segunda-feira, 24 de agosto de 2020


 

Levítico 10

10.1 — Nadabe e Abiú eram os filhos mais velhos de Arão. Eles acompanharam Moisés, junto com Arão e os setenta líderes, na subida ao monte Sinai e viram Deus (Ex 24.1,9-11). Os irmãos também participaram, em companhia do pai, dos primeiros sacrifícios registrados no capítulo 9 de Levítico. Até então, obedeceram a Deus, e Ele aceitou tudo o que tinha sido feito naquele dia. Contudo, posteriormente, Nadabe e Abiú desonraram a santidade divina de alguma forma, porém o autor de Levítico não explica em detalhes o acontecido. Ele apenas diz que os dois levaram fogo estranho perante a face do Senhor. Neste sentido, duas ideias podem ser concebidas aqui. Levítico 16.12 indica que, pelo menos para o Dia da Expiação, o incenso deveria ser queimado com as brasas do altar do holocausto. Se isto também era válido para outras ocasiões, estranho pode sugerir que os dois sacerdotes não usaram o fogo do altar, e sim de uma fonte ilícita. A segunda ideia vem do fato de que estranho é um termo usado normalmente para estrangeiros, incluindo os estranhos deuses pagãos. Arão (o pai de Nadabe e Abiú) moldou um estranho deus, o bezerro de ouro (Ex 32.4). E possível que eles estivessem seguindo o exemplo de seu genitor incorporando a adoração de um deus pagão neste caso, no exato momento em que Israel estava começando a adoração a Yahweh de acordo com as normas que Ele indicara. A expressão o que lhes não ordenara contrasta com a plena obediência aos comandos divinos registrados nos capítulos 8 e 9 de Levítico. Qual quer que tenha sido a situação, a atitude dos irmãos foi claramente desobediente, e eles sabiam disso. 

10.2 — O fogo [que saía] de diante do Senhor era uma forma de punição. Em Levítico 9.24, dois versículos antes, vimos que o fogo vinha do Senhor em aceitação a Israel e à sua adoração. O que é uma bênção quando se trata do resultado de atitudes fiéis pode ser mortal se provocado pela desobediência. Esse fogo consumiu Nadabe e Abiú, ou seja, matou-os. Seus primos os puxaram pelas túnicas e levaram-nos para serem sepultados fora do acampamento (v. 5). A morte deles foi o resulta do de uma ação que não condizia com os procedimentos ordenados pelo Senhor. Deus é zeloso, e não gosta que as pessoas sejam infiéis a Ele.
10.3 — Serei santificado naqueles que se cheguem a mim. Neste contexto, Deus se referia a Arão e seus filhos. Aqueles que estavam mais próximos do Senhor - os que ministravam a Ele e ensinavam às pessoas - tinham a grande responsabilidade de serem cuidadosos com as coisas e os ritos santos. Tiago enfatiza este princípio em sua carta (Tg 3.1). Ao dizer serei glorificado diante de todo o povo, Deus nos forneceu um ótimo conceito para medirmos nossa adoração a Ele. Tudo o que não glorifica Deus não faz parte da verdadeira adoração e não deve ser incluído em nossa vida. Em vez de replicar as palavras do Senhor ditas por Moisés, Arão calou-se. Apesar de o sumo sacerdote estar sofrendo com a súbita morte de seus dois filhos, Arão reconheceu que a atitude deles foi um ato de rebeldia contra Deus. Se tal posicionamento não tivesse sido punido com a morte instantânea, teria se espalhado e corrompido a sagrada adoração de Israel. O luto de Arão pode ter sido intensificado pela lembrança de sua própria desobediência aos princípios divinos, no dia em que este moldou o bezerro de ouro (Ex 32), coisa certamente testemunhada pelos seus filhos. 

