isto nunca pode ser um bom motivador para nada. Ele diz isto para estabelecer um fato, e a lei da semeadura e da colheita é um fato.
iv) Deus próprio dá segurança de que você de forma alguma ficará pobre por doar-se deliberadamente (2 Coríntios 9: 8-10). Deus próprio garante isto. Como a Palavra diz: “Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra" (2 Coríntios 9:8). TODA graça, TODA suficiência, em TODAS as COISAS, SEMPRE, de forma que você tenha abundância em TODAS as boas obras. Isso não pode ficar mais claro. Há alguém que garante por trás desta promessa, e este é o próprio DEUS.

Novo Testamento sobre a doação - 1 Coríntios 16

Embora 2 Coríntios 8 e 9 sejam as exposições mais longas em relação à doação no Novo Testamento, existem na Escritura, que estão endereçados ao corpo de Cristo, mais passagens sobre este tópico importante. Um deles está em 1 Coríntios 16:1-5. Lá nós lemos:
“Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém. E, se valer a pena que eu também vá, irão comigo.”
Esta passagem é muito semelhante em caráter com 2 Coríntios 8 e 9. Novamente a coleta é para os santos (pobres) em Jerusalém. Eles são os mesmos receptores conforme em 2 Coríntios. Parece que os santos de Jerusalém estavam em grande necessidade e os Coríntios, os macedônios e talvez também os Gálatas, estavam contribuindo para ajudar as suas necessidades. O que é novo nesta passagem é a referência ao ajuntar para os pobres no primeiro dia da semana.
O texto grego traduziu aqui como “o primeiro dia da semana”, o que é "em um dos sabbaths". Ele é usado em algumas ocasiões no Novo Testamento, mas não está claro para mim o que ele significa exatamente. Em relação a isto, o que Paulo diz aqui para os Coríntios é que cada um deve manter um tipo de fundo para os pobres, acumulando lá em uma base regular (“em um dos sabbaths”) conforme se possa prosperar. Note a regra aqui: a regra não é o dízimo. Ela não é: “acumule os seus dízimos”. Ela é “ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade” (1 Coríntios 16:2). Tanto o rico quanto o pobre poderiam ajuntar, cada um conforme a sua prosperidade, i.e., de acordo com os seus recursos. Em 2 Coríntios 8 e 9 pegue a isto a adição do desejo, da alegria, da não relutância, mais os outros elementos que nós vimos lá. A razão que Paulo apresenta em relação à necessidade da regularidade destas contribuições é, conforme ele diz, “para que não se façam as coletas quando eu chegar” (1 Coríntios 16:2). Esta é a razão por trás de se fazer as contribuições em uma base regular. Estas contribuições continuariam para sempre, ainda depois que Paulo chegasse? Não, não pelo menos para este propósito. As contribuições eram para um propósito específico (“para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” - Romanos 15:26) e eram feitas dentro de uma base regular (“no primeiro dia da semana” – 1 Coríntios 16:2) de forma que elas não seriam feitas de forma precipitada quando Paulo chegasse. Depois que Paulo tivesse chegado eles não continuariam, pelo menos não para este propósito. Mas o princípio está lá, e o princípio é que como cristãos nós devemos ajudar aos nossos irmãos pobres. Isto não seria uma doação errática – embora isto pudesse ocorrer também – mas poderia também ser uma doação em uma base mais regular, baseada nas necessidades. Nós poderíamos ser destinados a isso a partir de um implantador de igreja (como Paulo aqui) ou poderíamos também ser levados para lá diretamente pelo Senhor ("O rico e o pobre se encontram; a todos o Senhor os fez" – Provérbios 22:2).

Doação no Novo Testamento – Atos 2 e 4

Os primeiros capítulos em Atos são muito bem conhecidos por causa do compartilhamento que eles demonstram entre os crentes. Aqui estão algumas partes:
Atos 2:42-45 
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.
Atos 4:32-35 
“E era um coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles, necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.
Nós temos trabalhado extensamente com estas referências de Atos em nosso estudo sobre as posses materiais2. Aqui estão alguns pontos desse estudo:
i) O que aconteceu em Atos 2 e 4 foi voluntário, não por ordem. As pessoas não tinham que vender suas posses nem este é um pré-requisito para ser um cristão. Elas faziam isso por sua própria vontade. Prova? O que Pedro disse a Ananias, o homem que vendeu uma posse e trouxe parte do lucro para os apóstolos, apresentando-o como se fosse o preço total (i.e., ele mentiu). Conforme Pedro disse a ele: “Enquanto permaneceu, não era seu? E depois que foi vendido, não estava somente sob seu próprio controle?” Se Ananias tivesse mantido sua propriedade e não a tivesse vendido, isso NÃO teria sido um pecado. O pecado de Ananias não foi que ele possuísse terra, mas que ele tivesse trazido parte do preço para os apóstolos, apresentando-a como se fosse o preço total. Era legítimo ter terra e era legítimo manter todo o lucro de sua venda. O que não era correto era apresentar esse lucro a Deus e à igreja como se fosse o preço total da terra, quando ele somente ofertava parte desse lucro. Isto foi uma mentira a Deus, e isso foi o que Pedro condenou. Disto nós podemos deduzir que não é um pecado ter posses materiais, nem que no século 1 da igreja todos tivessem que vender suas posses depois que se tornassem cristãos.
ii) O que aconteceu em Atos 2 e 4 foi único e não era a prática geral da igreja do Novo Testamento. De fato nós não encontramos esta prática em nenhum outro lugar fora de Jerusalém. O que nós somente vemos em 1 Coríntios é que todo mundo estava para colocar de lado em uma base regular o que se pudesse prosperar de forma que, quando Paulo chegasse, isso seria ajuntado e levado para os santos pobres em Jerusalém.
iii) Embora não seja um pecado ter posses materiais, deve haver uma atitude correta em relação a elas. E esta atitude é considerar ativamente tudo como pertencente ao Senhor, e não a você, Seu administrador. Isso é buscar ativamente o desejo do Senhor sobre tudo, inclusive as suas posses. Isso é estar pronto para vender tudo, se você for chamado para fazer tal. Nós, é claro, não falamos aqui sobre um desejo de ser rico, um desejo de conseguir mais e mais posses. Tal desejo tem um nome na Palavra de Deus, e ele é ganância, amor pelo dinheiro, a raiz de todo o mal (1 Timóteo 6:10). Tal desejo não tem lugar algum na vida de um cristão genuíno.

Dando suporte aos salários de pessoal da igreja – o que diz a Palavra e o que ela não diz

