1.2,3 — O indiciamento contra Judá consiste de duas partes: (1) Isaías convoca céu e terra a testemunhar o julgamento (v. 2); (2) o Senhor, como Autor da ação, indicia a nação de Judá, aqui chamada Israel (v. 2,3).
1.2 — Moisés, que mediara o pacto de Deus com Israel no Sinai, convocou os céus e a terra (ou seja, toda a criação) a testemunhar que Ele havia alertado os israelitas de que seriam julgados por sua desobediência (Dt 4.24; 30.19; 31.28). Assim como Jacó e Labão fizeram de uma pilha de pedras uma testemunha do acordo entre ambos (Gn 31.43-55), também a criação é considerada uma testemunha adequada para o caso entre Deus e Israel. O relacionamento entre Ele e Seu povo é pessoal. Ele compara Israel a filhos ingratos (Is 63.8; Êx 4-22; Os 11.1). O termo hebraico traduzido por prevaricaram significa recusar-se a se submeter à autoridade e ao poder de alguém (Is 63.10; 66.24).
1.3 — Até mesmo o boi e o jumento reconhecem o dono que os alimenta e, portanto, não se rebelam contra ele. Mas Israel, os filhos que o próprio Deus criara e exalçara (v. 2), rebelou-se contra Ele. A rebelião de Judá é incompreensível e imperdoável.
1.4-9 — A acusação de Isaías contra Judá consiste de três partes: (1) Judá se rebelou (v. 4); (2) Judá não se arrepende, apesar da disciplina (v. 5-8); (3) só a graça de Deus poupará da aniquilação uma pequena parcela de povo (v. 9).
1.4 — Nação pecadora. Embora Deus aja como um Pai para o povo, este prefere o pecado (Is 5.1-7). O Santo de Israel é o título favorito de Isaías para Deus. O Senhor é santo porque existe profunda diferença entre Ele e toda a humanidade (Is 40.25). Apenas Ele é o Criador (Is 45.11,12) exaltado nos céus (Is 6.1-3) e sem pecado (Is 6.4-7). Só Ele é o Juiz perfeito (v. 20) e Protetor dos fiéis (Is 10.20; 43.3). Ainda assim, a expressão de Israel afirma que o Santo mantém um relacionamento com Seu povo (SI 40.1).
1.5-8 — Primeiro Isaías compara a aflição do povo a um soldado muito ferido (v. 5,6) e depois descreve a devastação do território em consequência da guerra (v. 7,8).
1.5 — Isaías responde à própria pergunta indignada — Por que seríeis ainda castigados? O povo apenas se tornará mais rebelde. Orar mais só fará endurecer o coração deles (Is 6.9,10). Em Isaías 53.4-6, o profeta revela a bondosa resposta de Deus ao coração duro do povo. O Senhor açoitará Seu Servo no lugar dos pecadores (Is 53.4-6). Um amor assim conquista até o maior dos rebeldes (Rm 5.8).
1.6,7 — Do pé à cabeça significa tudo e todos. As feridas de Judá não estão espremidas nem ligadas (com curativos), e nenhuma está amolecida, porque o povo não quer se arrepender.
1.8 — A filha de Sião é uma bela personificação de Jerusalém (Is 37.22; 60.14). Na verdade, a preposição de nessa expressão induz um pouco ao erro de interpretação. Filha de Sião parece indicar que Sião tem uma filha, mas Sião é a filha — filha do Senhor. Já as expressões cabana na vinha e choupana no pepinal referem-se aos barracos que serviam de abrigo a fazendeiros e vigilantes durante a colheita.
1.9-17 — O convite ao arrependimento divide-se em três partes: (1) apelo de Isaías aos reis e ao povo de Jerusalém para que ouçam a orientação do Senhor (v. 9,10); (2) dura condenação e rejeição, por parte de Deus, à adoração formal e de aparências prestada pelo povo (v. 11-17); (3) convite de Deus ao povo, para que este se arrependa e pratique a justiça para que se salvem da morte (v. 18-20).
1.9 — O título Senhor dos Exércitos refere-se ao domínio de Deus sobre todos os poderes do céu e da terra e sobre o exército angelical. Esse título é um dos preferidos de Isaías, porque diz respeito à santidade e à supremacia de Deus. A sobrevivência de Judá não se deverá, em última análise, à fraqueza do inimigo, mas ao poder de Deus. Embora decidido a punir Seu povo pecador, Ele preservará um remanescente (Is 6.13; 10.20; 11.16) porque é fiel à promessa que fez a Abraão (Gn 22.16-18; Êx 34.6,7; Mq 7.19,20; Rm 9.29; 11.5). A palavra remanescente significa basicamente sobrevivente (Nm 21.35; Js 8.22). Sodoma e Gomorra eram vistas como exemplo máximo de corrupção. Dizer que Jerusalém se tomou como essas cidades é uma acusação fortíssima (Ap 11.8). Em outras passagens da Bíblia, ambos os nomes são usados como símbolos do juízo final de Deus sobre os pecadores (Am 4-11; Mt 10.15; 2 Pe 2.6).
1.10-15 — Deus deseja sacrifícios, mas não de quem lhe desobedece e maltrata o próximo, ainda que o sacrifício apresentado seja o melhor. Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, disse Samuel, um dos primeiros profetas (1 Sm 15.22,23). Os profetas posteriores concordaram (Os 6.6; Am 4.4; Mq 6.6-8), e também o Senhor Jesus (Mt 23.23). Deus julga não apenas os atos públicos de devoção realizados em público, mas também, principalmente, o propósito de nosso coração (1 Co 4.5).