10.4 — Tirai vossos irmãos de diante do santuário. Apesar de os sacerdotes serem proibidos de ter contato com cadáveres, o corpo de um irmão era uma exceção a esta regra (Lv 21.1-4). No hebraico, a palavra para irmãos também inclui os primos, como acontece aqui. Assim, Moisés chamou os primos de Arão para levar os mortos, Nadabe e Abiú, para fora do arraial. Sua família apenas começara a executar seus deveres sacerdotais e a desobediência já tinha causado duas mortes. 

10.5 — Levaram-nos... como Moisés tinha dito. Isso significa que o padrão de obediência, inter rompido por Nadabe e Abiú, foi restabelecido. 

10.6,7 — Arão e seus outros filhos foram proibidos de guardar luto pelas mortes porque eles precisavam permanecer em um estado de pureza. Da mesma forma, não podiam fechar os olhos para o pecado de Nadabe e Abiú, pois assim se riam também destruídos, e o povo ficaria sem sacerdotes para interceder por ele junto a Deus. Entretanto, todas as outras pessoas podiam chorar por aqueles que o Senhor destruiu. 
10.6 — Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes. Estes eram os sinais comuns de luto (Ez 24.16,17). 

10.7, 8 — E falou o Senhor a Arão. Esta é a única vez em Levítico que Deus fala com Arão sozinho. 

10.9-11 — O autor não diz se a embriaguez contribuiu para o pecado dos irmãos. Mas, este fator certamente influiria em casos futuros, se os sacerdotes bebessem enquanto executassem seus deveres, coisa que atrairia sobre eles a mesma punição que foi infligida a Nadabe e Abiú. Exercer o ministério perante o altar e ensinar aos israelitas todos os decretos exigiam o pensamento claro e a memória perfeita. O álcool não podia de forma alguma prejudicar o exercício santo dos sacerdotes. 

10.10 — Fazer diferença entre o santo e o profano. Esta distinção foi o objeto das instruções anteriores acerca dos sacrifícios e de seu implemento inicial (capítulos 1—9). Neste sentido, o imundo e o limpo serão apresentados e ensinados nas próximas instruções acerca de animais, doenças, fluidos corporais etc. (capítulos 11— 15). 

10.11-13 — Na época do Antigo Testamento, os sacerdotes eram os principais responsáveis por ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos [de Deus]. Os pais, por sua vez, eram as pessoas encarregadas de ensinar aos seus filhos (Dt 6.6- 9,20- 25). Além de serem designados para transmitir as instruções divinas ao povo, Arão e seus filhos teriam de comer a oferta de manjares no lugar santo, ou seja, dentro do tabernáculo. [Para as instruções a respeito das ofertas de manjares, veja Levítico 2.10.] 

10.12-15 — Moisés tomou cuidado ao repassar as instruções divinas (acerca das porções dos sacerdotes vindas das ofertas), para que estas fossem conduzidas de forma a evitar outra tragédia parecida com a que acontecera. Quando um novo comando era dado, a sua primeira execução tinha uma grande importância simbólica. Os sacrifícios foram oferecidos, e Moisés queria ter a certeza de que os sacerdotes tinham comido as porções que lhes eram destinadas.

10.14 — Lugar limpo era um local que não havia sido poluído por (ou cerimonialmente limpo de) todos os tipos de impureza descritos nos capítulos 11—15. Esta área não ficava especificamente perto do tabernáculo, onde algumas das porções dos sacerdotes tinham de ser comidas, mas presumivelmente era a moradia do sacerdote ou outro lugar puro na parte interna do acampamento (antes de eles chegarem à Terra Prometida) ou dentro da terra (após lá chegarem). Quanto ao comando comereis [...] tu e tuas filhas, o direito das mulheres de comer as porções das ofertas nas famílias dos sacerdotes é descrito de forma mais completa em Levítico 22.10-13. Para informações acerca das ofertas movidas e alçadas, veja Levítico 7.32,33.

10.15 — Moisés reassegurou ao seu irmão que Deus iria permitir que Arão continuasse servindo como sumo sacerdote, apesar do pecado e da morte de seus dois filhos. 