Esta é outra questão muito importante quando se chega a falar de doação. Por pessoal, aqui eu quero dizer as pessoas como os pastores, os pastores assistentes, os pastores jovens, i.e., os “profissionais”, quem de alguma forma supõe-se que execute o trabalho ministerial principal da igreja local. Esta questão se torna ainda mais interessante porque os salários de pessoal provavelmente compõem a maior porção das despesas que uma igreja moderna tem. Antes que sigamos adiante, temos que notar que a hierarquia da igreja que nós vimos hoje nas igrejas contemporâneas não é algo que nós encontraremos na Bíblia. De acordo com esta hierarquia, nós temos o pastor sênior que é – implícita ou explicitamente – algo como o cabeça/chefe da igreja. Abaixo dele você tem outros profissionais semelhantes que fazem o trabalho do jovem pastor, pastor assistente, etc., e eles são normalmente empregados de tempo integral da igreja, trabalhando mediante as ordens do pastor sênior. O pastor sênior em si pode estar sob a autoridade de um “bispo”, que é um tipo de responsável pelo clero em uma região. Então você tem os anciãos. Estes são normalmente não “profissionais”, i.e., eles são pessoas com trabalhos em tempo integral, pessoas “normais” que participam da administração da igreja. Finalmente, você tem todos os crentes, que, juntos com os mais velhos, também são chamados de “leigos”. Embora nem todos os seguidores da igreja sigam tais distinções explícitas, estas existem, ainda que implícitas, na vasta maioria das igrejas. Indo ao Novo Testamento agora, nós veremos que não havia tais estruturas lá. Lá você não vê pastores, pastores assistentes, bispos e mais velhos como categorias separadas de pessoas. No Novo Testamento, o que você vê na liderança da igreja local são os mais velhos. Estes também são chamados de pastores e bispos. No Novo Testamento, os anciãos, pastores, bispos, são todos termos usados para o mesmo povo. A função destas pessoas é ser pastor, arrebanhar para a igreja local, supervisionando a congregação (a palavra grega para “bispo” significa supervisor) conforme eles sejam irmãos mais velhos, i.e., mais velhos na fé, crentes maduros. Há muitas escrituras que tornam isto claro e eu logo terei outro estudo trabalhando exclusivamente com esta questão, mas aqui está uma passagem que abrange tudo: Em Atos 20:17 Paulo, em seu caminho para Jerusalém, passou por Éfeso, onde ele “clamou os anciãos da igreja”. Note que há uma igreja, a igreja em Éfeso, e muitos anciãos. Note também que Paulo chamou pelos anciãos. O texto não diz que ele chamou os anciãos, o pastor sênior, os pastores assistentes e o bispo. Foram somente os anciãos! A mesma coisa, sem nenhum título especial ligado a nenhum deles. Não havia pessoal algum chamado de “pastor sênior”, ou “pastor assistente”, etc. Eles eram todos anciãos. E eles eram muitos! Vejamos o que agora ele lhes disse:
Atos 20:28
“Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constitui bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.”
Neste versículo você tem tudo. As pessoas convidadas nesta reunião eram os anciãos da igreja em Éfeso. Agora qual era o papel destes irmãos? Seu papel era o de SUPERVISORES. A palavra traduzida “supervisores” neste versículo é a palavra grega “episkopos”. É esta própria palavra que em 1 Timóteo 3:2 é traduzida como “bispo”, dizendo: “Convém, pois, que o bispo [episkopos] seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio,...”. Ela é novamente traduzida como tal em Tito 1:7 “porque convém que o bispo (episkopos) seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus”. Os anciãos da igreja em Éfeso – e por isto, os anciãos de toda a igreja do Novo Testamento – eram “episkopoi”, o que significa supervisores. Por outro lado: os "episkopoi” mencionados na Bíblia são os anciãos da igreja local. Conforme Vine, em seu dicionário, diz:
“o termo “ancião” indica a experiência espiritual madura e o entendimento desses então descritos; o termo "bispo”, ou “supervisor”, indica o caráter do trabalho empreendido” (Dicionário de Vine, pp. 130-131).
Bispos e anciãos são a mesma coisa na Bíblia. Pode ser que no mundo de hoje estes sejam apresentados como duas classes diferentes de pessoas, mas tal distinção não vem da Bíblia.
Mas Atos 20:28 nos dizem mais: note que os anciãos foram apontados para apascentar a igreja de Deus ou para serem pastores como algumas traduções usam. A palavra “pastor” que aparece nesta passagem [em inglês] é a palavra grega: “poimaino”, que significa: “agir como um pastor” (Dicionário de Vine, p. 427), em outras palavras, “arrebanhar”. Um pastor é alguém que alimenta um rebanho. Não somente providencia o alimento, mas também o guia, indo à sua frente. Além do mais, ele cuida dos alquebrados. Nós podemos encontrar todas as funções de um pastor dentro da Palavra de Deus, mas, como eu disse, eu não quereria ir mais adiante neste estudo, uma vez que seu propósito é diferente. Haverá outro estudo a seguir trabalhando com estas questões. O que no entanto nós necessitamos manter em mente aqui é o seguinte: Em qualquer lugar a Palavra de Deus faz as distinções que nós temos hoje na maioria das igrejas. Ela nada sabe sobre pastores, bispos, pastores assistentes, anciãos como categorias separadas de pessoas. Tudo de que ela fala é dos anciãos que apascentam o rebanho de Deus, a igreja local, sendo observadores dela. Estes anciãos não eram pessoal com graus teológicos. Eles eram pessoas comuns da congregação. Eles eram crentes que haviam amadurecido e estavam prontos para arrebanhar e supervisionar os crentes mais novos com objetivo final de construírem-nos em Cristo. Não há indicação alguma na Escritura de que estas pessoas tinham que deixar seus trabalhos seculares normais. Não há também nenhuma indicação na Escritura de anciãos conseguindo um salário mensal normal ou, de outra forma, um salário regular da igreja local para o que eles estivessem fazendo. De fato, não havia nenhuma igreja do Novo Testamento em que os anciãos que arrebanhavam, supervisionavam a congregação fossem empregados em tempo integral da igreja, conseguindo um salário regular da igreja. Nós temos uma prova disto? Sim, temos. Somente leia a seguir.

