Tenho chamado de Deus para sua obra, mas minha esposa discorda. O que eu faço?
Sua pretensão é bem mais simplória e definida, focando-se nesse problema prático que assoma os casais das igrejas evangélicas modernas e, quiçá, jogar alguma luz no sentido de orientar aquele que esteja vivendo sob o peso desse dilema.
Que é que se faz quando um homem, líder em algum trabalho na igreja, respeitado pela comunidade, aprovado pelos seus pares, se depara com esse momento? A melhor decisão passa por ambos os cônjuges? Segue ou não o chamado?
Sei que para muitos casais isso é questão resolvida, pois se conhecem desde a adolescência ou algo parecido; cresceram na mesma igreja, na mesma comunidade e um sabe claro e evidente a respeito do chamado ou vocação do outro para a obra de Deus e talvez, isso até tenha influenciado na decisão de um matrimônio.
Mas há muitos casais que se conheceram por variados caminhos e chegaram a igreja pelas mais diversas ocasiões, o que pode dificultar numa tomada de decisão dessas.
Uma grande dificuldade que sempre vai se impor, é a enorme pressão que a sociedade exerce sobre o indivíduo em relação ao futuro. Isso pode causar grande confusão, pois são coisas absolutamente distintas; as expectativas que o mundo tem em relação às pessoas e o chamado de Deus. Portanto, aquele que resolve atender a voz de Deus terá que encarar o fato que suas decisões serão desalinhadas com as expectativas do mundo. “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; (…)” 1 Coríntios 3:19.
Outra questão a considerar é sobre o que sua esposa terá que renunciar com a decisão. Está claro para ela as consequências de uma decisão dessas? Ela tem noção e está minimamente avisada da exposição e privações que porventura pode passar? Será que tomada a posição, no decorrer da caminhada, as “cebolas do Egito” (Números 11:5) não virão à discussão sempre que a situação apertar? Nunca podemos nos esquecer dAquele que nos amou de tal maneira que nos deu seu único filho para que não perecêssemos.
A Bíblia está recheada de exemplos de pessoas que tiveram definido seu chamado e o longo tempo transcorrido até assumirem suas funções. Apenas a título de exemplo, podemos citar Moisés, que teve um período de preparação na convivência com a classe que comandava o Egito e foi tido como um homem de alta notoriedade e conhecimento, depois há o período dele como pastor de ovelhas no deserto, até ouvir a Voz de Deus vindo da sarça que ardia e não se consumia, e por fim, assumir a posição de líder que resgatou o povo hebreu da escravidão no Egito. Encaradas como uma jornada, todas essas etapas foram como um treinamento adequado para a grandiosa tarefa que Deus havia incumbido a Moisés. Quando Deus chama alguém, nunca se trata de um chamado de urgência e atabalhoado, tipo um “freelance”, com marido abandonando esposas, ou vive-versa em prol da causa do Reino. Antes, trata-se de um processo longo, que tem relação com até o seu último segundo de vida nessa terra. É lento e passa pela lapidação de caráter por anos a fio e vai tendo seu propósito revelado no decorrer da caminhada. Quando Deus deu a ordem a Abraão, “Sai-te da tua terra,” (Gênesis 12:1) essa era a única coisa que ele tinha: um ordenamento econômico em detalhes e sem garantia alguma do que ele ganharia com a decisão, unicamente baseado na fé.
O chamado, assim como podemos aprender com os modelos da Bíblia, deve ser encarado de uma perspectiva panorâmica e nunca como um recorte isolado de um período da sua vida. Deve ser encarado como o apóstolo Paulo fala de forma brilhante e poderia até ser escolhido como um epitáfio: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” 2 Timóteo 4:7.
Assim como o cristão deve entrar no casamento esperando uma separação apenas com a morte de um dos cônjuges, a despeito de toda a adversidade que tenham que enfrentar, assim também aquele que assume a decisão de submeter-se ao chamado específico do Mestre, deve encará-lo da mesma forma, como algo superior a si mesmo que vale a pena todo o sacrifício, todas as renúncias e toda a disciplina necessária. Deve sempre com toda sinceridade e pureza de coração poder dizer: “Valeu a pena! Fiz o que estava ao meu alcance, não fui negligente, muito menos covarde”.
Pois o Eterno te dará o tempo, as condições e a estratégia necessárias para tomarem parte juntos, como ceifeiros da seara dEle. Não há motivos para esconder de sua esposa aquilo que começa a crescer e criar raízes profundas em seu coração e vai tomar cada dia mais importância em suas decisões.

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