10.16 — Moisés era a pessoa responsável por cuidar para que o pecado de Nadabe e Abiú não fizesse com que outras punições recaíssem sobre Israel. No entanto, quando o profeta buscou o bode da expiação, este já era queimado por Eleazar e Itamar. A carne da oferta pelo pecado, se não fosse pelo próprio sacerdote ou por todo o povo, não deveria ser completamente queimada. A penas sua gordura tinha de ser consumida pelo fogo (Lv 4.26,31,35). Moisés indignou-se grandemente, pois muita coisa já tinha dado errado. Os cultos de adoração estavam sendo conduzidos inadequadamente. O que mais Deus poderia fazer por causa deste outro erro? 

10.17,18 — Os sacerdotes deveriam comer a carne (exceto a gordura) de qualquer oferta pelo pecado cujo sangue não tivesse sido [levado] para dentro do santuário — isto é, de toda oferta que não tinha por objetivo expiar seus próprios pecados (Lv 4.5-7,16-18). Em vez de fazer isso, Eleazar e Itamar queimaram todo o bode da oferta pelo pecado.

10.19 — Moisés falou com Eleazar e Itamar, talvez por respeito a seu irmão mais velho, uma vez que este também deveria ter comido a carne da oferta pelo pecado. Mas Arão respondeu, as sumindo a responsabilidade por sua família, como era o costume na sociedade patriarcal de Israel. Ao dizer tais coisas me sucederam, Arão estava referindo-se às mortes de seus dois filhos mais velhos. Ele não comeu a oferta pela expiação do pecado porque temia as coisas que Deus podia fazer. O irmão de Moisés não estava sendo rebelde, como foram seus filhos no caso da queima do incenso. Arão estava usando o argumento de que, em circunstâncias como a que ele enfrentou aquele dia, Deus preferiria que o sacerdote erras se por precaução do que por presunção. A respos ta de Arão a Moisés mostra que a interpretação da Lei não tinha apenas um lado.

10.20 — E Moisés, ouvindo isto, Arão foi aceito aos seus olhos. A revolta nasce de um coração que não está corretamente direcionado a Deus. Moisés reconheceu que a falha de Arão não foi rebel dia, que seu argumento tinha consistência, e Arão foi perdoado. A primeira grande crise na instituição da adoração de Israel tinha passado.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 

Para a maioria das pessoas, uma igreja é um edifício onde as pessoas se reúnem. Mas nas Escrituras, a palavra refere-se a um grupo de pessoas ―que são chamadas a seguir Jesus Cristo. É importante que entendamos a herança espiritual dessas pessoas especiais para Deus.

Jesus Cristo fundou a Igreja do Novo Testamento, na cidade de Jerusalém na festa bíblica de Pentecostes, cinquenta dias após a Sua ressurreição dentre os mortos.

Entre o momento da Sua ressurreição e a fundação de Sua Igreja, Cristo apareceu aos Seus apóstolos ao longo dos primeiros quarenta dias, ainda esclarecendo-lhes das coisas concernentes à vinda do Reino de Deus  (Atos 1:3). Durante esse tempo, Ele “determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai” (versículo 4). Ele explicou-lhes: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (versículo 8).

Ele inspirou mais tarde o apóstolo Paulo para explicar a importância crucial do recebimento do Espírito Santo no processo de uma pessoa se tornar um membro verdadeiramente convertido de Sua Igreja: “Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto [simbolicamente] por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça” (Romanos 8:9-10).

Através da habitação do Espírito Santo dentro dos cristãos, Jesus Cristo e Deus Pai participam ativamente nas vidas dos cristãos para fortalece-los e inspirá-los na sua obediência e serviço a Deus (Filipenses 2:12-13).

Portanto, a Igreja, o corpo dos crentes transformados espiritualmente, começou quando os apóstolos de Cristo receberam o Espírito Santo, assim como Ele tinha prometido (Atos 2:1-4). O Espírito de Deus instantaneamente mudou-lhes. As inúmeras pessoas que os ouviram perceberam que eles haviam recebido uma inspiração especial e poder de Deus.