Sobre os salários do pessoal da igreja: o exemplo de Paulo

Paulo e sua equipe eram trabalhadores apostólicos, indo de cidade em cidade pregando o evangelho e implantando igrejas. Eles nunca permaneceram em um lugar particular permanentemente. Eles estavam mais ou menos sempre em movimento, pregando o evangelho. Por estas pessoas, e nós também veremos mais tarde, o Senhor comandava:
1 Coríntios 9:14 
“Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.”
Isto não é uma referência para os anciãos, residentes permanentes de uma igreja local. Isso não é usado para eles em 1 Coríntios 9. A referência aqui é para os apóstolos, os trabalhadores apostólicos que estavam indo de cidade em cidade, pregando o evangelho e implantando igrejas. Em outras palavras, eles eram o que nós chamamos hoje de missionários. Estes trabalhadores apostólicos eram intitulados para viver totalmente o evangelho. Paulo era um deles, Barnabé era outro. Conforme diz Paulo nos versículos 3-6 do mesmo capítulo:
“Esta é a minha defesa para com os que me condenam. Não temos nós direito de comer e beber? Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?
Para reelaborar a última questão de forma que ela se encaixe nas primeiras perguntas que foram elaboradas: “Barnabé e eu não temos o direito de parar de trabalhar?” A questão implica que os apóstolos não tinham em geral uma segunda ocupação. Mas Paulo e Barnabé tinham. Paulo e Barnabé, com “o cuidado de todas as igrejas" (2 Coríntios 11:28) sobre Paulo, ainda estavam trabalhando. O Senhor havia dado a eles o direito especial de não ter uma ocupação secular, mas de viver do evangelho. Mas eles não usavam deste direito. Aqui está o que Paulo diz:
1 Coríntios 9:14-18 
“Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho. Mas eu de nenhuma destas coisas usei, e não escrevi isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã esta minha glória. Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada. Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho.
Paulo tinha o direito de viver do evangelho. Apesar disso, ele não fez uso deste direito, embora, como veremos, ele, de fato, ocasionalmente, recebia dos crentes contribuições voluntárias não solicitadas. Ao mesmo tempo ele estava trabalhando. Conforme em Atos 18: 1-3 nos diz:
“E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome Áquila, natural do Porto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, e, como era do mesmo ofício, ficou com eles, E TRABALHAVA; pois tinham por ofício fazer tendas.
O evangelho não tinha e não devia ter um preço relacionado a ele. Ele deve ser livre de custos, e Paulo certificava-se de que ele o era. Mas também há outra razão porque ele fez isso. E a mesma está mostrada em 2 Tessalonicenses 3:6-10:
“Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem de graça comemos o pão de homem algum, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, MAS PARA VOS DAR EM NÓS MESMOS EXEMPLO, PARA NOS IMITARDES. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também.”
Paulo e sua equipe tinham autoridade para “comer o pão de outros gratuitamente”. Eles tinham autoridade para isto como trabalhadores apostólicos, não como anciãos de uma igreja local. Mas eles nunca fizeram isso. Em vez disso, eles trabalhavam, dia e noite, conforme ele diz. Por quê? De forma que eles fizeram de si próprios um EXEMPLO para os irmãos seguirem. “Exemplo” é a palavra-chave aqui. E qual é o exemplo: que eles deveriam trabalhar, e se alguém não trabalhar, também não comerá.” Agora o que isto significa para as igrejas que Paulo fundou, as igrejas do Novo Testamento? Se Paulo e seus co-trabalhadores estivessem trabalhando juntos onde quer que eles fossem, e eles estavam fazendo isto para ser um modelo, um exemplo para os outros crentes, você pensa que havia algum ancião neste igreja que não estivesse trabalhando, mas tivesse seu salário da igreja? Eu penso que não. Em acréscimo, embora os trabalhadores apostólicos – implantadores de igreja – tenham o direito de escapar fazendo sua vida através de uma ocupação secular, os anciãos não têm esta autoridade.
Mas as referências da Palavra de Deus para o exemplo de Paulo não param aqui. 1 Tessalonicenses 2:9 nos dizem:
“Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus.
Eles estavam trabalhando dia e noite de forma que eles não fossem um peso para nenhum dos crentes. O ministério não era uma ocupação para eles; algo de onde tirassem o sustento de suas vidas. Fazer o desejo de Deus era a vida deles, mas eles não ganhariam suas vidas financeiras a partir disto. Para conseguir seu sustento eles trabalhariam, como qualquer outra pessoa, dando um EXEMPLO para todos mais.
Atos 20:33-35 é outra passagem característica. Ela é parte do mesmo discurso em que nós vimos Paulo dando aos anciãos (pastores, supervisores) da igreja em Éfeso. Veja o que ele lhes diz:
“De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário. Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.”
Novamente Paulo se apresenta como um exemplo para eles. Vocês sabem, ele conta-lhes, que em minhas necessidades minhas mãos proveem. Esta é uma referência clara ao fato de que quando ele estava em Éfeso, ele estava trabalhando para sustentar a si próprio e aos outros. Mas há mais para isso. Veja o que ele diz: Tenho-vos mostrado em tudo que, TRABALHANDO ASSIM, É NECESSÁRIO AUXILIAR OS ENFERMOS, Paulo está falando aos anciãos (pastores, supervisores) da igreja em Éfeso. Ele fala para a liderança da igreja local. E o que ele está lhes dizendo? Ele está dizendo a eles “olhe como eu caminhei entre vocês. Eu trabalhei duro para dar suporte às minhas necessidades. FAÇAM O MESMO". De forma que “trabalhando assim é necessário auxiliar os enfermos. E recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” A liderança da igreja local estava para seguir o exemplo de Paulo, trabalhando duro para dar suporte às suas necessidades. Eles não seriam os recebedores dos salários oriundos da congregação. Paulo, o exemplo, não era um recebedor de tal salário! Como eles podiam? Eles seriam provavelmente a ajuda e o apoio para os fracos. Eles seriam, preferencialmente, os doadores, ao invés de tomadores.
Comentando sobre Paulo e seu exemplo aqui é o que alguns comentaristas bem conhecidos dizem3:
F.F. Bruce – (O Novo comentário internacional sobre o Novo Testamento. Atos [Grand Rapids: Wm.B. Eerdmans, 1986] p.418)
“Retornando uma vez mais ao exemplo que ele havia lhes estabelecido, ele os lembra de que finalmente aqueles que se preocupam com as pessoas de Deus devem fazer sem pensar na recompensa material. Conforme Samuel chamou toda a Israel para testemunhar quando ele estava para estabelecer seu escritório como juiz (1 Samuel 12:3), então Paulo chamou os efésios anciãos para testemunhar que todo o tempo que ele gastou com eles não cobiçou nada que não fosse seu; ao contrário, ele nem se avaliou sobre seu direito de ser mantido por esses cujo auxílio espiritual ele prestava, mas ganhava seu meio de vida – e o de seus colegas-- por seus próprios esforços: “estas mãos”, ele disse (inevitavelmente com a gesticulação atendente) “administraram minhas necessidades, e para elas que estavam comigo" (v. 34). Deixe aqueles a quem ele estava falando desta forma trabalhar e então dar suporte não somente a eles próprios, mas aos outros também – o mal em particular."
Simon Kistemaker (professor de Seminário do Novo Testamento na Reforma Teológica) - (Comentário do Novo Testamento: Atos [Grand Rapids: Baker Book House, 1990] pp. 737,740)
“Em suas cartas ele [Paulo] desvela que trabalhou noite e dia com suas próprias mãos para suportar a si próprio, de forma que ninguém seria capaz de acusá-lo de depender dos ouvintes do Evangelho por suas necessidades materiais (compare a 1 Samuel 12:3). Ele se recusou a ser um encargo nas igrejas que ele estabeleceu. Por executar o trabalho manual, ele proporcionou suas necessidades financeiras. Paulo recebeu presentes dos crentes em Filipo, conforme ele mesmo revela (Filipenses 2:25; 4:16-18), ainda que ele declare que ele não solicitara esses presentes... Os anciãos efésios haviam observado o ministério de Paulo e seu trabalho físico durante uma estadia de três anos. Eles foram capazes de testemunhar que ele nunca havia explorado ninguém (2 Coríntios 7:2), mas tinha sempre estabelecido um exemplo de diligência e auto-suficiência, no bom sentido da palavra. Ele era um modelo para os crentes e ensinou a regra: “Se alguém não quiser trabalhar, não coma também” (2 Tessalonicenses 3:10)... parece que Paulo gerou recurso suficiente para suportar não somente a si próprio, mas também as companhias dele... Em toda a situação, diz Paulo aos anciãos de Éfeso, eu vos ensinei a trabalhar duro e com seus recursos a ajudar os fracos... Ele os exorta a seguir seu exemplo e trabalhar duro."
Roland Allen, autor do trabalho clássico, Métodos missionários: de São Paulo ou nosso? (Grand Rapids: Wm.B. Eerdmans, 1962)
“quando eu escrevi este livro eu não havia observado que ao se endereçar aos anciãos de Éfeso, São Paulo definitivamente os direciona a seguir o seu exemplo e a sustentarem a si mesmos (Atos 20:34-35). O direito de dar suporte é sempre citado para evangelistas e profetas perambulantes, não para cleros locais estabelecidos( veja Mateus 10:10; Lucas 10:7; 1 Coríntios 9:1-14) com as exceções duvidosas Gálatas 6:6 e 1 Timóteo 5:17-18, e ainda mais se essas passagens se referirem a presentes em dinheiro, eles certamente não contemplavam salários fixos que eram uma abominação aos olhos dos primeiros cristãos (p.50)."
Carl B. Hoch, Jr., professor de Novo Testamento em Seminário Batista Grande Rapids (All Things New [Grand Rapids: Baker Book House, 1995] p.240).
“Nos dias do Novo Testamento, os líderes normalmente não eram pagos. Isso é, o dinheiro era dado mais como um presente do que como um lucro ou um salário. Líderes como Paulo podiam receber dinheiro, mas Paulo escolheu não receber de ninguém dos coríntios (1 Coríntios 9:8-12). Ele queria servir sem depender de nenhuma igreja para suporte financeiro. As igrejas tinham uma responsabilidade de “recompensar o boi” (1 Timóteo 5:17) e compartilhar com aqueles que ensinavam (Gálatas 6:6). Mas o dinheiro nunca era para ser a força diretriz do ministério (1 Pedro 5:2). Infelizmente, as igrejas hoje não chamam um homem até que elas sintam que possam apoiá-lo, e alguns homens não considerarão seriamente uma vocação se o pacote financeiro for “inadequado” (All Things New [Grand Rapids: Baker Book House, 1995] p.240).”
Watchaman Nee – A vida na igreja cristã normal (Anaheim, CA: Living Stream Ministry, 1980)
“Não é necessário que os anciãos desistam de suas profissões usuais e dediquem-se exclusivamente a suas responsabilidades em conexão com a igreja. Eles são simplesmente homens locais, seguindo suas buscas comuns ao mesmo tempo em que mantendo responsabilidades especiais na igreja. Os relacionamentos locais devem aumentar, eles devem dedicar-se inteiramente ao trabalho espiritual, mas a característica de um ancião não é que ele é um “trabalhador cristão de tempo integral.” É simplesmente que, como um irmão local, ele assume a responsabilidade na igreja local (pp. 62-63).”
Para mim é acima de qualquer sombra de dúvida que não há nenhuma igreja do Novo Testamento com pessoal assalariado. Que contraste com hoje! Hoje eu ainda estou para encontrar uma igreja sem pagamento pessoal. Os salários aumentam a colossais 50 a 60% do orçamento da igreja com uma adição indireta em torno de 20 a 30% para despesas de construção. Outro item que a igreja do Novo Testamento não tem. Triste dizer, embora verdade, quase 80-90% de um orçamento da igreja moderna é para itens que os cristãos do primeiro século não conheciam. Isto é definitivamente triste.

