quinta-feira, 30 de maio de 2019

Quem escreveu a Bíblia?


Quando encontramos um livro em nossas mãos, especialmente se ele quer nos ensinar alguma coisa, é natural nos perguntarmos sobre o autor: "quem é ele?", "Que autoridade ele tem para escrever o que escreve?". Essa atitude reflete nossa mentalidade greco-latina, que também aplicamos à Bíblia. Assim, pensamos que todo livro bíblico (ou mesmo a Bíblia como um todo) tem um "autor", uma personalidade única, que escreveu seu pensamento; que a credibilidade do texto depende da identidade desse único "autor"; que os livros bíblicos nasceram diretamente como textos escritos.

O conceito de um "autor" bíblico
Na verdade, o fato da Bíblia ter sido escrita, na maior parte, em hebraico e ter nascido na região do Oriente Médio da Palestina, deve nos lembrar que é uma expressão do mundo semítico, oriental, um mundo que não conhecia o conceito de "autoria". Esse conceito a civilização grega espalhou mais tarde, a partir do século IV a.C., também no Oriente Médio.
Essa visão vale para os escritos do Antigo Testamento, mas também fundamentalmente para os escritos do Novo Testamento, cujo pano de fundo é sempre palestino.
No hebraico bíblico, o termo usado para se referir ao "autor" é shofer, escriba e significa aquele que escreve, aquele que copia. Na era dos escritos bíblicos, o "autor" era principalmente um copista com a tarefa de colocar por escrito o que originalmente era transmitido apenas oralmente. Os livros bíblicos atuais, portanto, nasceram principalmente de histórias orais ou ensinos escritos posteriormente, e os livros de Isaías, ou Jeremias, apenas para dar um exemplo, são a redação dos ensinamentos orais desses profetas. Para a mentalidade semítica subjacente à Bíblia, que podemos chamar de "mentalidade bíblica", a autoridade de um livro não dependia de quem o "escreve", mas da cadeia ininterrupta de gerações que o ouviam, interpretavam e distribuíam (o que nós chamamos de tradição, e isso vem do latim tradere, isto é, “transmitir”).
No entanto, quem fixou o texto escrito como o conhecemos, interveio de alguma forma também criativamente, com suas faculdades e habilidades de composição, porque se expressou com base no entendimento que seu povo, em sua época, tinha da história da salvação, que é o núcleo central de toda a Escritura. Isto aconteceu especialmente com os Evangelhos, onde os quatro evangelistas contam, cada um com seu estilo, os mesmos episódios ou episódios diferentes do ensino e das atividades de Jesus, levando em conta suas comunidades, para as quais explicavam o que aconteceu. Esta transmissão criativa é certamente o ato de um autor, que não inventa do nada, mas permanece fiel à mensagem que o precedeu.
A Bíblia, portanto, tem múltiplos "autores" desse tipo. Quem quer entender a Bíblia deve perguntar em primeiro lugar "quando", "onde" e "para quem" os livros da Bíblia foram escritos, perguntas que nos ajudam a entender o contexto, que é o ambiente histórico e religioso, as coordenadas geográficas, a linguagem e seus significados. Deste ponto de vista, a Bíblia, em sua atual composição escrita de AT e NT, abrange um período de tempo que vai do sexto século antes de Cristo até o final do primeiro século depois de Cristo, apoiando-se em tradições que têm raízes muito mais antigas.

Deus, primeiro autor da Bíblia
Escrever é um ato de memória, uma maneira de transmitir a história sem deixar que ela se perca no tempo. O conjunto de livros da Bíblia é o relato escrito da experiência que um povo, através dos tempos, fez de Deus, de sua presença e ação na história humana. Através dessa história Deus se revela, falando ao seu povo "em muitas e diversas maneiras" (Hebreus 1,1): é uma revelação.
As gerações que fizeram a bíblia chegar até nós afirma que o próprio Deus é o primeiro autor das Escrituras, que por isso são chamadas de "Santas". Na Bíblia, Deus assumiu a "carne" da palavra escrita, palavra viva e salvadora, porque é o fruto da ação do Espírito divino (2Pedro 1,16-21; 2Timóteo 3,14-17), que "escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria" (Constituição Dei Verbum 11).
1. Ouvindo religiosamente a Palavra de Deus proclamando-a com confiança, faz suas as palavras de S. João: «anunciamo-vos a vida eterna, que estava junto do Pai e nos apareceu: anunciamo-vos o que vimos e ouvimos, para que também vós vivais em comunhão connosco, e a nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo. 1, 2-3). Por isso entende propor a genuína doutrina sobre a Revelação divina e a sua transmissão, para que o mundo inteiro, ouvindo, acredite na mensagem da salvação, acreditando espere, e esperando ame.

2. Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina ( Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível ( Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos ( Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta  revelação realiza-se por meio de acções e palavras ìntimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifesta-se-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultâneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação.

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