Imediatamente, os apóstolos começaram a pregar, para aqueles que estavam reunidos no templo em Jerusalém naquele dia de Pentecostes, dizendo que Jesus de Nazaré era o Messias, há muito tempo aguardado―ou, em grego, o Cristo (Atos 2:36). Eles pediram aos seus ouvintes para arrepender-se e ser batizados em nome de Jesus (versículo 38). Até o final daquele dia cerca de três mil pessoas foram acrescentadas à Igreja (versículo 41).

A Igreja que Jesus havia prometido edificar tinha começado! Seus membros eram pessoas arrependidas que “de bom grado receberam” a verdade de Deus (versículo 41) e foram batizadas (imersos na água)―simbolizando a sua aceitação da morte sacrificial de Cristo para o perdão dos seus pecados, e do enterro e purificação de seus antigos caminhos pecaminosos.

A visão bíblica sobre a Igreja

Ao examinarmos a Igreja que Jesus edificou, vemos como a palavra igreja é usada na Bíblia. Toda igreja e congregação nas Escrituras se refere a pessoas, nunca a um edifício. A Igreja (o Corpo de Cristo) ou a igreja (uma congregação de membros da Igreja) é composta de pessoas chamadas a seguir Jesus Cristo.

O conceito de pessoas se reunindo para aprender os ensinamentos de Deus está integrado nos escritos do Antigo e do Novo Testamento. E está intimamente ligado a um dos Dez Mandamentos, a lei sobre o Sábado.

Durante os tempos de obediência a Deus duma maneira geral, os antigos israelitas se reuniam todos os sábados como uma congregação. O Sábado do sétimo dia (definido na Bíblia como de duração do pôr do sol da  sexta-feira até o pôr do sol sábado) é uma “santa convocação”, uma assembleia sagrada. Deus ordenou que “seis dias obra se fará, mas o sétimo dia será o sábado do descanso, santa convocação” (Levítico 23:3). A Nova Versão Internacional traduz assim o mesmo versículo: “O sétimo dia é sábado, dia de descanso e de reunião sagrada”.

O conceito equivalente―uma congregação de discípulos reunidos para aprender a Palavra de Deus―foi praticado pelos primeiros cristãos. Comentando a respeito disso, em Atos 11:26 (NVI), os apóstolos Barnabé e Saulo (mais conhecido como Paulo) disseram: “Assim, durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos. Em Antioquia, os discípulos [mathetes em grego, que significa aprendizes ou pupilos] foram pela primeira vez chamados cristãos”.

A Igreja, então, é composta de discípulos ou aprendizes de Jesus Cristo que se reúnem para receber as instruções de Deus.

A Bíblia é o livro didático para esses estudantes de Cristo. Paulo explica que “toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa … para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17).

Os professores são os anciãos devidamente nomeados por Jesus Cristo que pregam a Palavra de Deus (Romanos 10:14-152 Timóteo 4:2). Deus os responsabiliza para “maneja[r] bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15) e para servir “de exemplo ao rebanho” (1 Pedro 5:31 Timóteo 3:2-7).

A Igreja, porém, é muito mais do que apenas uma assembleia espiritual de estudantes que se reúnem para receber instruções para seu próprio benefício.

O Povo Especial de Deus

A Igreja de Deus pode ser mais bem descrita como o povo especial de Deus, chamado e escolhido por Ele para receber a salvação (a vida eterna) como filhos de Deus. Sua esperança e futuro estão inseparavelmente ligados ao retorno de Jesus Cristo.

Deus chama―convida―as pessoas de todas as esferas da sociedade para se tornar Seus servos. O apóstolo Paulo, no entanto, observou que os orgulhosos e poderosos raramente se arrependem e se tornam membros da Igreja (1 Coríntios 1:26-29). Eles tendem a ser mais relutantes em abandonar os caminhos pecaminosos do mundo.