Dando suporte aos anciãos: o que a Bíblia diz?

Agora, tendo dito o acima, a Bíblia não fornece nada sobre aqueles que gastam seu tempo ensinando e arrebanhando os outros? A resposta é sim, ela fornece! Embora não haja nenhum empregado assalariado nas igrejas locais, há, contudo, uma clara indicação nas escrituras de que os anciãos, os pastores da congregação local, deveriam ser receptáculos de honra pelas pessoas. Conforme 1 Timóteo 5:17 nos diz:
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: “não atarás a boca ao boi quando trilhar”, e: digno é o obreiro do seu salário.”
Note novamente que a passagem não fala sobre um ancião ou um arrebanhador ou pastor. Ela fala sobre anciãos, muitos deles. O peso do arrebanhamento da igreja local nunca foi marcado para ser o trabalho de um indivíduo, mas somente de muitos irmãos maduros diferentes. Esta é a liderança coletiva do Novo Testamento sob a conduta do Senhor Jesus Cristo vs. a liderança de um homem que é na maioria dos casos o modelo de hoje e essencialmente através de muitos séculos passados. Retornando ao versículo 17, a referência à honra significa respeito, valorização, honra aos anciãos, especialmente àqueles que trabalham na Palavra e doutrina. Isto poderia também incluir oferendas voluntárias livres para eles.
Que a honra dupla inclui – embora não somente – suporte via presentes voluntários é também óbvio da referência ao boi na passagem acima, assim como da passagem seguinte de Gálatas 6:6, onde nós lemos:
“E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.”
Aqueles que são ensinados devem partilhar as coisas boas com aquele que as está ensinando, e uma das funções de um irmão maduro é ensinar (1 Timóteo 3:2). Novamente, não é um salário, mas é um compartilhamento, um suporte voluntário. Vendo pelo lado dos anciãos isto não é um trabalho para sustento. Eles fazem isto não por dinheiro ou devido ao dinheiro. Eles devem fazer isso de qualquer forma, sem qualquer dinheiro. Conforme Pedro diz falando aos anciãos:
I Pedro 5:1-2
“Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles... Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
Novamente note que os anciãos, pastores e supervisores (ou “bispos”) são todos termos usados alternadamente. Como nós vemos, os anciãos deveriam ser pastores do rebanho de Deus, supervisionando-o. Note também que apascentar a igreja local não é um “trabalho”. Não é algo que você faz quando você consegue um salário e algo que você não faz sem um. Apascentar a igreja local é um presente, um ministério e tem que ser visto como tal. Agora, é difícil ser visto desta forma quando a tarefa de pastorear está pousando nos ombros de somente um irmão, de quem as pessoas chamam como “pastor”. Mas nunca se supôs que fosse dessa forma. Este peso deveria descansar na sombra de muitos irmãos, os maduros em Cristo. Eles deveriam compartilham isso. E, para voltar ao nosso assunto, eles deveriam ser receptadores da honra da congregação, incluindo então os presentes voluntários. Estes, contudo, eram presentes, eles eram dados voluntariamente e não eram solicitados Os anciãos não deveriam basear suas vidas neles. Eles tinham que conseguir sustentar-se como todas as outras pessoas. Eles não tinham salários oriundos da igreja. Eles não tinham que seguir o exemplo de seus pai na fé, Paulo, que, com muitas responsabilidades sobre si, estava indo ao mercado para trabalhar o seu comércio e os outros com ele. Este é tanto contraste para hoje onde o Ministério é frequentemente considerado como sendo uma ocupação que alguém não faria sem ser pago por isso.

A doação no Novo Testamento- sustentação de missionários

Nós já tocamos nesta área. Conforme dissemos anteriormente, 1 Coríntios 9:14 nos diz:
“Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.”
Conforme dissemos no último capítulo, esta passagem não se refere aos anciãos, mas aos pregadores do evangelho, a pessoas como Paulo, Timóteo e Barnabé, às equipes apostólicas que estavam indo de cidade a cidade pregando o evangelho, para promover o reino de Deus. Estes eram trabalhadores itinerantes, pessoas que hoje nós provavelmente chamaríamos de missionários. Estas pessoas eram autorizadas e ainda são autorizadas a viver do evangelho, embora Paulo e sua equipe não tivessem usado deste direito. Contudo, Paulo recebeu presentes voluntários das pessoas, embora ele nunca pedisse tais presentes em suas cartas. A carta aos Filipenses nos mostra um caso onde uma igreja enviou-lhe suporte. Vejamos o registro relacionado começando de Filipenses 4:10-13:
“Ora, muito me regozijei no Senhor por finalmente reviver a vossa lembrança de mim; pois já vós tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade. Não digo isto como necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.
O ministério de Paulo não era baseado em um salário de uma igreja. Sua confiança não era um salário. Ele não o tinha. Ele era completamente dependente do Senhor. Ele havia aprendido a estar contente de qualquer forma que ele estivesse. Como? Através de Cristo que o fortalecia. Cristo era a sua fundação, a fonte de seu contentamento. Note que ele aprendeu isto. Ele não nasceu com isto. Ele teve que aprender isso. Talvez nós aprendamos isto também. Note também que ele diz: “Não digo isto como necessidade”. Ele não tinha uma lista de necessidades onde ele circulava ao redor. Depois de falar para o povo, ele não correria uma caneca entre eles para coletar uma oferta. Ele, em vez disso, iria ao mercado e exercitaria seu comércio. A propósito, ele estava estabelecendo um exemplo para todos seguirem. Mas quando uma igreja lhe enviou sustentação, ela foi recebida com agradecimento:
Filipenses 4:14-18
“Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus.”
Os filipenses apoiaram Paulo. Apoiar os trabalhadores apostólicos, os missionários que espalham o evangelho é mais uma área de doação viável. No entanto, estes trabalhadores não deveriam basear sua confiança em tais presentes, ou na regularidade deles, mas no Senhor. Eles e todo cristão deveriam, como Paulo, contentar-se em qualquer estado em que se estivesse. Note também o que Paulo está dizendo: “nenhuma igreja compartilhou comigo em relação à doação e à recepção, mas somente vocês”. Paulo não estava tendo suporte de nenhuma igreja, pelo menos, “no começo do evangelho”, que novamente mostra que seu suporte pessoal não era uma questão de que ele falasse sobre as igrejas. Além disso, ele também disse “Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta.” Havia um fruto associado ao presente. O presente produziria um fruto e este fruto seria creditado à conta dos filipenses. Conforme o trabalho de Paulo continua gerando fruto, acredito que a colheita dos filipenses é muito grande nesse momento e vai se tornando maior.

