sexta-feira, 29 de abril de 2022


Hebreus 6

6.1, 2 — O autor insiste em que os leitores de sua carta deixem o que é primário e prossigam até a perfeição, no sentido de maturidade. Ele lista então seis pontos doutrinários, que chama de os rudimentos da doutrina de Cristo (os primeiros rudimentos, em Hb 5.12): (1) Arrependimento de obras mortas se refere à mudança de pensamento quanto às exigências da Lei de Moisés (Hb 9.14).

Embora a Lei seja boa (1 Tm 1.8), era fraca, por causa da fraqueza de nossa natureza pecaminosa (Rm 8.3). (2) O que é necessário para a salvação não são as obras mortas, que não podem salvar, mas a fé em Deus. (3) Batismos pode referir-se aos vários batismos citados no Novo Testamento (o batismo de Cristo, o de João, o batismo do crente nas águas, e o espiritual, do crente pelo Espírito Santo), ou também aos diversos ritos de purificação praticados pelos judeus. (4) No livro de Atos, a imposição das mãos era usada para transmitir o Espírito Santo (At 8.17,18; 19.6), assim como para ordenação ao ministério (At 6.6; 13.3). Essa prática é encontrada também no Antigo Testamento, para a delegação de poderes a alguém para serviço público (Nm 27.18,23; Dt 34.9) e no contexto de apresentação do holocausto ao Senhor (Lv 1.4; 3.2; 4.4; 8.14; 16.21).

(5) Ressurreição dos mortos se refere à doutrina da ressurreição de todos no final dos tempos (Ap 20.11-15). E um ensinamento do Antigo Testamento (Is 26.19; Dn 12.2), amplamente difundido no judaísmo do século 1, principalmente pelos fariseus. Para os cristãos, tornou-se essencial a crença na ressurreição de Jesus, sem a qual não existiria o perdão dos pecados (1 Co 15.12-17).

(6) Juízo eterno se refere à crença de que todos seremos julgados pelo grande Juiz. As Escrituras indicam que existirão dois tipos de julgamento final: o dos cristãos, no qual Jesus determinará a recompensa de cada um (1 Co 3.12-15), e o juízo dos descrentes (Ap 20.11-15).

6.3 — O autor inclui ainda a si mesmo na ação que deva ser realizada pelos cristãos. Se Deus permitir — ou seja, se for da vontade de Deus (Tg 4.15) — indica o imperativo necessário da autoridade divina para que algo aconteça.

6.4-6 — Esta passagem, tão difícil com respeito a recair, tem sido interpretada de diversas maneiras.

Alguns afirmam que o autor de Hebreus está falando de cristãos nominais, que ouvem a verdade e aparentam crer em Cristo, mas, por fim, demonstram sua superficialidade em relação a Ele, renunciando-o publicamente. Outros interpretam estes versículos como argumento hipotético que o autor de Hebreus estaria usando para advertir àqueles espiritualmente imaturos (v. 1-3) que não rejeitem a oferta de salvação de Deus (v. 6; Hb 3.12). Os que postulam essas duas posições citam, caracteristicamente, as diversas passagens bíblicas que falam da verdadeira segurança eterna do crente (Jo 6.39,40; 10.27-29; Rm 8.28-30).
Uma vez que Deus nos salvou, nada pode separar-nos do Seu amor (Rm 8.35-39). Outros ainda, porém, preferem que o autor esteja falando de cristãos genuínos que renunciam a Cristo e deixam de ser cristãos. Alegam ser esta uma leitura clara deste texto, citando várias advertências no Novo Testamento para resistirmos aos enganos de falsos mestres, como evidência adicional a esta sua interpretação (2 Co 11.1-4,13-15; 2 Tm 2.17,18; 1 Jo 2.21-25). É mais provável que a passagem diga respeito a judeus, verdadeiros crentes em Jesus, que, ao sofrerem perseguição, vejam-se tentados a novamente se envolver com a religião judaica e seus ritos, de que haviam sido libertos em Cristo. Em vez de falar da perda da justificação, a passagem se refere ao fracasso de um crescimento à maturidade. O crente que, tentado, é levado a cair (como traduz melhor o grego), depois de já haver obtido progresso na caminhada cristã, como se evidencia nas características do crescimento cristão indicadas nos versículos 4 e 5, após a queda (o abandono não de Cristo, mas da corrida cristã) coloca-se em risco de ficar estagnado no crescimento cristão.

6.6 — A expressão e recaíram pode ser traduzida de forma melhor por e caíram de lado, representando um corredor que cai ao lado da pista durante uma corrida. A expressão, neste caso, pode ser entendida aqui como referindo-se a pessoas para as quais é impossível ter uma mudança de opinião, ou arrependimento, por estarem envolvidas em atividades que contrariam sua confissão de Cristo como seu Salvador.