Aqueles que, voluntariamente, respondam ao chamado de Deus são selados como Seu povo santo ao receber o Seu Espírito (Efésios 1:13). A Bíblia frequentemente se refere a eles como os santos (o povo santo) ou os justos.

O apóstolo Paulo explicou que “Jesus Cristo, o qual se deu a Si mesmo por nós … e [para] purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:13-14).

O apóstolo Pedro também chama os membros da Igreja a “geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo [de Deus] adquirido … [que] não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1 Pedro 2:9-10). Isso remonta ao papel atribuído por Deus à nação de Israel no Antigo Testamento (ver Êxodo 19:5-6).

Os cristãos são especiais para Deus, no sentido de que são estimados por sua fé e obediência (Efésios 5:2429)―não porque Deus os considera como inerentemente mais dignos do que outros (Romanos 2:113:23).

Como está claro, pelo vínculo com a antiga Israel, a ideia de um povo especial, escolhido para ser servo de Deus, não é exclusiva da era cristã nas Escrituras. Deus inspirou a introdução do conceito nas primeiras páginas da Bíblia―bem antes da existência de Israel.

Desde que criou Adão e Eva, Deus tem trabalhado individualmente com as pessoas. Entre o tempo de nossos primeiros pais e a primeira vinda de Jesus Cristo, Deus chamou e trabalhou com muitos homens e mulheres, incluindo os profetas.

Deus conta os patriarcas e profetas do Antigo Testamento entre o Seu povo especial. Jesus falou de um tempo em que “Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas [estarão] no reino de Deus” (Lucas 13:28). A própria Igreja foi edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Efésios 2:20).

Em Hebreus 11 se explica por que certas pessoas de destaque no Antigo Testamento foram especiais para Deus. Os traços que tinham em comum eram a sua obediência e fé inabalável em seu Criador.

As primeiras raízes da Igreja

A antiga Israel, uma nação descendente do patriarca Abraão, também foi, como já mencionado, o povo santo de Deus. Moisés também disse aos israelitas: “Pois vocês são povo consagrado ao Senhor, o seu Deus. Dentre todos os povos da face da terra, o Senhor os escolheu para serem o seu tesouro pessoal” (Deuteronômio 14:2NVI). Eles eram a “congregação” [ou ‘Igreja’] de Deus (Atos 7:38).

Deus prometeu a Abraão no primeiro livro da Bíblia que ele seria o pai de um povo escolhido e especial.

A Bíblia descreve a relação extraordinária entre Abraão, Cristo e a Igreja. O Novo Testamento começa nos lembrando que Jesus é o descendente do rei Davi de Israel e de Abraão (Mateus 1:1)

Por que Abraão era uma figura tão significante na Bíblia?

Abraão, que viveu quase dois mil anos antes de Jesus Cristo, foi o patriarca do povo de Israel através de seu filho Isaque e seu neto Jacó, cujo nome Deus mudou para Israel. Lemos que Abraão é como o “pai de todos os que creem” (Isaías 51:1-2Romanos 4:111-12). Ele brilha como um exemplo de fé e obediência a Deus. Por causa de sua obediência, Deus lhe fez a promessa―uma sagrada aliança―de que ele seria o pai de uma grande nação (Gênesis 13:1615:517:2-6).

A promessa de Deus a Abraão envolvia muito mais do que a promessa de muitos descendentes. O apóstolo Pedro lembrou aos seus compatriotas judeus da importância da promessa de Deus a Abraão: “Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência [semente] serão benditas todas as famílias da terra” (Atos 3:25Gênesis 22:18ARC).

O apóstolo Paulo explicou que o “Descendente” [semente ou posteridade] prometido por fim, no sentido espiritual, é Jesus Cristo, o Salvador da humanidade: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só:  E ao teu descendente, que é Cristo” (Gálatas 3:16ARA).

Os herdeiros espirituais de Abraão

Somente através de Cristo alguém pode reivindicar a herança eterna prometida à descendência de Abraão: “E, se sois de Cristo, então, [também] sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:29).