A doação no Novo Testamento – sustentação às viúvas

Outra área onde a sustentação no Novo Testamento foi direcionada foi para as viúvas verdadeiras. As viúvas na Bíblia são aquelas mulheres que perderam seus maridos através da morte. Agora alguns de vocês podem ficar surpresos de modo que nós tenhamos que esclarecer tudo. Eu faço isso porque eu li em algum lugar que esta palavra supostamente também inclui aquelas mulheres que estão separadas ou divorciadas de seus maridos. Embora estas mulheres de fato necessitem de suporte fraterno dos crentes, elas não podem ser classificadas como viúvas. “Viúva” na Bíblia – e como uma palavra grega em geral – é a mulher que perdeu seu marido através da morte.
Tendo tornado isto claro, é mostrado através da Bíblia que as viúvas têm um local especial no coração de Deus. Aqui estão algumas passagens do Velho Testamento:
Êxodo 22:22-23
A nenhuma viúva nem órfão afligireis. Se de algum modo os afligires, e eles chamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor.”
Deuteronômio 10:17-18
“Pois o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas; Que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa.
Deuteronômio 24:17-21
“Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão; nem tomarás em penhor a roupa da viúva... Quando no teu campo colheres a tua colheita, e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não voltarás para rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será.
Como nós também vimos anteriormente os dízimos também tinham viúvas como receptoras:
Deuteronômio 26:12-13
“Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os dará ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem; e dirás perante o Senhor teu Deus: Tirei da minha casa as coisas consagradas e as dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, conforme a todos os teus mandamentos que me tens ordenado; não transgredi os teus mandamentos, nem deles me esqueci.”
Deuteronômio 27:19
Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: amém.”
Salmos 146:9
“O Senhor guarda os estrangeiros; sustém o órfão e a viúva; mas transtorna o caminho dos ímpios.”
Provérbios 15:25
“O Senhor desarraiga a casa dos soberbos, mas estabelece o termo da viúva.
Isaías 1:17
“Aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas."
Jeremias 7:6-7
“Se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal, eu vos farei habitar neste lugar, na terra que deis a vossos pais, desde os tempos antigos e para sempre.”
Jeremias 22:3
“Exercei o juízo e a justiça ...; e não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva”.
Zacarias 7:9-10
“Assim falou o Senhor dos Exércitos, dizendo: executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um para com seu irmão. E não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu irmão.”
Eu acredito que estas muitas passagens da Escritura tornam claro o quanto as viúvas, juntamente com os órfãos e os estrangeiros, estão no coração do Senhor. Isto continua no Novo Testamento também. Nós lemos em Atos 6:1 que houve uma murmuração “dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.” Por ministério se quer dizer a distribuição que foi feita a todos, oriunda do fundo comum que a igreja havia estabelecido e de acordo com as necessidades deles. Ninguém deveria ser desprezado, mas as viúvas muito menos, uma vez que elas eram pessoas por quem era necessário um carinho especial.
O Novo Testamento trata extensamente a questão das viúvas e a sustentação a elas em 1 Timóteo 5. Lá nós lemos:
I Timóteo 5:3
“Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas.”
A honra conforme nós explicamos anteriormente sobre honrar os anciãos inclui também o suporte material. Contudo nem todas as viúvas devem ter esta honra. O simples fato de que uma mulher é uma viúva obviamente não fará dela uma viúva verdadeira para quem a honra deve ser dada. Qual é a distinção? Paulo torna isso claro:
I Timóteo 5:5-6
“Ora, a que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus, e persevera de noite e de dia em rogos e orações; mas a que vive em deleites, vivendo está morta.”
Existe a viúva que confia em Deus, cuja esperança é Deus e com expectativa ora para Ele, continuamente, “noite e dia”. Mas existe também a viúva cujo estilo de vida é valoroso. A frase “vive em deleites” é a palavra grega “spatalao”. “Spatalao” significa “viver desordeiramente” (Dicionário de Vine, p. 871). A forma nominal do verbo ("spatali") significa "desordem excessiva, em vão gasto excessivo de riqueza" (Mega Lexicon of the Greek Language, p.6621). Tais viúvas, viúvas que têm um estilo de vida vão centrado no mundo, viúvas que vivem desordeiramente, não são viúvas verdadeiras. Não é para estas viúvas que a honra é devida.
Tendo tornado isto claro desde o princípio, Paulo torna também claro que as crianças ou netos das viúvas verdadeiras são as primeiras que têm responsabilidade por elas. Aqui está o que ele diz:
I Timóteo 5:4, 7-8
“Mas, se alguma viúva tiver filhos, ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família, e a recompensar seus pais; porque isto é bom e agradável diante de Deus. ...Manda, pois, estas coisas, para que elas sejam irrepreensíveis. Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e especialmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.”
Há uma responsabilidade clara das crianças por seus pais, incluindo os avós. Conforme diz a Palavra, as crianças são “para recompensar seus pais”. E Conforme menciona Vine em seu dicionário sobre esta palavra:
“A palavra “recompensar” é a palavra grega “amoive”, que significa “recompensa (semelhante a ameibomai, a recompensar, não encontrada no Novo Testamento), é usada com o verbo “apodidomi”, para traduzir, em 1 Tim. 5:4. Este uso é ilustrado nos papiros pela forma de fazer um retorno, conferir um benefício em retorno por algo" (dicionário de Vini, p. 967).
Existe uma obrigação das crianças e netos em relação a seus pais. É a obrigação de “honrar seus pais”, que inclui cuidar deles e do seu bem-estar. No caso das viúvas, suas crianças e netos deveriam cuidar deles e de suas necessidades. Cuidar de si próprio e de sua família é uma prioridade e de fato uma obrigação que cada um de nós tem. Eu penso que nós tocamos nisso anteriormente: Este tipo de "doação” tem preeminência sobre qualquer tipo de doação. Outros tipos de doação são contribuições voluntárias. Esta não é. Esta é uma obrigação. Não há nenhuma opção aqui. Isto mostra quanta importância Deus dá a isso. Se você é um crente, você tem que “reproduzir recompensa” para os seus pais (e avós), o que significa cuidar deles e de suas necessidades. E dessa forma nenhuma dúvida é deixada no versículo 8, que diz: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e especialmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” Isto é verdadeiramente sério.
Seguindo adiante na questão das viúvas, a Palavra de Deus nos diz mais sobre a participação da igreja em relação ao cuidado com as viúvas:
I Timóteo 5:9-16
“Nunca seja inscrita viúva com menos de sessenta anos, e só a que tinha sido mulher de um só marido; tendo testemunho de boas obras: se criou os filhos, se exercitou hospitalidade, se lavou os pés dos santos, se socorreu os aflitos, se praticou toda a boa obra. Mas não admitas as viúvas mais novas, porque, quando se tornam levianas contra Cristo, querem casar-se; tendo já a sua condenação por haverem aniquilado a primeira fé. E, além disto, aprendem também a andar ociosas de casa em casa; e não só ociosas, mas também paroleiras e curiosas, falando o que não convém. Quero, pois, que as que são moças se casem, gerem filhos, governem a casa, e não deem ocasião ao adversário de maldizer; Porque já algumas se desviaram, indo após Satanás. Se algum crente ou alguma crente tem viúvas, socorra-as, e não se sobrecarregue a igreja, para que se possam sustentar as que deveras são viúvas.”
Existe um “número” (grego: katalaigo – alistar-se) no qual algumas viúvas deveriam estar incluídas e algumas outras não. Qual é este “número”, este alistamento? Embora Paulo não mencione isso explicitamente, parece ser alguma coisa familiar a Timóteo e eu acredito que era o número de viúvas a serem sustentadas pela igreja. Nem todas as viúvas deveriam estar neste número, mas somente as velhas, com 60 anos de idade ou acima, e sob certas condições adicionais. Para as viúvas mais jovens, Paulo, e Deus através de sua Palavra, desejam que elas se casem novamente e tenham crianças. O último versículo da passagem acima acrescenta isso: se alguém tem viúvas em sua família, ele deveria aliviá-las e não deixar a igreja ser sobrecarregada com seu sustento. Contudo, a igreja de fato sustentaria as viúvas mais velhas que fossem viúvas verdadeiras de acordo com as condições estabelecidas nos versículos anteriores e se não houvesse ninguém mais de sua família capaz ou desejando dar-lhes o suporte necessário.