1.13-15 — Temos aqui uma reprovação item por item das festas sagradas observadas pelo povo judeu: a festa da Lua Nova (Nm 28.11-15), os sábados (Êx 31.14-17) e outras solenidades (Êx 23.14-17), festivais realizados debalde, porque o povo não os celebrava por amor a Deus.
1.14 — Deus ironiza as festividades, dizendo que elas são vossas (e não dele) festas da lua nova, pois o povo deturpou a intenção das leis cerimoniais de Deus, que era a obediência ao Senhor em amor e com entendimento. [Os israelitas observavam essas leis apenas como rituais; algo externo, sem significado profundo].
1.15 — Deus não vê com bons olhos as mãos estendidas com fervor daqueles que oprimem o próximo, assim como não ouve suas inúmeras orações (Tg 4-1-6).
1.16-20 — O convite ao arrependimento está dividido em três partes: (1) o povo deve se purificar, praticando a justiça, ajudando o oprimido e defendendo o direito do órfão (Tg 1.27) e da viúva; (2) Deus em pessoa purificará o povo se este aceitar essa condição; (3) como Juiz perfeito, Deus reprova o perverso e defende o inocente (Is 11.4).
1.17,18 — O verbo traduzido como argui-me tem implicações legais; evoca a ideia de uma pessoa arguida em juízo. Não adianta buscar um meio-termo: o povo precisa concordar com Deus sobre a extensão e gravidade de seu pecado. Deus não inocenta Seu povo, mas está disposto a perdoar-lhe, caso se arrependa e volte para Ele. Deus oferece-nos esse mesmo perdão. Ele não nega nossa tendência de pecar, mas oferece a nós o perdão por meio do preço que o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, com Sua morte, pagou pela remissão dos pecados da humanidade.
A expressão diz o Senhor sugere uma oferta bondosa feita repetidas vezes por uma instância superior. A escarlata evoca a imagem de mãos cheias de sangue (v. 15). A graça e o poder de Deus podem tornar as manchas de sangue brancas como a neve (Rm 3.21-26). As palavras escarlata e brancos também sugerem a imagem de vestes sujas (Is 64-6) que, na Antiguidade, não podiam mais ser limpas (quer dizer, até ficarem totalmente brancas). Mas Deus é capaz de nos purificar e, ainda assim, fazer valer Sua Justiça, porque Jesus morreu pelos pecadores (Rm 3.21-26).
1.19, 20 — A oferta de Deus tem sua outra face. Se os pecadores não se arrependerem, em vez da promessa: comereis o bem desta terra (Is 3.10), valerá a ameaça: sereis devorados à espada. A promessa ou a ameaça se cumprirá, pois foi o S e n h o r quem as declarou. Aqui, o verbo disse indica finalidade (compare com o verbo diz, no v.18). Se por um lado Deus manteve Sua bondosa oferta por um longo período, por outro foi a única oferta que lhes fez. O povo não pode regatear o acordo com Ele (Is 40.5; 55.11).
1.21-31 — Nesses versículos, Deus declara a intenção de purificar Israel. O anúncio está dividido em duas partes: (1) predições de juízo (v. 21-26); (2) execução da sentença de Deus (v. 27-31). O propósito de Deus não é destruir Judá, e sim purificá-la de toda injustiça social (v. 25,26)e resgatá-la da idolatria (v. 27-31). A idolatria e a injustiça são inseparáveis. O povo que deixa de confiar no Deus amoroso e justo começa a oprimir os pobres e indefesos (Jr 23.13,14; Os 4.1-14; Am 2.6-8).
1.22,23 — A prata e o vinho desqualificados representam aqui os reis injustos de Jerusalém.
1.24,25 — Foi a mão de Deus que libertou Israel do Egito. Agora essa mesma mão será contra o povo, para exercer juízo. 1.26 — O objetivo de Deus para Jerusalém é torná-la uma cidade de justiça, na qual o Senhor seja adorado fielmente e para sempre.
1.27,28 — A palavra remida, em hebraico, significa resgatada ou pessoa libertada da posse de outra por meio do pagamento de determinada quantia. Os que voltam para Sião, depois de abandonar os ídolos e a injustiça, estão livres do pecado e do juízo vindouro. Por fim, como todo pecador perdoado, a justiça lhe será imputada por meio de Jesus Cristo e promovida pelo Espírito Santo. É claro que essas verdades ficam claras apenas no Novo Testamento. O juízo passa, mas a beleza de Sião nunca passará.
1.29 — Os idólatras ficarão envergonhados porque os carvalhos e os jardins consagrados aos rituais de fertilidade e de adoração aos ídolos não conseguirão salvá-los quando o juízo for executado (Is 65.3).
1.30,31 — O carvalho aqui representa tanto a árvore consagrada a ídolos (v. 29) quanto todo rei forte e dominador de Israel. Sua obra talvez seja uma referência à injustiça dos tiranos de Israel (v. 23), que se opunha à obra piedosa do Senhor (Is 5.12). Ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague. Deus purificará Sua criação dos orgulhosos por obra de Seu juízo benigno e depurador.