Os cristãos, aqueles que compõem a Igreja do Novo Testamento, são os descendentes espirituais de Abraão unidos em um só corpo com o Descendente especial prometido, Jesus Cristo. Eles são os herdeiros da herança eterna prometida a Abraão. Este conceito deve estar claro em nossas mentes para que possamos apreciar plenamente o papel biblicamente definido e autorizado da Igreja que Jesus Cristo edificou.

Alguém poderia perguntar: Será que todos os descendentes físicos de Abraão―todos os descendentes das tribos de Israel―estão incluídos no descendente [semente], que é Cristo e Sua Igreja?

Observe como Jesus lida com esta questão quando confrontado por alguns que, embora descendentes de Abraão, rejeitaram a Jesus como  Messias: “Responderam e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus  disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão”  (João 8:39).

Nem todos os descendentes físicos de Abraão seguiram o seu exemplo de fidelidade e obediência. Paulo explicou: “Tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos [ou filiação, como filhos de Deus], e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas” (Romanos 9:2-4).

Paulo explica que mais é necessário ser contado entre os ‘filhos da promessa’ do que ser fisicamente descendentes de Abraão: “Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão  … Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência [de Abraão]”  (versículos 6-8).

Israel e a circuncisão foram redefinidos

Duas coisas se destacam nestas palavras de Jesus e Paulo. Em primeiro lugar, apenas aqueles que são os ‘filhos da promessa’, aqueles que ‘fazem as obras de Abraão’, são considerados a descendência espiritual de Abraão como membros da Igreja que Jesus edificou. Segundo, os membros da Igreja receberam o status de ser filhos de Deus. Portanto, a Igreja é o “Israel de Deus” (Gálatas 6:16), os herdeiros da salvação.

Paulo explica por que os herdeiros espirituais do Reino de Deus têm precedência sobre os descendentes físicos de Abraão como destinados à salvação: “Porque a circuncisão [o antigo sinal da aliança com os descendentes físicos de Abraão] é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão”  (Romanos 2:25). A desobediência anula o valor da circuncisão física.

“Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como circuncisão? E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará, porventura, a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei?” (Versículos 26-27). As pessoas que são aceitáveis a Deus guardam Suas leis.

“Porque não é judeu [no contexto da herança eterna prometida a Abraão] o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Versículos 28-29).

A conclusão da matéria é que a fé e a obediência de coração, e não o parentesco físico, é que são essenciais para agradar a Deus. Apenas aqueles que compartilham do coração de Abraão―cujo coração está espiritualmente circuncidado (Deuteronômio 30:6)―são os herdeiros das promessas espirituais feitas a Abraão. Por esta razão, a salvação está disponível para as pessoas de todas as nações que estão dispostas a serem circuncidadas no coração. A circuncisão espiritual do coração, não a circuncisão física da carne, é a que identifica os filhos espirituais de Deus.

O povo obediente de Deus

Reafirmando a promessa que fez a Abraão, Deus disse a seu filho Isaque: “Na tua descendência serão benditas todas as nações da terra” (Gênesis 26:4ARA). Veja que Deus o escolheu para esta honra “porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis” (versículo 5).

Atitude de obediência de Abraão, juntamente com sua completa fé em Deus, o distinguiu como amigo de Deus para sempre (2 Crônicas 20:7). Como o apóstolo Tiago afirma: “Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras. Cumpriu-se assim a Escritura que diz: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”, e ele foi chamado amigo de Deus” (Tiago 2:21-23NVI).

As coisas não mudaram. Aquelas que são “pessoas especiais” de Deus ainda acreditam e obedecem a Ele, como fez Abraão. Paulo escreveu à igreja de Corinto sobre as provas da fé: “E para isso vos escrevi também, para por essa prova saber se sois obedientes em tudo” (2 Coríntios 2:9).

Paulo explica a obediência da pessoa, como a de Abraão, deve vir de dentro―da mente e do coração: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo, e estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa  obediência” (2 Coríntios 10:4-6).