Abraão e Jacó estavam pagando o dízimo?

Em contraste com o que nós vimos nos primeiros capítulos deste estudo, e para apoiar a aplicação do dízimo, muitos dizem que dar o dízimo de fato não é parte da lei, porque ele era aplicado – eles dizem – antes da lei, por Abraão e Jacó. Assim, com esta visão, ele é um princípio que transcende o tempo e as administrações da Bíblia e se aplica igualmente a antes, durante e depois da lei Mosaica. Antes de nós irmos para as passagens que eles usam, vejamos como Jesus Cristo viu e classificou o dízimo. Mateus 23:23 nos conta:
Mateus 23:23
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei: o juízo, a misericórdia e a fé;”
O Senhor está falando aos fariseus. Este povo estava pagando seus dízimos, mas havia se esquecido do mais importante da lei. Eles eram hipócritas! A frase “o mais importante da lei” faz uma comparação entre as mais brandas “questões da lei” e as mais importantes “questões da lei”. O dízimo era uma questão mais branda da lei. A justiça, a misericórdia e a fé eram questões mais importantes da lei do que o dízimo. Isto não é uma comparação entre as questões gerais, mas entre as “questões da lei” e o dízimo era classificado pelo Senhor como uma “questão da lei”. E como tal ele é.
E agora vamos nos direcionar para os registros usados para dar suporte de que Abraão e Jacó estavam na verdade dando o dízimo.

Abraão estava pagando o dízimo?

Agora vamos nos mover para os registros de Abraão e Jacó, começando do primeiro. Nós encontramos a passagem relativa em Hebreus 7. Paulo está explicando lá Jesus como nosso Sumo Sacerdote. O último versículo de Hebreus 6 nos conta:
Hebreus 6:20
“Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.”
Então o capítulo 7 cuida de falar mais sobre Melquisedeque e como ele era um protótipo de Cristo como Sumo Sacerdote. Neste contexto nós lemos sobre Abraão:
Hebreus 7: 1-6
“Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou. A quem Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos. E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão. Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas."
Algumas pessoas usam esta passagem para dizer que o dízimo é um princípio que transcende tempos e administrações e assim é válido hoje também. Isto é porque – eles dizem – Abraão era um contribuinte do dízimo e isto foi antes da lei. Da mesma forma nós, sem a lei, deveríamos ser contribuintes do dízimo também. Mas eu não penso que é isto que a passagem nos está dizendo. O foco principal da passagem é em Melquisedeque e como Jesus Cristo é o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Para mostrar como a ordem de Melquisedeque é grande, ela se refere a Gênesis onde Abraão, retornando da matança dos reis, deu-lhe um décimo das pilhagens que ele tinha conseguido. Mas isto não tinha nada a ver com o dízimo, conforme nós sabemos, e aqui está a razão:
1. O que Abraão deu foi completamente voluntário. Ninguém disse a ele que ele tinha que dar um décimo das pilhagens. Ele fez isso de forma absolutamente voluntária. Em contraste, o dízimo é obrigatório, algo que você tem que fazer, independente de se você realmente deseja ou não.
2. Além do mais, o dízimo é algo que você faz regularmente. Não somente uma vez. Abraão fazia alguma coisa desta forma? Sua vida é bem documentada na Bíblia com 14 capítulos de Gênesis dedicados quase que completamente a ele. Embora esta seja a única vez em sua vida em que nós o vimos dando um décimo. Em outras palavras, o que é descrito em Hebreus e Gênesis foi um evento de uma vez e não algo que era regularmente repetido, semana após semana ou mês após mês.
3. O fato que o que Abraão fez foi algo extraordinário em vez de algo regular é também óbvio pelo fato de que ele deu a Melquisedeque 10% das pilhagens que ele conseguira. Isto não era seu lucro normal ou pertences, mas eram pilhagens. Algo inesperado, um ganho inesperado. Hoje, tais ganhos são por exemplo: prêmios de loteria, ou uma herança inesperada. Sua doação era igual conseguir uma herança inesperada e então dar 10%. Novamente isto não é o que as pessoas queriam dizer por dízimo.
Para resumir, o que nós vemos Abraão dando foi uma doação voluntária de uma vez, de 10% de um ganho inesperado que ele recebera.
Sua doação era:
i) voluntária, não obrigatória;
ii) uma coisa de uma vez, não algo feito regularmente;
iii) finalmente era fruto de um ganho inesperado que ele recebeu, não oriundo de seu rendimento regular;
Ele estava dando 10%? Sim, ele estava. Esta doação era um dízimo no significado que é transmitido hoje (regular e obrigatoriamente doar 10% de seu lucro)? Do que nós vimos, isto obviamente não era o caso.

Jacó estava pagando o dízimo?

Em relação a Jacó, a passagem que é usada para sustentar que o dízimo é um princípio que é aplicável hoje está em Gênesis 28. Somente para apresentar o cenário: Isaque enviou Jacó para ir a Harã, o lugar onde Labão, o irmão de Rebeca, estava morando. Em seu caminho para lá, ele parou em algum lugar para dormir e viu em um sonho o Senhor prometendo-lhe estar com ele, dar-lhe a terra em que ele estava dormindo, multiplicar-lhe abundantemente e abençoar todas as pessoas na terra através dele e de seus descendentes (Gênesis 28:10-15). Isto não foi um sonho comum! Imagine como você ficaria depois de alguma coisa assim. Como uma reação a isto Jacó fez o seguinte:
Gênesis 28:20-22
“E Jacó fez um voto, dizendo: se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.”
A frase chave aqui é “fez um voto”. O que está descrito aqui não é algo que Jacó tenha feito obrigatoriamente, nem algo que ele estivesse fazendo regularmente. Em contraste, é um voto, algo que foi feito voluntariamente com um “se” à frente da palavra voto. “Se vós fizerdes isto, Senhor, eu faço um voto a vos dar um décimo do que me deres". Novamente é óbvio que isto não tem nada a ver com os dias modernos, e com o dízimo regular e obrigatório.

Em 2 Coríntios 11:8-9, o que Paulo estava recebendo enquanto estava em Corinto?