Renovar (gr. anakainizõ) significa restaurar, restabelecer. É impossível ao empenho de quem quer que seja na comunidade cristã restabelecer a comunhão de alguém com Deus. Este, o motivo da forte advertência em Hebreus 3.13 de que exortemos uns aos outros, a fim de evitarmos um coração endurecido.

A imaturidade constante é sempre perigosa. Pense em pessoas que você possa ter conhecido, exultantes testemunhas de Cristo, que se desviaram do caminho e se tornaram frias como pedra. Para o autor, essas pessoas de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. Ao se afastarem do crescimento cristão, tais apóstatas se colocariam na posição dos que, na prática, crucificaram Jesus e o expuseram à humilhação pública.

Em outras palavras, se os leitores originais são cristãos judeus que estão pensando em retornar ao judaísmo, estarão se juntando às fileiras daqueles que crucificaram Cristo, pois sua atitude corresponde, em importância, a uma rejeição pública, a uma nova crucificação (simbólica) do Senhor.

6 .7 ,8 — Aqui, uma ilustração baseada na natureza transmite duas verdades: (1) um pedaço de terra que recebe chuva (um dom celestial, v. 4) e que é produtiva e útil para muitos e abençoada por Deus (v. 7); (2) um pedaço de terra (v. 8) que recebe chuva (um dom celestial, v. 4), mas é improdutiva, é reprovada (gr. adokimos), palavra que significa desqualificada, usada em relação a cristãos desqualificados para receber recompensas (1 Co 9.27; 2 Co 13.5,7). Essa terra não é amaldiçoada, mas perto está da maldição (1 Co 11.29-31).

A consequência é ser queimada, o que não significa o inferno, mas um juízo temporal de Deus. No Antigo Testamento, o juízo de Deus sobre Seu povo está associado a queima dos campos (Is 9.18-19; 10.17), o que representa morte física, mas não morte espiritual. Talvez exista aqui também uma alusão ao fogo do juízo, quanto ao fundamento de Cristo (1 Co 3.11-15). Existia uma prática antiga de queimar a terra para destruir as ervas daninhas e fazer que o campo fosse útil novamente. Se essa é a alusão pretendida, então a passagem ensina que, embora todas as tentativas humanas de restaurar os apóstatas sejam inúteis (v. 6), existe a esperança de que possam voltar a produzir novamente. E possível a uma pessoa naufragar na fé e aprender, então, com essa ruinosa experiência (1 Tm 1.18-20).

6.9 — Com o calor e a afeição do título amados, o autor garante aos hebreus que espera coisas melhores deles. Suas boas obras são sinais, para o autor, de que eles teriam recebido Cristo verdadeiramente (v. 10).

6.10 — Serão então recompensados, porque Deus não é injusto. Ele os recompensará pelo que tiverem realizado.

6.11 — Os cristãos correm constantemente o perigo de não permanecer inteiramente fiéis na esperança que devem ter em Cristo. Devemos manter nosso compromisso com Cristo firme até o fim.

6.12 — Negligentes é a mesma palavra usada em Hebreus 5.11, que deu início a esta exortação para que os hebreus crescessem na fé em Cristo (Hb 5.11—6.12).

6.13-15 — Abraão é um exemplo de fé e paciência para com a promessa de Deus (v. 12). Ele esperou 25 anos desde que foi feita a promessa até Isaque, o filho prometido, nascer (Gn 12.4; 21.5).

6.16,17 — Confirmação significa garantia. O juramento é usado para garantir o cumprimento do acordo.

6.18 — O Senhor confirmou Seu juramento a Abraão ao jurar por si mesmo (v. 13) porque Ele, por si só, é maior do que tudo. As duas coisas imutáveis são a Palavra de Deus e o juramento de Deus. Como Deus não mente e é todo-poderoso, há de cumprir todas as Suas promessas. Essa natureza imutável de Deus é a consolação e o fortalecimento do crente.

6.19 — A esperança do crente em Cristo é segura como uma âncora. Essa âncora não está na areia, mas na presença do Todo-poderoso. Interior do véu se refere ao Santo dos Santos, o lugar onde Deus habita.

6.20 — A palavra grega para precursor era usada no século 2 d.C. com relação a barcos menores enviados para o porto pelos grandes navios impossibilitados de lá atracar devido ao mau tempo. Esses barcos carregavam a âncora através da arrebentação para o porto e a prendiam lá, segurando assim o navio maior. Precursor pressupõe que outros o seguirão. Deste modo, Jesus é não somente a própria âncora do crente, mas também o barco que leva a âncora para o porto e a segura firmemente. Não há dúvida de que o nosso navio está indo para o porto. A única questão é se está indo com a tranquilidade de um navio bem posicionado nas águas. Os cristãos que conservam sua esperança na presença de Deus hão de chegar com confiança ao trono da graça (Hb 4.14-16). Como a esperança dos cristãos é segura e não pode ser abalada, devem usá-la com perseverança.

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