O povo de Deus é especial para Ele porque, como Abraão, confia e obedece a Ele de todo coração.

Enxertados em Israel de Deus

Já vimos que Paulo considerava os gentios (não israelitas) na Igreja como judeus espirituais, mesmo que eles não fossem fisicamente de descendência israelita e fossem, literalmente, incircuncisos. Como cristãos, eles se tornaram uma parte integrante do “Israel de Deus” (Gálatas 6:16).

O que torna essa notável relação possível entre os gentios e a Israel espiritual? Paulo escreveu aos gentios convertidos: “Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne … estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto [da comunidade de Israel e das alianças da promessa]” (Efésios 2:11-13).

Em Romanos 11:13-21, Paulo usa a analogia de uma oliveira para representar o povo de Deus (comparar Salmo 52:8128:3) e para explicar como os gentios convertidos podem ser membros do “Israel de Deus”. Ele mostra que os gentios, “sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles [israelitas circuncisos] e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira” (Romanos 11:17ARA).

Paulo mostra claramente que a inclusão que Deus fez dos gentios como Seu povo especial não significa que Ele está favorecendo aos gentios mais que aos israelitas. “Pois, se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ramos naturais!” (versículo 24ARA).

Deus não tem favorito. Nesta analogia, mesmo aqueles que são israelitas por descendência física tem que ser enxertados na árvore―porque foram cortados devido à desobediência. Felizmente, existe uma maneira de ser enxertado de volta―e é o mesmo modo que está disponível para os gentios.

Os judeus e gentios igualmente desfrutam de acesso às promessas de Deus através de Cristo: “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).

O povo santo e especial de Deus, como Abraão, é um povo obediente―escolhidos de todas as nações―que decidiram não viver só de pão, “mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mateus 4:4). Sua confiança em Deus vem do coração e é demonstrada por sua atitude de obediência. O Espírito de Deus opera nessas pessaos para produzir fé e obediência, tornando-as especiais para Deus.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

2 Pedro 3:18 estudos cadvpr.

 Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2 Pedro 3.18)

Cresça na graça – não em uma apenas, mas em todas. Cresça na graça que é a raiz – a fé. Creia nas promessas, com mais firmeza do que já creu até agora. Permita que a fé cresça em plenitude, constância e simplicidade. Cresça também em amor. Suplique a Deus que seu amor se torne prolongado, mais intenso e mais prático, influenciando cada pensamento, palavra e atitude. De modo semelhante, cresça em humildade. Tente humilhar-se e conheça mais da sua insignificância. À medida que você cresce em humildade, procure crescer também em intimidade com Deus, na oração e experimente íntima comunhão com Cristo.

Que o Espírito de Deus o capacite a crescer “no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Aquele que não cresce no conhecimento de Jesus se recusa a ser abençoado. A vida eterna consiste em conhecê-Lo (João 17.3). E prosseguir no conhecimento dele significa crescer em felicidade. Aquele que não almeja conhecer mais a Cristo, ainda não sabe nada sobre Ele. Quem já provou este vinho, terá mais sede dele, pois embora Cristo satisfaça, o apetite de tal pessoa não fica farto, e sim estimulado. Se você conhece o amor de Jesus, então, “como suspira a corça pelas correntes de águas” (Salmos 42.1) assim você suspirará pelo mais profundo do amor dele. Se você não deseja conhece-Lo melhor, então não O ama, pois o amor sempre clama: “Chega mais perto”.

O inferno é a ausência de Cristo; mas a presença dele é o céu. Não descanse, sem antes ter uma progressiva familiaridade com Jesus. Procure conhecer mais a respeito dele, em sua natureza divina, em seu relacionamento humano, em sua obra consumada, em sua morte, em sua ressurreição, em sua presente e gloriosa intercessão, em seu futuro advento real. Permaneça junto à cruz e examine o mistério dos ferimentos de Jesus. Um aumento de amor por Ele e um entendimento mais perfeito do amor dele por nós são alguns dos melhores testes de crescimento na graça.