2 Coríntios 11:8-9 é uma passagem frequentemente mal entendida, com muitos usando-a para dar sustentação a que Paulo estava recebendo um salário de uma igreja enquanto estava em Corinto. Seria bom para Paulo, um trabalhador apostólico, “viver do evangelho”. Ele foi autorizado a fazer isto. No entanto, conforme vimos anteriormente, ele escolher não fazer tal coisa, dando um exemplo para os outros crentes. Antes de nós irmos a 2 Coríntios 11:8-9, vamos primeiro até Filipenses, onde lemos sobre a sustentação que estes crentes davam a Paulo. Ela é necessária, de forma que nós conseguimos a estrutura necessária para entender 2 Coríntios 11:8-9:
Filipenses 4:14-18
“Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus.”
Muitos consideram que a sustentação dos Filipenses a Paulo era somente durante o tempo em que ele estava em Tessalônica. Contudo, isto não é o que a passagem nos está dizendo. Conforme se diz que os Filipenses sustentavam Paulo “no começo do evangelho, quando ele partia da Macedônia". Tessalônica era parte da Macedônia. Também veja que a passagem diz que “Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica”. Em outras palavras,o que ele está dizendo é: “vocês me enviaram sustentação no começo do evangelho, depois eu parti da Macedônia ... de fato vocês ainda me enviaram sustentação quando eu ainda estava na Macedônia, em Tessalônica". Agora, onde Paulo foi depois que partisse da Macedônia? Atos 17 e 18 nos dizem que ele foi para Atenas, onde ele permaneceu brevemente, e de lá ele andou 50 milhas em direção a Sudoeste, para Corinto. Lá ele ficou um ano e meio, pregando a Palavra de Deus e estabelecendo a igreja local. Eu acredito que este foi o local onde ele recebeu sustentação dos Filipenses. Atos 18: 5 nos diz:
“E, quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, foi Paulo [agora em Corinto] impulsionado no espírito, testificando aos Judeus que Jesus era o Cristo.”
Os Filipenses ajudaram Paulo “no começo do evangelho, quando ele partia da Macedônia". Onde ele estava quando ele conseguiu a ajuda deles? Eu acredito que ele estivesse em Corinto, e ele conseguiu ajuda deles através de Silas e Timóteo, os irmãos que “tinham chegado da Macedônia”. Então, Paulo foi sustentado parcialmente pela igreja dos Filipenses em Corinto. Ele também estava trabalhando, pelo menos em meio período. O fato que mostra que ele estava trabalhando lá está claro em Atos 18:1-3:
Atos 18:1-3
“E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome Áquila, natural do Porto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Claudius tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, e, como era do mesmo ofício, ficou com eles, E TRABALHAVA; pois tinham por ofício fazer tendas.”
Paulo estava trabalhando em Corinto. Ele também recebia suporte da igreja em Filipo. Do registro dos Filipenses está claro que isto não era um suporte involuntário extorquido por Paulo, mas um presente dado de forma voluntária. Tendo esclarecido isto, vamos agora voltar para 2 Corintios 11:8-9, onde Paulo está dizendo:
“Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei.”
A frase “recebendo delas salário” é uma tradução enganosa e infeliz. Isto é reconhecido pelas traduções mais modernas, tais como a inglesa NIV[Nova Versão em Inglês] e a ESV[Versão Padrão em Inglês], que traduziram isto como “outras igrejas despojei por aceitar suporte delas" (ESV). Esta é uma tradução mais acurada e também concorda com o contexto e as outras referências quanto ao assunto. Paulo não estava recebendo “salários”, proventos de outras igrejas. Ele recebia suporte. Este suporte era dado voluntariamente, porque nós nunca o vimos solicitando isso. Como ele conseguiu este suporte? “Dos irmãos que vieram da Macedônia". De quais igrejas? Nós já vimos uma: Os filipenses que "enviaram-no suporte no começo do evangelho, depois que ele partiu da Macedônia” e foram para Corinto. Outras igrejas macedônicas podem tê-lo apoiado também, embora tal suporte não esteja mencionado explicitamente nas Escrituras. Ele roubou estas igrejas? É claro que não. Eu acredito que ele usa esta frase como uma figura de discurso, para abordar um ponto, porque Corinto era uma cidade muito saudável. Conforme Strabo, um historiador e geógrafo do 1º século, informou-nos:
“Corinto é chamada de ‘rica’ por causa de seu comércio, uma vez que ela está situada no istmo e é mestre de dois portos, dos quais um conduz diretamente à Ásia, e o outro à Itália; e torna fácil a troca de mercadoria de tanto os países que estão muito distante quanto daqueles outros” (Geography, 8.6.20)”.
De acordo com fontes antigas, Corinto no momento de Paulo era mais rica e próspera como nunca visto antes. Sua população era de 300.000 homens livres mais 450.000 escravos, uma cidade de tamanho imenso para os padrões antigos (e mesmo para os modernos). Paulo, ao dizer que despojava outras igrejas, usa uma figura de discurso para dizer que ele era sustentado por outras igrejas mais pobres em seu ministério para estes ricos cristãos corintos. Figuradamente, isto seria “roubar”.
Para acrescentar:
Paulo não estava recebendo um salário de uma igreja. Enquanto em Corinto, ele estava trabalhando, pelo menos em meio período, e ele era parcialmente sustentado de espontânea vontade, sem pedir, com doações dos irmãos da Macedônia. Ele não rouba de nenhuma igreja literalmente, mas ele usa este termo figurativamente para apontar que ele estava recebendo suporte das igrejas mais pobres para pregar o evangelho para uma comunidade de pessoas mais ricas.

O Dízimo, a doação e o Novo Testamento: Conclusão e o que fazer com a informação neste livro

Agora de tudo o dito acima vamos tomar uma conclusão não tão longa.
De nosso estudo ficou claro que não há dízimo algum em nossos tempos, na era do Novo Testamento. O dízimo, junto com as outras ordenanças e manuscritos da lei, tornou-se obsoleto, através da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. O que é válido no Novo Testamento são as ofertas livres que foram dadas com os seguintes propósitos:
i) dar sustentação aos santos pobres. Esta é a mais comum forma de oferenda e a única sobre a qual o Novo Testamento mais fala;
ii) os presentes de livre e espontânea vontade aos missionários e apóstolos, i.e., enviados (isso é o que a palavra “apóstolos” significa) que saíram pregando a Palavra de Deus;
iii) presentes gratuitos, voluntários (não salários) para os anciãos, i.e., para os irmãos mais maduros na fé (“mais velhos”) que estavam atuando como pastores e supervisores do rebanho de Deus na igreja local;
iv) sustentação das viúvas que confiaram em Deus e em acréscimo eram velhas em idade, louváveis por seus trabalhos e que não tinham mais ninguém de suas famílias para cuidar das mesmas.
Os presentes eram livres e voluntários “de acordo com a prosperidade”, i.e., de acordo com o que se tinha. Eles eram dados conforme “o propósito no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria." (2 Coríntios 9:7)
Embora eu acredite que cada parte da Escritura seja igualmente importante eu acredito também que haja partes que são mais enfáticas do que outras, por causa do espaço que é dado a elas. Se eu estiver falando a você e 90% do que eu estiver falando for sobre A e 10% for sobre B, eu obviamente coloco mais ênfase em A do que em B. E na questão da doação, 90% é sobre a doação para os santos pobres (incluindo as viúvas) enquanto há 2 versículos sobre a doação aos anciãos, outros poucos versículos sobre a doação aos implantadores de igreja (missionários, apóstolos, enviados). Tudo é importante, mas o peso escritural é, em minha opinião, para a sustentação dos santos pobres. Comparação com hoje? Em uma igreja típica do século 21, aproximadamente 40-60% dos gastos se relaciona aos pagamentos de pessoal, com outros 20-30% às despesas com contas e construções. Elas não tinham tais itens na igreja do 1º século! Por que nós necessitamos tê-los? Por que não podemos voltar ao modelo de igreja do Novo Testamento, estabelecer lideranças coletivas de crentes, tendo cada um sua própria ocupação para ganhar o seu sustento? Por que nós não nos encontramos em casas conforme estivermos reunidos em vez de ter que sentar em um auditório para ouvir um sermão de 40 minutos todo domingo... que custa um pastor para dá-lo e a construção de um prédio? Se esta é a forma como eles estavam fazendo no Novo Testamento, por que nós não podemos fazer igual a eles? Por que nós pegamos o que normalmente iria para os santos pobres e para as missões para aumentar o reino de Deus e damo-lo para manter estruturas e tradições que são estranhas à Palavra de Deus? Pense sobre isso e faça questionamentos firmes.

O que fazer com o que você aprendeu neste livro

Tendo dito o acima, eu preciso esclarecer: Com estes questionamentos eu quero desafiá-lo, mas não estou propagando que você deixe a sua organização religiosa. Deixar uma igreja não é uma solução. É somente uma reação, e, na verdade, imatura. A igreja, para mim, é algo muito mais do que as estruturas e dízimos: é o seu povo, os irmãos e irmãs em Cristo. Para mim, eles - e não uma construção feita de pedra, um sistema, ou um nome – são a igreja. Escrever este estudo teve duas coisas para mim: primeiro foi o esclarecimento e a originalidade. Descobrir as verdades da Palavra de Deus é sempre original e libertário. Ao mesmo tempo, escrever este estudo foi doloroso, porque eu sei que estou escrevendo algo que será controverso. A razão pela qual eu escrevi este livro foi porque nós temos que estar informados sobre o que diz a Palavra de Deus. Não podemos fechar nossos olhos e dizer para esquecer isso. Essa é a verdade e assim, para mim, pessoalmente, eu decidi, com a ajuda do Espírito Santo, seguir esta verdade. Eu tenho que mostrar-lhe o que eu vejo que a Palavra de Deus diz. Esse é o meu trabalho, e eu tenho tentado fazer isso da melhor maneira possível. Ao mesmo tempo, eu busco ter, com meus irmãos e irmãs em Cristo, um grande grau de tolerância em relação às questões teológicas. Eu sugiro o mesmo a você. Eu não tolerarei se alguém reclamar ser um irmão em Cristo e dizer que ele não acredita que Jesus é o Filho de Deus e que Ele nasceu dos mortos. Estas são questões fundamentais de nossa fé. Ninguém pode ser um crente sem acreditar nisso. Ele não é só salvo. Eu tenho que apontar a verdade para esta pessoa em amor e eu farei isto imediatamente. Mas com esses que acreditam que as verdades fundamentais que tornam alguém um cristão (i.e., Jesus Cristo é o Senhor, o Filho de Deus, o Messias, e Deus o renasceu dos mortos), eu não começarei uma disputa sobre dízimo ou sobre o sistema de igrejas de hoje. Nem, é claro, abandonarei meus irmãos e irmãs, que são a igreja, o corpo de Cristo, porque eles não estão informados sobre o dízimo ou porque eles não concordam comigo. O sistema não se muda desta forma. O sistema não é mudado com reações, mas com ações. Ele muda, eu acredito, quando cada um de nós começa a buscar a verdade da Palavra, Quando se está sedento por aprender o que diz a Palavra sobre um assunto. quando não se está satisfeito com o que a igreja oficial ou mesmo o que eu possa dizer, deve-se buscar as Escrituras por si próprio e ver se isto é assim, conforme fizeram os habitantes de Bereia. Assim, após se aprender, torna–se ávido para aplicar o que aprender no amor. Você aprendeu com este livro que a Palavra de Deus dá muita importância em ajudar-se os pobres e santos com problemas. Siga em frente e faça isso! Você aprendeu por este livro que na Bíblia os anciãos, bispos e pastores não eram pessoas que se graduaram em escolas teológicas e começaram uma carreira como empregados de uma igreja. Eles eram pessoas com empregos e famílias como você e eu. Eles eram pessoas comuns, simples, pessoas como o pescador não letrado que o Senhor chamou para segui-Lo. Eles eram também pessoas maduras em Cristo que se tornaram pastores, supervisores e jovens crentes. Você é um cristão maduro? Se for, levante-se, de dentro ou de fora do sistema, e faça o trabalho de um crente maduro. Se Deus quisesse continuar o sistema levita com alguns indivíduos fazendo o ministério enquanto os remanescentes de nós pagássemos o dízimo para manter, Ele teria feito isso. Mas Ele não o fez. Em vez disso, Cristo nos tornou pastores e reis. Nós somos todos os pastores reais com nossa função ordenada por Deus. Lutar contra o sistema de um homem faz tudo, dizendo o quanto isso está errado e ao mesmo tempo tolerando o fato que nós somos irmãos e irmãs em Cristo, eu acredito que seja somente uma reação imatura. A reação é levantar-se, encontrar e ser o que Deus nos fez tornarmos no corpo de Cristo. Faça a sua parte e função para o melhor de suas doações e capacidades. Você tem que saber e ser informado sobre a Palavra de Deus, sobre o que está correto e o que está errado. Isto é o que eu tenho tentado fazer neste livro em relação ao dízimo e à doação. Isto é necessário, embora você possa não usar como uma espada. Você deve fazer o que a Palavra de Deus diz para você fazer, sem condenar ou se separar daqueles irmãos que não fazem isso.
Agora, se você é um pastor, eu também preciso esclarecer que não tenho nada contra você. Não se sinta ameaçado, irmão. Sentir-se ameaçado é novamente uma reação, e não uma ação. Eu não acredito que nenhuma igreja expulsaria um pastor porque não é bíblico pagar salários pastorais. Esta não é a forma de fazer. O que eu acredito que devesse ser feito é que todo mundo reconhecesse que os pastores são irmãos, somente irmãos. Eles não são chefes, eles não são a cabeça do corpo (como eu ouvi alguém dizendo em uma reunião de igreja). Cristo é a cabeça do corpo, Cristo é o chefe, e todos os outros são um membro deste corpo. Os pastores deveriam encorajar os outros membros do corpo a crescerem, transferindo as tarefas e atividades próprias deles para os crentes mais maduros. Por exemplo (e esse é somente um exemplo): mal ou ruim, o foco principal de um serviço de igreja é o sermão. Peça à congregação para assumir, como irmãos, e dar os sermões em acréscimo ao seu, rotativamente. Não somente um ou dois, ou quando você estiver fora da cidade. Mas regularmente, na mesma quantidade em que você o faz. Por que não? Não seria difícil para um irmão deixar o púlpito e não é isso exatamente o que a igreja é: irmãos e irmãs chegando juntos em Cristo? Eu tenho sete pastores que não recebem recompensa com a graça de ensinar. Isto não é ruim. Por que deveria? Um pastor é somente outro membro do corpo. “Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores?” diz a Palavra (1 Coríntios 12;29). A resposta obviamente é não. Estas pessoas não podem ter uma graça de ensinamento, mas elas têm outras graças maravilhosas. Elas ainda estarão pregando semana após semana, porque, de acordo com o sistema, o sermão é uma tarefa do pastor. Isto é triste, mas eu somente menciono isso como um exemplo. Esse não é o ponto principal. O ponto principal é que os pastores deveriam ajudar a congregação a desenvolver-se e os mais maduros deveriam pegar algumas das tarefas dos pastores de forma que a sobrecarga fosse distribuída igualmente com os irmãos maduros. O pastor então terá o funcionamento em sua verdadeira dimensão como outro membro do corpo e não na dimensão distorcida de hoje, como, implicitamente ou explicitamente, o “cabeça da igreja”. Ele então estará livre para receber o seu salário trabalhando como todo mundo, e a congregação o ajudará tornando possível encontrar um emprego para ele. Não há nenhum terreno para divisões e lutas. Estas estão aparecendo somente por causa das reações à verdade da Palavra, não por causa das ações. Como a Palavra diz: “Da soberba só provém a contenda” (Provérbios 13:10). Se nós, como crentes, queremos seguir o caminho de Deus, este caminho tem um nome: ele é chamado de caminho do amor e da humildade, e nós podemos fazê-lo. Nós podemos fazer o que os cristãos do primeiro século faziam. Isso pode parecer louco, arriscado e novo. É definitivamente mais fácil permanecer como nós estamos. Mas por que deveríamos fazer isto? Por que deveríamos desviar do que nós sabemos que a Palavra de Deus diz? Eu na verdade não vejo razão alguma para fazer isto. Você vê?